Por Maria Gabriela Brito
Eu compartilhava um espírito de renovação com mais um milhão e meio de pessoas que aguardavam ansiosas pela contagem regressiva para a chegada de 2009. Com pés descalços nas areias de Copacabana eu me divertia com pessoas que conheci. Observei alguns, ignorei outros, mas entre aquela multidão vestida em branco, um senhor abatido me chamou a atenção.
Sem sapatos, bermuda tactel surrada e uma camiseta enrolada na cabeça. A peça de roupa parecia um turbante, e quem estava em volta não pôde deixar de apelidá-lo de Osama Bin Laden. Os que olhavam para ele achavam que era mais um mendigo bêbado, talvez drogado. Mais um louco num mundo rotulado “normal”. Confesso que simpatizei com Osama, que mais tarde se apresentaria como Antonio, o arquiteto.
Quando veio conversar comigo, esquivei, fiquei com medo e não vou mentir, realmente o rotulei. Entretanto, resolvi dar uma chance àquele senhor. “Qual é tua graça?” foi o que ele me perguntou. Acabei descobrindo que no Rio, ele queria saber meu nome. “Gabriela” retruquei. Ele repetiu em voz alta como quem procurasse o que dizer em seguida.
Esperei ouvir idiotices, mas aproveitei para dar boas risadas. O caso é que Osama disse que tinha alguns recados para mim. Em um ambiente de comemoração ele me fez sentar na areia daquela praia e ouvir o que ele tinha a dizer. Olhando firmemente nos meus olhos ele disse que uma Santa cuidava de mim: Maria de Fátima. Fui informada por amigos, que ela também é a Nossa Senhora do Rosário, ou Virgem Maria, ou como preferir, já que tem mil derivações de nomes que se referem exatamente a mesma santa.
Ele seguiu afirmando com todas as forças que alguém me ama muito e está muito próximo, mas eu não sou capaz de enxergar. Continuou dizendo que um familiar preza a minha felicidade, podia ser um tio ou avô. Ouvi com atenção, apesar de estar achando tudo extremamente irrelevante. Foi quando ele me disse uma coisa que realmente me tocou.
“Você ainda vai fazer muito bem para o mundo”. Se isso é verdade ou não, ainda não sei, mas quando chegou a hora da contagem regressiva e todos esperavam ansiosos por aquela maravilhosa queima de fogos, eu pensei no que ele me disse. Talvez ele fosse mesmo um louco falando bobeiras da boca pra fora. O caso é que a situação misturada com a vontade recomeçar em mais um ano novo, me fez realmente querer fazer bem para o mundo.
A energia que a passagem do ano trás causa em cada um uma vontade de seguir em frente, trás forças. Alguns aproveitaram para fazer promessas, outros pedidos e simpatias. Eu pulei as tradicionais sete ondinhas (pra mim e pra algumas amigas). Nem todos tiveram um Osama para ler o futuro (diga-se de passagem, o meu promete ser grandioso), mas cada um a sua maneira buscou meios de ser melhor em 2009.
Durante os 10 segundos para a chegada do novo ano, eu senti que o Rio de Janeiro compartilhava comigo aquele espírito de paz e renovação. Naquela hora eu percebi que o mundo podia ser melhor, bastava cada um fazer a sua parte. E o Osama já garantiu que eu vou fazer a minha.
sábado, 3 de janeiro de 2009
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