segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Vigança

Por Maria Gabriela Brito

Ela voltou para casa chorando de tanta raiva. A mãe estava revoltada. “Como um menino pode grudar chiclete no cabelo da minha filha?”. Ela tentava acalmar a menina que não parava de chorar um minuto. A situação piorou quando ficou sabendo que ia ter que cortar os cabelos longos para sua idade.
- Chanel não mãeeeeee! Não queroooooo, não querooooo! Eu não vouuu! – esgoelou a menina.
- Mas você prefere ficar com chiclete grudado no cabelo?
- Prefiro!
A mãe acabou convencendo-a de que a melhor solução era cortar o cabelo. O corte caiu muito bem para o rostinho infantil, e combinava mais com seus apenas oito anos. Ela também gostou. Até que estava se divertindo com toda aquela história de ser vítima, mas não queria que ninguém soubesse.
Na verdade ela tinha um plano. Aquele menino não ia ficar impune nunca! Pensou numa armação mirabolante para infernizar a vida dele e colocou em prática no outro dia.
- Professora! O Igor cortou o meu cabelo!
E desabava em lágrimas.
A professora pegava Igor e o levava direto para a diretoria toda vez que ela inventava alguma coisa e colocava a culpa nele. Foi assim até eles completarem 14 anos. Foi então que Igor precisou mudar de escola. Os dois nunca mais se viram, ela ficou satisfeita porque finalmente havia se livrado dele e completado sua vingança.
Anos se passaram. Ela entrou para a faculdade e a última coisa que passava pela sua cabeça era o Igor. O coitadinho sofreu na mão dela. E ela fez isso com todos os outros meninos, rapazes e homens que algum dia fizeram alguma coisa que ela não havia gostado. Ela ficou desse jeito por causa dele. Estava sempre na defensiva.
Completou a faculdade, tinha um trabalho estável e nenhum namorado. Nada daquilo fazia diferença para ela. Alguns casinhos básicos de vez em quando, nada demais. Até que conheceu ele, lindo, alto, moreno, sorriso encantador. Ele a fez esquecer toda a raiva que tinha acumulada do sexo oposto desde seus oito anos. Era maduro, tinha um bom emprego, era perfeito.
Tudo que ela não havia procurado a vida inteira. Ela pensava de onde ele havia saído. Mas ele sabia muito bem quem era ela. Aos 14 anos foi expulso da escola, nenhuma outra particular quis aceitá-lo. Começou em uma estadual, mas não foi muito bem vindo. Não fez nenhum amigo. Ele teve que mudar de cidade, começou uma nova vida, e depois decidiu voltar.
Agora eles estavam juntos, e ela encantada por ele. Era sua chance de vingança. Almoçavam juntos quase todos os dias, e ela ficava maravilhada com a conversa dele. Era bom demais para ser verdade. Neste dia em especial, em meio aos assuntos animados, ele pediu licença para ir ao banheiro. Ao sair deu-lhe um beijo carinhoso e acariciou o longo e liso cabelo dela.
Não voltou mais. Ela começou a estranhar a demora. Levantou-se e foi ao banheiro também. Quando se olhou no espelho reparou em algo grudento e colorido espalhado pelo cabelo. Era chiclete. Foi ai que ela se lembrou dele. “Maldito!”, pensou. Saiu dali direto para o cabeleireiro, onde fez um chanel igual aquele de quando tinha oito anos. Prometeu que encontraria ele e pediria revanche. Ele por outro lado foi embora, achando que finalmente tinha se vingado.