sexta-feira, 3 de julho de 2009

Saudade

Por Maria Gabriela Brito

Já namoravam há quatro anos. Por ela largou o cigarro, a bebida, as drogas, o mundo da farra e bagunça. Agora andava de cabelo bem penteado. Deixou o all star e a calça larga de lado. Usava sapatos e camiseta pólo. Ele amava muito ela, e por ela mudou. Para o mundo, ele havia mudado para melhor, para ele... Bom, ele nem se lembrava mais dele.
Um dia ela chegou e disse:
- Eu te amo, mas não como antes, sinto que minha missão com você está cumprida. Você é uma pessoa melhor, com a cabeça no lugar. Desculpe, mas não posso mais, quero terminar.
Seu mundo desmoronou naquele instante. Anos esforçando-se para ser alguém melhor, alguém bom o suficiente para ela.
Uma semana depois não conseguiu segurar, foi chorar suas mágoas no boteco da esquina. Jogou sinuca com amigos que não via há algum tempo, comprou um maço de cigarro, fumou sozinho em 42 minutos. Bebeu 10 garrafas de cerveja, quatro doses de pinga e uma dose de tequila.
Dormiu no bar e só acordou no outro dia em casa, não lembrava como havia chegado até lá, mas se deu conta de que estava com uma puta ressaca. Levantou cambaleando, tomou um Dorflex e três Engov. Preparou um café bem forte e bebeu sem adoçar. Sentou na sala de televisão e debruçou a cabeça nas mãos.
Percebeu que estava com saudades. Não dela. Tratou de colocar um sorriso no rosto e seu all star no pé, saiu dali direto para o boteco da esquina. Foi matar a saudade dele mesmo.



Imagem: http://renatoprospero.blogspot.com