segunda-feira, 30 de março de 2009

O Sonho

Por Maria Gabriela Brito


Chegou muito tarde e cansado do trabalho, foi direto para a cama. A mulher estava ali, deitada, dormindo profundamente. Ele lembrou da discussão horrível que tiveram mais cedo. Mal se falaram o dia todo. Ele a observou com nojo e com raiva, teve vontade de matá-la. Não matá-la no sentido figurado, mas ele se viu colocando as mãos ao redor daquele pescoço delicado e apertando até ela ficar sem fôlego algum.
A mulher teve coragem de traí-lo, de dar para outro homem na cama que ele havia comprado. A cena não parava de lhe vir à cabeça. Ele chegou no meio do ato, escutava os gemidos de sua mulher, aqueles mesmos que ela fazia quando começaram a namorar. O homem possuindo o corpo da amada com toda força, dando bufadas de tesão. Aquele homem já fora seu amigo, seu melhor amigo.
Ele deitou ao lado dela, quase vomitando de repulso. Não queria mais brigar, queria paz. Adormeceu. Lembranças de bons tempos ao lado dela vieram à tona. A imagem do amigo penetrando a mulher voltou à cabeça, fazendo-o acordar suado em um pulo. A mulher estava com a cabeça adormecida em seu peito, e os braços envolvendo-o pela barriga. Ele olhou com desprezo para ela e sem pensar começou a beijá-la, com tanto desejo e ódio que nem ele ou ela compreendiam.
Acariciou o corpo dela, a mulher desesperou-se, não sabia o que ele queria com aquilo. Ele beijou todo o corpo da esposa, pequenas mordiscadas nas orelhas a fizeram arrepiar. Passou a mão devagar pelas curvas acentuadas. Beijava sua boca com tanta sede que ela sentia dor. Arrancou-lhe a calcinha no dente, e levantou-lhe a camisola. Subiu em cima dela e esteve tão dentro como nunca antes. Ele fechou os olhos e seguiu com o ato enquanto ela gritava para ele parar.
Na euforia ele não percebeu, mas cobria a boca e o nariz dela com uma das mãos e com a outra ele comprimia forte o pescoço. A esposa cada vez mais em pânico não tinha mais como gritar, ela debatia os braços e fazia o possível para sair dali. Ele continuava perdido no corpo dela, como se o mundo estivesse a um fio para acabar.
Ele terminou o ato e não se deu conta. A mulher estava morta. O pescoço roxo e machucado. A boca entreaberta, como se mesmo no corpo desfalecido, a alma buscasse o ar. Ele se jogou para o outro lado da cama quando percebeu. Ficou parado, assustado, olhou para suas mãos em pânico. Levantou e deu uma volta pelo quarto. A mulher estava estirada logo ali. Aquele corpo sem vida, havia sido sua amada um dia.
Ele sentou em um canto do quarto e aterrorizado não sabia o que fazer. Inebriado pela euforia, ele cometeu aquele crime. Aquela mulher era uma droga, um vício, era tudo culpa dela, por tê-lo amado e traído. Ela o havia enfeitiçado, o envolvido. Ele levantou e seguiu para perto do corpo, ajoelhou e segurou uma das mãos da morta. Naquela hora flashs e mais flashs do amor intenso que viveram estavam pairando sobe sua cabeça.
Ele fechou os olhos, lágrimas escorreram pelo seu rosto e ajoelhado ao lado da cama, afundou a cabeça no colchão e adormeceu. Para ele apenas segundos haviam passado quando o despertador tocou.
Estava deitado, enrolado no edredom. Sentou-se e esfregou os olhos. Olhou para os lados e se deu conta de que a mulher não estava na cama. Pensou ter ouvido barulhos no banheiro. Deu mais uma boa olhada pelo quarto, e aliviado pensou “foi um sonho”. Levantou-se devagar ainda abatido pelo pesadelo e foi em direção a porta do quarto.
No susto, levou um tombo e bateu a cabeça na cômoda. Durante o sono agitado empurrou o corpo da mulher para o chão. Não havia sido um sonho.

3 comentários:

  1. Gabi du céu!!! nossa que louco! adorei o conto! Muito bom.. eu fico aqui pensando q ele fez depois...? deve ter se matado... hauhau
    bjos
    PS.: Fiz outro conto de amores platônicos... tem até uma musiquinha p escutar eqto le o conto... vai la depois
    Bjos

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  2. Grade estilo Nélson Rodrigues.
    Parabéns...
    bjs
    gennari

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  3. CARALHO Gabi...
    estive dentro do quarto agora!!
    mandou bem pra caralho!!
    parabens...

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