quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Os outros

Por Maria Gabriela Brito

De sua turma nunca foi a mais bonita, porém Carol sabia o que queria, e acreditava nela mesma para conseguir. Além disso, tinha um instinto de liderança, e sua personalidade visível a deixava mais atraente. Ela se preocupava com todos ao seu redor, e sempre ficava satisfeita quando os outros estavam satisfeitos.
Quando tinha lá seus quatorze anos, estudava em uma escola próxima a um cursinho pré-vestibular. Todos os dias ela via passar por ali um rapaz lindo de mãos dadas com sua namorada. Carol gostava de ter metas e fazer o seu melhor para atingi-las. Falava para suas amigas que aquele deus grego seria dela um dia.
Carol não voltou a ver o rapaz depois daquele ano, mais tarde acabou mudando de escola, nem lembrava mais dele. Fez novas amizades, que acabaram tornando-se eternas. Os antigos amigos também não ficaram para trás. Como já dito antes, ela era o tipo de pessoa que não deixava ninguém para trás.
A jovem estava em uma fase boa. Gostava de curtir um happy hour com as amigas no final de semana. Em uma dessas noitadas de sábado, ela e mais duas amigas foram aproveitar a night em uma balada da moda. Dançavam empolgadas quando uma das meninas deu um grito ao ver um grande amigo que não via há anos. Carol deu um grito ao ver que seu antigo deus grego acabava de entrar na boate. A outra deu um grito ao se assustar com o grito das outras duas.
Carol acabou descobrindo que o rapaz que ela sempre via com a namorada no final da aula era o grande amigo de sua amiga. “Que bom que esse mundo é pequeno”, ela pensou. Naquele dia ela agarrou a oportunidade e conseguiu o que tanto queria há algum tempo. Depois daquilo não se viram ou se falaram mais. Ela até pensou em ligar algumas vezes, mas muitas outras coisas aconteciam em sua vida e ela o esqueceu novamente.
Quando estava no último ano da escola, aquele belo rapaz reapareceu em sua vida. Ficaram e ficaram, começaram a namorar. Formavam um belo casal. Carol e Fernando davam certo onde estivessem. Foram se apaixonando cada vez mais um pelo outro. Qualquer um podia sentir amor quando estava na presença deles. Ele não vivia sem ela, e ela não vivia sem ele.
Naquele ano o pai de Carol faleceu, e sua mãe mal parava em casa, mas Fernando esteve ao seu lado em cada segundo. Ela havia mudado um pouco, tornado-se mais nervosa, mas ele nunca perdeu a paciência com ela, por mais que ela o tentasse. As brigas eram constantes e normais como em todo relacionamento. Quando ela terminou a escola, os dois entraram juntos na faculdade, entretanto, cada um em uma cidade, ele saiu da terra natal, e ela ficou.
O amor dos dois ainda estava lá, só que eles não sabiam mais onde procurar. As brigas foram aumentando devido à distância física e tornaram-se cada vez mais sérias, várias pessoas começaram a se envolver e dar palpites. Ela pisava na bola com ele, e ele já não mais tão paciente não deixava em branco e dava o troco cinco vezes pior. Todos queriam saber o que acontecia entre eles, e que crise era aquela que afetava aquele amor antes tão intenso e tão bonito.
Na verdade o amor era o mesmo, mas eles começavam a crescer e o relacionamento continuava imaturo. Muita gente falava para Carol esquecer Fernando, dizendo que ele só fazia mal para ela. Talvez aquilo fosse verdade, e ela decidiu terminar. No fundo não parecia certo. Vários meses depois Fernando voltou para a cidade, dessa vez para ficar, desistiu da faculdade. A partir de então, os dois passaram a se encontrar escondidos. Nem a família e nem os amigos de Carol aprovavam o relacionamento deles.
A menina já não suportava mais esconder o que sentia por Fernando, decidiu lembrar quem ela era: autoconfiante! Assumiu para todos novamente um relacionamento com ele que prometia dar certo dessa vez. Um ano se passou diante dos olhos deles, e o namoro começava a desandar novamente. Os palpites alheios enchiam a cabeça de Carol, e ela via que não podia mais agradar a gregos e troianos.
Com tanta gente envolvida em seu relacionamento, ela não sabia que caminho tomar. De um lado estava Fernando, e aquele sentimento que era muito mais forte do que ela, de outro estavam os outros, que não sabiam o que passava na cabeça da jovem e nem como ela se sentia de verdade. Pela primeira vez na vida ela não era líder de nada e não conseguia decidir o que fazer. Não tinha forças para lutar por ele. Ela terminou novamente. Mais uma vez, aquilo não parecia certo.
Durante anos Fernando procurou Carol, ela o ignorava o máximo que conseguia, mesmo que aquilo a machucasse demais, principalmente por saber como o machucava. Algumas vezes ela não resistiu e saiu com ele sem que ninguém soubesse. Fernando pedia desculpa por tudo que acontecera entre eles, e implorava para tê-la de volta. Ela sabia que o desfecho daquilo era culpa dela, mesmo ela fazendo parecer ser culpa dele.
Depois de tudo, ela escolheu ser infeliz e deixar os outros felizes, como havia feito a vida inteira. Acabou se casando com outro, mas nunca esqueceu ou deixou de amar Fernando. Ele por outro lado, escolheu esperar Carol por toda a vida, na esperança de que um dia ela voltasse para ele.