Por Maria Gabriela Brito
Seu coração disparou de uma maneira que parecia estar prestes a sair pela boca. Ele estava logo ali, do outro lado da rua, em frente a uma banca de revistas. Provavelmente comprando cigarros ou uma daquelas revistas que ele gostava, com muita mulher pelada com cara de vadia.
O fluxo de carros era intenso. A via de mão dupla não parava por um minuto sequer naquele horário de rush, às seis da tarde. Ela estava prestes a atravessar para o outro lado quando o avistou. Não podia ser vista por ele de maneira alguma. Ainda bem que o viu a tempo de mudar de caminho.
Engraçado como esses caminhos, que agora não podiam se cruzar, haviam sido o mesmo há um ano. Era um amor sem limites, de infância. Os dois ficaram juntos por sete anos. Eram amigos, irmãos. Cresceram e se descobriram juntos. O que eles tinham era puro, natural.
E foi esse o problema. Juntos desde os 13 anos era impossível não saber exatamente do que o outro gostava, ou queria. Eles nem precisavam trocar palavras para conversar. Pode parecer legal na teoria, mas na prática não funcionava. Quer dizer, para ela sim, e pelo visto para ele não.
Pouco antes de terminarem o namoro, ela descobriu que ele estava saindo com uma mocinha da turma dele na faculdade há cerca de seis meses. Uma de suas amigas fofoqueiras que a havia informado. “A irmã da prima de uma amiga minha é da sala deles”, contou a informante.
Foi demais para acreditar. Ela dedicava-se inteiramente a ele. Tinha prometido toda a sua vida a ele. Não dava para engolir, e ela preferiu fingir que nunca havia escutado nada a respeito, afinal ele continuava o mesmo com ela. Além disso, eles eram feitos um para o outro, e iam se casar assim que terminassem a faculdade.
Foi quando veio a confirmação. Os dois estudavam em lugares diferentes e em horários diferentes, e se viam quase que exclusivamente aos finais de semana. Mas naquele dia ela teve saudades e decidiu fazer aqueles biscoitos que ele adorava para surpreendê-lo no intervalo de suas aulas.
Pelo horário, ele só poderia estar na cantina. E estava mesmo, como sempre. Mas não estava sozinho. O rosto estava a menos de um palmo de distância do rosto da outra. . As mãos entrelaçadas eram quase que uma só, e o olhar era de menino apaixonado. Até havia se esquecido daquele olhar. Doeu ver aquilo, mas foi embora sem falar nada.
Deixou a caixinha de biscoitos com a mãe dele, junto com uma carta terminando tudo. Ele ligou insistentemente para ela por quatro longos e sofridos meses. Procurou-a na faculdade, em sua casa, mas eles não se encontraram. Ela preferiu assim. E agora ele estava ali, apenas a alguns metros dela.
Apesar de não terem mais nada, eles nunca haviam conversado sobre o fim do relacionamento. Ela sofreu sozinha por todo aquele ano em que não se falaram. Mas ela não queria ser vista por ele, não fazia sentido ter que cumprimentá-lo casualmente, como alguém sem importância.
O coração doeu como naquele dia em que o avistou com a outra. E disparou também, daquele mesmo jeito que disparava quando o via chegando perto dela no recreio da escola. Perguntou a si mesma se ele e aquela menina ainda estavam juntos. Torceu para estarem, e para serem felizes.
Mesmo querendo ir embora dali, suas pernas insistiram em ficar alguns segundos travadas. Era ainda mais triste vê-lo e ignorá-lo. Como se sete anos não significassem nada, como se eles nem se conhecessem. Depois que saiu daquele transe, mudou sua rota, e partiu por um caminho contrário ao dele. Ela sabia que ele também iria preferir assim.
sexta-feira, 19 de março de 2010
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O fim de uma relação já não é mto agradável. Mas terminar com traição, mentira, deve ser pior ainda. Aliás, é pior!
ResponderExcluirEntendo a garota e, no fundo, ela fez a coisa certa, ja que, no final das contas, nao adiantaria nada brigar, gritar... nada iria mudar o que ele fez, nada iria desfazer o erro dele... nem mesmo se ela o perdoasse... o erro, inevitavelmente, faria parte da vida de ambos para sempre...
Talvez, no momento tão dificil pelo qual ela passara, a distância seria melhor. às vezes, é melhor assim. Talvez, a distancia evitaria uma indifereença maior e dolorida por parte dela. Talvez, se nao houvesse a distância, ela cairia no erro de voltar com ele. Penso, Gabi, que quem ama, nao trai jamais. Os dois se amaram, amavam... mas da parte dele acabou e ele esqueceu de fazer algo bem simples: terminar com dignidade.
Cara, seus textos são ótimos! Adoro!
Parabéns.... "Força Sempre"
É difícil definir o "pra sempre". A gente tem essa mania, de achar que pode fazer durar, mas a verdade mesmo é "que seja eterno enquanto dure".
ResponderExcluirMandou bem!
É engraçado como um simples segundo pode descrever toda uma história e um sentimento.
ResponderExcluirAdorei de verdade o conto amiga, interessantíssimo, fiquei até curiosa pra saber a história inteirinha nos mínimos detalhes hauahuaa
bj bj Mérys
Não dá pra entender o por que de ser tão comum traição. Hoje em dia as mulheres também traem, mas acho que é muito mais por que foi ferida diversas vezes e acabaram jogando tudo pro alto do que por gostarem de trair.
ResponderExcluirSó queria saber de verdade se existe homem que seja merecedor de confiança.
Quanto mais vivemos mais nos decepcionamos com esse sentimento cruel que é o amor.
Adorei o conto, ficou muito bem escrito.
Parabéns.
Caraca Gabi! Super envolvente seu conto... do início ao fim!
ResponderExcluirAdorei!
Entendo a garota, ela fez o melhor em não procurá-lo. Afinal de contas, iria apenas aumentar seu sofrimento já que iria ouvir da boca dele que não dava mais a relação. Ou, o que é pior, iria ouvir alguma desculpa, perdão, etc...
Ninguém merece ser traído, ninguém merece a traição!