Por Maria Gabriela Brito
Deu mais uma boa olhada no espelho. A sala era gigante e bonita, com espelhos por todos os lados emoldurados de madeira. No centro, uma mesa com morangos, sua fruta predileta, e champagne, que segundo sua mãe iria ajudá-la a relaxar. Em volta da mesa ficavam um sofá imenso de couro preto e duas poltronas que pareciam extremamente confortáveis.
Depois de encher uma taça até a borda, ela afundou-se em uma das poltronas, levantou as milhares de camadas do vestido branco e esticou os pés sob a mesa, avaliando se aquela havia sido realmente a decisão certa. Lembrou do pedido de casamento. Lindo. Lucas ajoelhou e fez exatamente como manda a tradição. Ela não conseguia decidir o que mais a atraiu na hora: a idéia do casamento ou a pequenina caixa da Tiffany´s.
Eles namoravam desde o colegial, e Lucas havia sido o único homem em sua vida. Sim. Ela era apaixonada por ele, mas era pecado desejar outro homem que não fosse Lucas? Encheu outra taça de champagne, pegou um morango e continuou imersa em seus pensamentos. Será que Lucas era bom de cama mesmo, ou é porque ela nunca havia provado outros?
Várias dúvidas enchiam a cabeça de Estela. Ela estava ali, naquela sala tão bonita, toda arrumada. O cabelo curto estava preso em um meio-rabo que a deixava com a aparência muito refinada. Um pequeno arranjo de flores brancas davam o acabamento nas madeixas. O vestido tomara-que-caia era colado até a cintura e abria formando uma linda e delicada armação.
Será que ela queria tudo aquilo? Vinte e seis anos, formada em direito, fluente em inglês, italiano e francês, além do português. Futuro brilhante pela frente, e a partir daquele dia deixaria de ser Estela Aguiar para ser a esposa de Lucas, senhora Lucas Fontoura. Por um momento teve vontade de sair correndo da sala.
Levantou-se da poltrona, quase tropeçou, e encheu outra taça. Começava a se embriagar. Lembrou de Gustavo, amigo do casal. Ele havia dado umas indiretas para ela. “Bem que eu podia dar para o Gustavo”, pensou enquanto tomava um gole da sétima taça, “só para experimentar”.
Foi quando o dito cujo bateu na porta. Ela deu permissão para a entrada. Quando se deu conta de quem se tratava, fez questão de se endireitar e disfarçar a embriagues.
-Está tudo bem Estela? Sua mãe disse que você estava nervosa, vim ver se queria conversar.
- Na verdade queria sim.
Quando ele sentou no grande sofá preto, Estela se jogou como uma louca em seus braços. Foi o suficiente para os dois se beijarem loucamente. Nenhum deles entendeu muito bem como aconteceu, mas de repente ela estava de costa e todas as camadas de tule do vestido estavam para cima. Ele puxava o cabelo dela e nem tomou cuidado com o pequeno arranjo de flores.
Durante o ato tão intenso, sequer antes de qualquer um dos dois gozar, Estela surtou. Levantou-se correndo, abaixou e endireitou o vestido, foi em frente ao espelho, retocou a maquiagem, tirou o que restava das flores no cabelo, deu mais uma puxada no meio-rabo de cavalo, certificou-se de que estava apresentável. Gustavo ficou ali, parado, com as calças abertas, sem entender muita coisa, foi aí que a noiva o mandou embora do cômodo e pediu que não falasse mais com ela além do necessário.
Ele saiu em choque e não conseguiu ter nenhuma reação. Minutos depois do episódio, a mãe a chamou. Era agora. Ela entrou no altar e viu Lucas esperando por ela. Derreteu-se ao vê-lo. Enquanto caminhava sob todos os olhares ao som da marcha nupcial, percebeu que era ele o amor de sua vida e talvez por isso ele fosse tão melhor de cama que Gustavo, e talvez que qualquer outro.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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