sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tudo em Família


Por Sarah Menezes   
          Em meio à estrutura familiar um tanto quanto confusa, Priscila cresceu uma menina recatada, séria, sem aquele brilho que a simpatia trás. No entanto, sua doçura, inteligência e esforço sempre despertaram admirações alheias. Além de ser dona de uma beleza invejável.
            Filha de pais separados, a jovem garota de 23 anos foi criada com a mãe Ana Cristina e a irmã Thaís que, por sua vez, é irmã de Priscila apenas pela parte materna. Priscila tem mais 3 irmãos e Thaís mais 2 irmãos. São filhas únicas, mas com uma penca de irmãos. Um rolo que até Deus se confunde na hora de tentar entender.
            Apesar de não correr nas veias 100% do mesmo sangue, Priscila e Thaís cresceram muito unidas. A afinidade entre as duas sempre foi algo admirável. Na cabeça delas, quando o assunto é irmandade a primeira e única pessoa que vem a mente de uma, é a outra. Não que não gostem ou desconsiderem os outros irmãos, mas no fundo dos corações das duas, somente elas que são parte da mesma família (dentro de casa), afinal a vida inteira sempre foi Ana Cristina, Priscila e Thaís. Só. Mais ninguém participava dessa família que, por sinal, era muito unida.
            Mesmo não sendo criadas com os pais, Ana Cristina sempre fez questão que suas filhas mantivessem um contato muito próximo com eles. Passavam alguns finais de semana em companhia dos irmãos, pai e madrasta. Em festas e datas comemorativas as famílias sempre se encontravam e os irmãos se misturavam. Nesse momento ficava difícil até para Priscila e Thaís distinguirem quem era irmão de quem.
            Nascidas e criadas no interior do Paraná, foram para São Paulo ainda meninas. Apesar de deixar pai e irmãos na cidade natal, elas nunca os abandonaram, passavam todas as férias com eles. Priscila se sentia tão à vontade na casa do pai de Thaís quanto Thaís na casa do pai de Priscila e, por isso, passavam juntas às vezes uma temporada na casa do pai de uma ou de outra.
            Com a adolescência e responsabilidades chegando, as irmãs perderam um pouco o contato uma com a família da outra. Apesar de sempre permanecerem unidas o convívio com pai e irmãos uma da outra foi ficando cada vez mais escasso. A infância e as histórias vividas juntas trataram de ficar na memória.
            Priscila estava se formando e, como era de se esperar, na lista de convidados apareciam o pai e irmãos de Thaís. Super lisonjeados, a família compareceu em peso, não faltou ninguém para prestigiar aquela menininha tímida, recatada, de poucas palavras e inteligentíssima, que agora tinha virado uma mulher linda, ainda séria e reservada, porém muito atraente.
            Com a correria das festas e eventos, Priscila só teve oportunidade de encontrar todos os seus convidados no baile. Lá ela reencontra o pai e os irmãos de Thaís após 4 anos sem vê-los e, para sua surpresa, Leonardo (o irmão mais velho de Thaís) está irresistivelmente lindo. Ela não conseguiu entender o que passou dentro de si quando reencontrou o rapaz, mas soube que ele mexeu com ela. Mesmo assim, por causa de sua timidez e seriedade, não manifestou nenhuma reação.
            O que Priscila não sabia era que o mesmo havia acontecido com Leonardo ao vê-la. Porém, como um bom galanteador e cheio de atitude, não pensou duas vezes antes de tentar se reaproximar da bela moça que, em um passado não muito distante, era considerada como irmã pra ele.
            Leonardo chegou com assuntos do passado, depois começou a questionar sobre o presente e futuro de Priscila. Uma gostosa conversa se desdobrava quando Priscila lembrou-se de que era sua festa de formatura e, portanto, deveria dar atenção à todos seus convidados.
            No dia seguinte todos partiram de viagem e as únicas palavras que trocaram foi um: - Adeus, até mais. Entre olhos tristes e coração apertado. A vontade de Leonardo era de envolvê-la nos braços e dizer o quanto ela havia mexido com ele, o quanto ela faria falta mesmo apesar de poucos minutos de conversa que mudaram-no.
            Leonardo estava apaixonado, perdidamente encantado por Priscila, então decidiu desabafar e pedir ajuda para a irmã. Ao contar o que estava acontecendo, Thaís parecia não acreditar nas palavras que saíam da boca do irmão. Ficou confusa, começou a imaginar como seria se seus irmãos ficassem juntos. Ela acabaria sendo irmã e cunhada dos dois ao mesmo tempo. Que situção!
            Mas por fim Thaís se livrou de preconceitos e hesitações, afinal, qual era o problema dos dois ficarem juntos se biologicamente não eram nada um do outro? Criou coragem e foi ter com a irmã uma conversa séria e sincera, contando a ela tudo o que Leonardo havia lhe dito. Priscila entrou em choque, não imaginava que a paixão era correspondida. Seu coração acelerado e a queda de pressão denunciavam um ar pálido, gélido e confuso. Não sabia se explodia de felicidade ou de tristeza. Era difícil decidir quando estamos em uma situação como essa.
Por fim Priscila optou por seguir sua moral, isso ia contra seus princípios éticos, mesmo que isso significasse nunca ter a oportunidade de ser feliz com seu amado. Apesar da insistência de Thaís ao tentar convencer a irmã a ficar com Leonardo, Priscila estava irredutível e decidida, não ficaria com o irmão de sua irmã jamais.
            Decepcionado, Leonardo passa a perder as esperanças. Tenta interessar-se por outras mulheres, mas nenhuma mexe com ele, nenhuma é tão dedicada, delicada e graciosamente chata como Priscila. Não sabia o que fazer com aquele sofrimento dentro do peito, não dormia, não descansava, não conseguia estudar ou se concentrar. As saídas já não existiam mais, a depressão estava tomando conta dele. Foi quando Leonardo decidiu entrar para um seminário. Ali ele teria certeza de que pelo menos seu amor por Deus seria correspondido.
            Algum tempo após o ocorrido Priscila conheceu outro homem, apaixonou-se e viveu intensamente essa nova experiência. Apesar de sempre ter Leonardo na cabeça ela decidiu ser feliz com outro. Casou-se e deu início a outra fase de sua vida.
            Os anos se passaram. Leonardo estava indo bem no seminário, conseguira um posto confiável e liderava vários seguidores de Deus. Priscila tivera um filho e seguia sua vida familiar e profissional de forma bem tranqüila e simples. Tanto um quanto o outro ficaram extremamente chocados quando o convite de casamento de Thaís chegou. No lugar destinado aos nomes dos noivos cada um leu: Thaís Sodré e Diogo Galvão.
             Priscila desmaia em sua casa. Leonardo solta um pequeno sorriso de canto de boca, sugerindo uma aprovação. Diogo era irmão de Priscila.