Por Sarah Menezes
Uma garota normal, na verdade uma menina-mulher: no auge de seus 22 anos. Virginiana convicta, tímida, perfeccionista, sem muitos amigos e cheia de esperança na vida. Buscava a felicidade e a libertação da casa dos pais. Lá, ela se sentia reprimida e impossibilitada de fazer suas vontades. Assim era o mundinho de Tatiana.
Dentro da família nunca foi a mais bela,media 1,55 m, pesava 42 kg, cabelos quase sempre presos em um rabo-de-cavalo. Longos e ondulados eram mesclados em mexas loiras, destaque para o visual. Não tinha nada que chamasse muita atenção, era recatada, porém de personalidade forte.
As brigas com seu pai eram constantes. Ele sempre lhe fazia inúmeras proibições, à ela e às suas irmãs, por isso todas desejavam casar para saírem logo debaixo das asas do pai conservador. As duas filhas mais velhas conseguiram isso, uniram-se aos seus parceiros e constituíram a própria família, e Tatiana, ainda mais nova, continuou ali, presa, sonhando com o dia que teria sua liberdade.
Com o caráter e seriedade de mulher, e a inocência e timidez de uma menina, Tati (como todos a chamava), começou a trabalhar, tornando-se um pouco mais independente. Passou por alguns empregos, começou dois cursos na faculdade e nenhum foi concluído, teve alguns romances, uns mais sérios, outros só por curtição, mas mesmo tendo uma vida comum ela não estava satisfeita. Queria ter a liberdade de fazer suas próprias escolhas e segui-las, sem repressões ou proibições do pai severo, no entanto não tinha encontrado ninguém que se dispusesse a casar para ela poder se ver livre do inferno que tanto a incomodava. Sua busca era incessante, mas, até o momento, em vão.
Certo dia estava em casa, ajudando sua mãe com os a fazeres domésticos, quando sua irmã Lúcia, o marido Walter e os filhos pequeninos apareceram para uma visita. Conversa vai, conversa vem, Walter falava empolgado de sua nova loja no shopping, contava como andavam prósperos os negócios, e planos que fazia para o crescimento de suas empresas. Foi quando ele teve uma brilhante ideia, por saber que Tatiana estava desempregada e sem atividade alguma, resolveu dar uma chance a ela, fez o convite para que a garota fosse vendedora em uma das suas lojas de sapato. Tati, é claro, aceitou a proposta, visando sempre sua independência.
Tatiana começou o seu trabalho. Atenta aos clientes, fazia com eficiência tudo o que lhe era mandado. Ela trabalhava na loja em que Walter permanecia durante todo o dia. Ele preferiu assim para analisar de perto o desempenho da garota. Tati ia bem, nada extraordinário, que surpreendesse seu cunhado. Não dava muitos lucros, mas também não dava despesas, por isso Walter decidiu ajudá-la. Aconselhava ela a voltar aos estudos. Mostrava os pontos, que na opinião dele, ela precisava melhorar, entre outras coisas. Ao começar a seguir as instruções, Tatiana percebeu as coisas dando cada vez mais certo.
Apesar de estar amadurecendo, ainda tinha pensamentos e confusões de uma garota de 15 anos. Certo dia ela percebe que se apaixonou loucamente pelo cunhado. Decide então manter esse sentimento dentro de si, pois era algo incabível dentro da sociedade. Numa manhã de quinta-feira, Tati começava sua jornada de trabalho, e como na loja ainda não tinha chegado nenhum cliente resolveu acessar o bate-papo online.
O cunhado estava on e foi falar com ela. Isso já era de costume, o que não foi normal foi o rumo que a conversa tomou. Walter começou a fazer perguntas sobre os relacionamentos da garota, indagava sobre seus gostos sexuais, e Tatiana, sem saber como reagir, apenas respondia as perguntas. O diálogo começou a esquentar, Walter atiçou o lado mulher de sua cunhada. Tatiana, apaixonada pelo marido da irmã, deixou as coisas acontecerem. Queria desfrutar um pouco dos prazeres da vida.
A partir de então, os dois começaram um relacionamento proibido, no qual ele queria apenas satisfazer a sua fantasia de se envolver com a “cunhadinha" que sempre leu em contos eróticos, e ela, saciar aquele sentimento avassalador que a consumia.
Foram três longos meses em que Tatiana viveu o melhor romance de sua vida. Estava deslumbrada, enquanto Walter já havia satisfeito todas as sacanagens que passavam pela sua cabeça, não via mais interesse em prosseguir com o relacionamento, decidindo colocar um ponto final na história dos dois. A reação de Tati perante a notícia do fim de tudo surpreendeu o cunhado. No primeiro instante, ela não entendeu o que estava acontecendo, depois se descontrolou e começou a pedir incessantemente para que ele não acabasse com tudo. Em seguida teve uma crise nervosa, se debatia pelo chão e teve que ser levada as pressas para o hospital.
A desculpa que inventaram para o ataque de nervos de Tatiana foi uma suposta briga com uma cliente, e ninguém duvidou. Walter ficou assustado, decidiu conversar sério e definitivamente terminar com uma história que agora ele percebia que não deveria ter começado.
Na primeira oportunidade o cunhado foi falar com Tati. Tentou entrar no assunto aos poucos, mostrando que aquilo tudo não terminaria bem se não acabasse por ali. Tatiana sentiu-se usada, e com raiva de Walter, não queria aceitar ser abandonada, e não concordava com nada que ele falava, mas sem pensar duas vezes o cunhado pôs um fim em tudo, virou as costas e foi embora deixando agora uma mulher-menina aos prantos.
Enfurecida e desnorteada Tatiana contou tudo aos pais, na tentativa de se vingar de Walter. O pai, incompreensível, a espanca e expulsa de casa. Tatiana vai embora e a primeira coisa que veio à mente foi ir até a casa de Lúcia, sua irmã, e lhe contar tudo. Sem nenhum remorso ela dá detalhes à irmã. Percebeu então que havia passado de todos os limites, partiu sem rumo.
A esposa de Walter não conseguiu acreditar no que acabara de ouvir da própria irmã, uma dupla traição por parte de pessoas que ela amava incondicionalmente. Tentou conversar com seu marido, buscando uma razão consistente para tudo isso, queria ouvir que tudo aquilo era mentira, mas Walter não teve a coragem de negar, e assim o mundo dela desmoronou.
Na madrugada daquele doloroso dia, Lúcia se jogou da janela do décimo terceiro andar e não sobreviveu, deixando para Walter, apenas a dor da perda da amada, o remorso e seus dois filhos para ele criar.
E Tatiana? Essa já ninguém sabia onde estava, nem ela mesma, entretanto, finalmente conseguiu o que queria: sair de casa. Enlouqueceu. Viveu pelas ruas, dormindo de albergue em albergue, até o dia em que ela adormeceu.
E não acordou mais.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
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