segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A vida começa aos 30

Por Mônica Salmazo

Parece que hoje tudo é motivo para falar em dinheiro ou tempo. Dois fatores essenciais para quem deseja ter uma vida sossegada nos dias atuais.
Mas será que tudo gira em torno disso? Tudo gira em ganhar um dinheirinho e investir? Para todos os lados as pessoas falam em investir, até mesmo os jovens. Cada vez mais aumenta o número de jovens preocupados com o futuro, que juntam um dinheirinho e começam a investir.
A educação que se adquire dentro de casa é fundamental quando o tema surge, geralmente adolescentes preocupados com o futuro tem pais que falam sobre o assunto em casa. Os maiores investidores tem os pais como exemplo, e ver jovens discutindo sobre ações já não é coisa de outro mundo.
O mercado é tão extenso que quando decide começar, a maioria das pessoas se perdem com tantas opções. Investir em empresas privadas ou em títulos públicos? Taxas e mais taxas e mais taxas e cada vez mais taxas. Parece ser resistente o número de informações que insistem apenas em avançar. Livros sobre como cuidar do dinheiro, como investir dinheiro, como conseguir dinheiro e investir no tempo, organizar tempo, planejar seu tempo para ganhar mais dinheiro.
Investir em títulos do Banco Itaú ou Banif, do Socopa ou Spinelli, investir talvez nos Prefixados (LTN-NTN-F) ou indexados ao IPCA (NTN-B), atrelados à taxa Selic (LFT) ou indexados ao IGP-M (NTN-C). As informações são tantas que confunde a cabeça do novo investidor*.
Pensar demais no tempo é outra preocupação. O dia parece durar 36 horas e questões urgentes aparecem o dia inteiro. Falta de planejamento, para isso podemos ler o que fazer com o tempo, o tempo é precioso, ganhe mais administrando seu tempo, o tempo é seu melhor amigo, o tempo, o tempo, o tempo é tudo o que temos e precisamos sempre planejá-lo para que talvez ele passe a ser as velhas 24 horas da época dos nossos avós.
Já acabou o tempo que vivíamos de amor, que as aventuras eram permitidas, que o normal era casar e ter filhos jovem. A vida só começa depois dos 30, quando já gastamos a nossa juventude administrando o futuro, nos certificando que ao chegar nessa idade vamos ter uma vida tranquila, com conforto, com tempo, com dinheiro.
É sufocante! Muitas vezes me pego pensando no que será de mim se chegar aos 30 e não tiver tudo isso.
O mundo está criando pessoas estranhas. O mundo pede todas as habilidades imagináveis para preencher um cargo muitas vezes simples, depois de exigir que cada pessoa se especializasse em algo (especialista em planejamento financeiro de empresas médias do ramo agroindustrial, especialista em história do Brasil período colonial, especialista em limpar o baldinho de lixo do banheiro, especialista em servir batatas fritas palito, especialista em arrumar o broche do terno de marca específica), após toda essas exigências agora o assunto são os especialistas "gerais".
Agora temos que ser GERAIS, temos que saber colocar o broche e servir batatas, temos que saber história e sobre investimentos, saber de física avançada, de economia doméstica, saber escrever teses acadêmicas e reciclar o material em casa. Responder a todos sobre tudo.
Isso sufoca, sufoca quem está no mercado, quem está fora dele, quem quer entrar e quem quer sair, sufoca a família, os colegas, sufoca a sociedade. Daqui alguns anos as crianças vão nascer com seu planejamento de marketing pessoal construído e falando 10 idiomas.
Não tem como reverter este processo, a globalização tomou conta. Eu, como jovem, esperava ao menos que me ensinassem isso, me ensinassem a fazer meus planos, me ensinassem na escola que eu devo saber e o que eu devo fazer, por que não me disseram que eu deveria saber de tudo senão eu vou ser pobre?
Educação básica é coisa do passado, a educação tem que ser ultra mega hiper avançada e, dessa forma, TALVEZ, você consiga um emprego, TALVEZ consiga tempo, TALVEZ consiga dinheiro, TALVEZ consiga uma família, e TALVEZ consiga começar a viver aos 30.