quinta-feira, 16 de abril de 2009

A decisão

Por Maria Gabriela Brito

Sempre levou a vida na indecisão. Enquanto era criança até era compreensível, mas já na adolescência, mal conseguia escolher o que comer no almoço. Apesar desse problema, era inteligente, passou em vários vestibulares, cada um, um curso diferente. Sem conseguir escolher entre economia e veterinária optou por fazer os dois.


Por incrível que pareça levou os dois cursos numa boa. Depois de formada saiu da casa dos pais. Para variar não conseguia escolher um apartamento. A mãe sugeriu um e logo a idéia foi aceita. Na hora da decoração, não sabia se queria um estilo rústico ou moderno, acabou ficando com os dois, o que deixou o apartamento bastante diferente.


A noite saía com amigos, mas ela nunca escolhia aonde ir. Não seria capaz. Em uma dessas baladinhas encontrou Felipe. Rapaz bonito, alto e bom de papo. Quando ele se ofereceu para pagar uma bebida ela se apressou a dizer que ele podia escolher. Conversaram por horas e acabaram se entendendo.

Felipe gostou do jeitinho meigo dela. Aquele vestidinho curto e sapatilhas caiam muito bem com os cabelos longos e castanhos com discretos cachos nas pontas. Apesar de ser indecisa, não era difícil se encantar por ela. E foi o que aconteceu com Felipe. Começaram a sair. Nesse meio tempo, ela conheceu Pedro, amigo de uma amiga. Charmoso e sedutor. Dessa vez foi difícil para ela não se encantar por ele.

Foi levando o caso com os dois e simplesmente não conseguia escolher com qual ficar. A situação já estava insustentável. Saía para divertidos jantares com Felipe, e Pedro a levava a festas badaladas. Felipe já havia declarado seu amor, e até o duro coração de Pedro estava claramente amolecido.

Numa noite qualquer Felipe a convidou para um restaurante japonês, e mais tarde Pedro a esperaria em uma boate nova que tocava samba rock. Parada em frente o espelho, não conseguia decidir que roupa vestir. Trocava e trocava, mas não chegava a lugar nenhum.

Olhou seu reflexo e observou profundamente suas feições, ela tinha cara de indecisa. Começou a pensar qual era seu problema e porque não conseguia decidir nada. Teve raiva dela mesma por um instante. Precisava escolher com quem iria ficar, não podia continuar com aquela situação. Era ruim para eles, e principalmente para ela.

Naquela hora sentiu uma força vindo sabe-se lá de onde. E se olhando no espelho, finalmente tomou uma grande decisão, talvez a primeira e maior de sua vida. Ela gostava do Pedro e gostava do Felipe, mas gostava ainda mais de uma terceira pessoa, e resolveu ficar com essa: ela mesma.

3 comentários:

  1. acho que cada um de nó tem um pouco dessa personagem dentro da gente em alguns momentos! Principalmente aqueles que é crucial nossa decisão!

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  2. Que delícia Gabi!
    Que "final" imprevisível.
    Muito bom mesmo!

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  3. mandou bem gabi...
    vc escreve bem!!!
    parabnes!!
    bjo

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