Por Sarah Menezes
Os olhos se abrem, e nesse momento Luciano sente uma forte dor na cabeça, como se ela estivesse sendo martelada e fincada por um prego enorme. Ele tenta se concentrar para aliviar a dor, começa a reparar no quarto escuro, que era composto por mais três camas, uma ao lado da outra, todas vazias.
O silêncio penetrou em sua, e em um piscar de olhos ele se deu conta que estava preso por um pano branco, que imobilizava seus braços. Começou a se debater, a lutar para se livrar daquilo, e de repente percebeu que não conhecia o lugar onde estava. E com os pensamentos fervilhando não conseguiu entender nada. Aos poucos foi adormecendo por causa do efeito do sedativo que usaram para tranqüilizá-lo.
Do lado de fora do quarto estavam Paulo e Isabel, pais de Luciano, conversando com a equipe médica da clínica para pessoas com transtornos mentais. Ficaram ali à espera de notícias do filho e para receber orientações de como deveriam agir a partir daquele momento, pois haviam acabado de internar seu filho por acreditarem que a saúde mental dele não estava boa.
Luciano, em outras oportunidades, tinha mostrado total descontrole ao tentar asfixiar a irmãzinha em uma briga, ao agredir a mãe, dando-lhe murro e ponta-pé em uma discussão, e ao ameaçar o pai com um canivete por não aceitar a proibição de pegar o carro, já que na semana anterior havia batido o veículo após uma briga com a namorada Daniela.
Mas o jovem rapaz de 23 anos extrapolou todos os limites quando sua namorada resolveu por um ponto final no romance dos dois, revelando que não agüentava mais seus descontroles e que estava apaixonada por outro. Luciano perdeu todo o senso, batendo em Daniela até ela ficar toda machucada e inconsciente. Quando viu o que tinha feito começou a berrar e a correr pelas movimentadas ruas de São Paulo. Gritava o nome da amada e coisas sem sentido. Chegou em casa e foi direto para o armário na cozinha onde se encontravam alguns venenos. Queria dar um fim em sua loucura, descontrole e dor. Mas sua mãe chegou a tempo de impedi-lo, mas vendo-o naquela situação deprimente mais uma vez, optou por interná-lo.
Quando Luciano recobrou totalmente a consciência e já não estava mais sob efeito do sedativo, percebeu que se encontrava numa clínica para loucos, pois dentro de seu quarto havia mais três pessoas, um que segurava um chaveiro na mão, murmurava coisas incompreensíveis e soltava saliva pelos cantos da boca, o outro se mantinha deitado e quieto na cama, com os olhos arregalados e fixos em um crucifixo pendurado na parede, e o último estava ao seu lado, cutucando-o e perguntando repetitivamente qual era o nome de Luciano.
Sua primeira intenção foi fugir daquele lugar, pois não aceitava estar ali. Achou todo o seu descontrole natural, pois era perdidamente apaixonado por Daniela. Mas com o passar dos dias Luciano começou a compreender que estava fazendo mal a todos ao seu redor e a ele mesmo, pois não conseguia encontrar paz. E ali, dentro daquele lugar onde qualquer um teme estar um dia, ele se sentiu tranquilo. Criou uma admiração e respeito por aqueles que eram tão diferentes, e soube que ali seria seu lugar para sempre, estando curado ou não.
Luciano seguiu o tratamento corretamente, tomava os remédios, freqüentava as consultas com o psiquiatra, participava dos cursos, eventos e de todas as atividades propostas pela clínica, e se sentia inteiramente bem e confortável quando estava em companhia dos outros pacientes.
Depois de nove meses, o filho de Paulo e Isabel ganhou alta da clínica e eles foram até lá buscá-lo. A despedida para Luciano foi muito bonita e cheia de chororô pela falta que sentiriam dele.
Dentro do carro Luciano segui quieto por uma boa parte do caminho até sua casa. Seus pais não paravam de indagá-lo. Eram perguntas sobre o presente futuro e passado. Eram cobranças do que viria de bom dali para frente. E em um subto ataque de nervosismo o jovem rapaz pula para o banco da frente e começa a se debater com seus pais, sem peceber que estavam na avenida mais movimentada da cidade. Paulo perde o controle e entra na frente de outro automóvel, que em alta velocidade não consegue frear e bate. Pai mãe e filho, mortos.