sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Novata

Por Sarah Menezes



Ela já havia sido avisada. Mas não tinha noção que poderia ser daquela forma. Fazia apenas uma semana que Beatriz tinha conseguido um trabalho na prefeitura. Há alguns meses ela estava na busca por um emprego, quando este surgiu, ela se encheu de energias e começou a trabalhar com toda dedicação.

Bia estava empolgada, acordava todos os dias 1h30 antes de começar o trabalho, se preparava caprichosamente, deixava os problemas em casa e ia para ofício de cada dia com as energias renovadas, disposta a dar o melhor de si. Mas logo na chegada ela tomava um banho de água fria. Com 23 pessoas trabalhando no seu departamento, a um bom dia apenas 3 ou 4 gatos pingados respondiam, o restante continuavam com a cara fechada, concentrados em seus computadores, ignorando tudo e todos aos seus redores.

A novata não entendia o que estava acontecendo, se indagava sobre o que tinha feito para ser ignorada daquela maneira.

Com tanta energia negativa, Beatriz ficava atenta a todas as conversas, e quando começavam cochichar seu coração disparava, lhe vinha um medo que ela não sabia de onde. Pensava que estavam falando mal dela, de seu trabalho, desempenho, chegava até a achar que os olhares sobre elas eram tortos, de reprovação.

Amigas de longa data, que já ocuparam a mesma função que Bia ocupa, no mesmo lugar, alertaram-na para esse clima de superioridade e prepotência dentro desse ambiente de trabalho. Ela só não imaginava o que poderia acontecer, não mensurava o quanto as pessoas são arrogantes e sem educação.

Em meio a tanto olho gordo, invejoso e maldoso a jovem continuava seu ofício, tentando ignorar o que lhe fazia mal. Em seu segundo dia de trabalho Beatriz chega na sala e se depara com uma mudança, seu setor estava sendo transferido de local.

Mesa para um lado, computador para o outro, papéis e mais papéis junto com um monte de bagunças da mudança. Sala nova, o que restava agora era organizar tudo, cada coisa em seu lugar. Como em toda mudança, as coisas levam algum tempo pra se ajeitarem por completo, e nesse meio tempo Bia ficou sem computador, e seu chefe lhe permitiu que usasse quaisquer computadores que estivessem vagos no departamento. Durante 2 ou 3 dias ela ia para o trabalho apenas bater cartão, e ficava por lá para cumprir horários e a espera de um computador vago. Quando um ia embora, ou se ausentava por qualquer motivo, ela aproveitava pra usar o computador disponível, para checar e-mails e agilizar algumas coisas do seu trabalho.

Em um desses dias que ainda não tinha conseguido um computador próprio, uma manhã ensolarada, daquelas que desde as 8h você já se irrita com a intensidade do sol, a moça chega na Prefeitura e senta-se no sofá par ver os jornais. A responsável pelo administrativo, uma senhora com seus 40 e poucos anos, magra, alta, loira de cabelos encaracolados e curtos, dona de uma aparência não muito amigável, com o rosto cheio de linhas de expressão mais parecendo uma casca de mexerica, e totalmente démodé, com o nome de Horminda, se ausenta do departamento para ir ao médico, e estava precisando mesmo, para ver se melhorava aquela aparência.

Aproveitando o ensejo, Beatriz senta-se no computador de Horminda, confere seus e-mails, conclui tarefas e fica navegando pela internet. De repente ela começa a sentir um desconforto, algo começa a se retorcer dentro de sua barriga, passa a sentir calafrios e, sem ter como controlar sai às pressas para o banheiro. Mal sabia ela que isso poderia ser um sinal do que estava por vir. Ao retornar encontra Horminda, prostrada em frente ao computador, com cara de muito poucos amigos e fúria. Bia foi logo se apressando para sair da internet e liberar o computador. Chegou perto de Horminda e disse com toda educação e delicadeza:

- Desculpa, já estou saindo aqui para você usar.

E com toda a falta de educação, mal humor e respeito ela responde em alto e bom som:

- O que você está fazendo na frente do meu computador? Quem te deu permissão? Você está muito abusadinha para o meu gosto para quem é novata no ambiente. Não aceito pessoas do seu nível sentadas no meu lugar, nem mesmo ao meu lado.

Bia, transtornada de vergonha e raiva, vira um tapa na cara de Horminda com toda sua fúria. Descontroladas elas caem no chão, aos tapas, murros e puxões de cabelos.

A novata perdeu o emprego, mas saiu satisfeita por deixar um olho roxo na malvada.