Por Maria Gabriela Brito
Trabalhou o dia inteiro capinando jardins de casas chiques, não cobrava caro e fazia o serviço com amor e muito cuidado. Talvez tenha limpado uns 10 quintais naquele dia, e ganhado alguns bons 60 reais que pagariam a conta de luz do mês passado, a deste mês e talvez ainda desse para comprar comida.
Estava sujo e cansado quando terminou a última casa. Subiu em sua bicicleta e pedalou por longos e intermináveis sete quilômetros, distância equivalente entre os bairros nobres da cidade e a semifavela onde morava. Sua vida era medíocre, mas ele nunca reclamou, era muito simples pra isso.
Suas costas doíam, mas a vida o calejou o suficiente para não dar atenção a qualquer tipo de dor. As mãos pareciam estar mais grossas, típicas de um homem que trabalhou desde menino. Tudo para sustentar sua esposa e os quatro filhos pequenos.
Finalmente estava perto de casa, a barriga roncava de fome. Pensou se a mulher havia feito aquela sopa de jiló e moranga com muita água para ter o suficiente para a família de seis pessoas. Pensar no cardápio da janta deu água na boca.
Chegou suado na porta, já estava anoitecendo. Imaginou aquele banho relaxante que ia tomar. Banho relaxante que nada, pobre não tem banho relaxante, era só pra limpar mesmo. Tinha que racionar, o bairro andava sem água nos últimos dias.
Abriu a porta e viu a mulher na cozinha. A barriga doeu de fome, mas queria mesmo era aquele banho gelado, com os poucos fios de água desordenados que caiam do chuveiro. Foi direto para o banheiro, parou já sem roupa, ansioso, em frente à torneira. Rodou até as últimas e nem uma gota de água caiu.
Ficou chateado por um momento, mas foi dormir conformado e sujo mesmo, sem comer sopa. No outro dia acordou do jeito que foi dormir, sujo. Seu café da manhã foi a sopa aguada e fria da janta. Montou em sua bicicleta e foi dar continuidade à sua subvida, torcendo apenas para que quando voltasse naquela noite, tivesse água para tomar banho.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
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É foda! Tem gente que nao vive, sobrevive... É legal ler textos assim. Nos mostram o quanto somos tolos e egoístas, quase sempre reclamando do que a vida nos dá.
ResponderExcluirMas, mais uma vez, minha sincera admiração. Vc consegue, de uma forma fantástica, colocar em palavras sentimentos, momentos e vidas. É isso!
Bjos e abraços!
Não tomem como rispidez da minha parte, mas eu soltei uma risadinha na última frase.
ResponderExcluirAs pessoas ficam frustradas e entram em depressão por não terem o mais novo videogame, televisão a cabo, uma bicicleta profissional de dois mil reais, uma geladeira com freezer, um computador mais rápido, enquanto outras desejam só tomar banho.
É... O homem é um bicho muito estranho.
Belo blog :*
(Eu ainda acho Gabi Alencar velha demais pra idade dela :) )
ResponderExcluirEntão, sobre o texto: TADINHOOOOOO!!! Nem um bainhozinho?? Tadinho...
Às vezes, só às vezes essas situações acontecem com todo mundo. Claro que em proporções diferentes. Mas acontecem. Talvez a pessoa que esteja louca para ter o videogame do ano, só esteja assim, tão desesperada em tê-lo, porque alguma outra coisa fundamental lhe falte. Talvez nem seja a água, talvez seja algo mais fundamental ainda, algo que o rapaz do conto tenha e o carinha do videogame não. Aí, pra suprir essa falta, as pessoas correm em busca de bens materiais.
Sei lá, ver assim torna as pessoas menos crueis e menos tristes...
Adorei o conto. Tenta contá-lo com um pouco mais de humor...
Beijo