domingo, 4 de julho de 2010

Certeza - Uma crônica sobre mim mesma

Por Maria Gabriela Brito

Quando criança nunca havia pensado no futuro. Queria saber apenas do agora. Era fechada com desconhecidos e escancarada com pessoas amadas. Gostava de falar, expor sua opinião, mesmo que na infância, não fosse muito ouvida. Com o passar dos anos a paixão por se comunicar com as pessoas só crescia.
Já conseguia defender seu ponto de vista, e mais do que isso, gostava de escutar os outros e ajudar esses a se ouvirem também. Inspirava-se no pai, ela o colocava em um pedestal. Engenheiro Civil, ex-fazendeiro, apaixonado por números e letras, a incentivava culturalmente, com leituras, escritas e estudos.
Ainda nova, escrevia poemas de amor, da vida, da dor. Sonhava em publicar um livro. Na família eram dois primos jornalistas, e o tio escritor e compositor, Cacaso. Quando descobriu os textos dele, encantou-se ainda mais pela descrição do cotidiano e do comportamento das pessoas.
Na escola montou um jornalzinho apenas para seu círculo social, nesse, ela escrevia seus poemas, e contava casos da sua própria roda. As amigas vidravam ao verem seus nomes citados por ela. O pequeno projeto não durou muito tempo, com apenas 13 anos, ela tinha várias outras coisas a se preocupar, menos com o futuro, que ainda não passava pela sua cabeça.
Nos encontros de família e com a falta de assunto, sempre surgia a pergunta, “Gabriela, e ai? Já sabe o que vai ser quando crescer?”. Aquilo a matava por dentro. “NÃO, eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe” pensava a menina. Para ser simpática, acabava respondendo o que todos queriam ouvir: “Vou ser médica”, algumas vezes, “Vou ser dentista”, outras vezes, “Vou ser advogada”.
A verdade é que ela não sabia o que ia ser, e naquela altura do campeonato, aquilo começava a perturbá-la. No colegial, tentou resgatar todos os seus gostos. Descobriu que era apaixonada por moda. Começou a desenhar roupas, e percebeu que também tinha certo dom para a coisa, mesmo sem nenhum curso, tinha os traços firmes e criava modelos que ela jurava que confeccionaria um dia.
No último ano da escola era hora de escolher. A menina começava a se desencantar pela moda, não que aquilo não fosse seu sonho, mas será que ela seria alguém naquele meio? Relações internacionais também era uma opção. Gostava de inglês, francês. Apaixonada por cultura de qualquer lugar, começava a achar que aquele seria seu destino. Conhecer novas línguas e lidar com pessoas diferentes dela.
Ao longo do ano, ela teve certeza de várias coisas. Começou com a certeza de cursar relações internacionais. Desistiu. Teria que sair de sua cidade, e ela não queria deixar o pai para trás. Eram apenas ela, ele e a irmã mais nova. Iniciou uma nova certeza, a de cursar administração. Desistiu. Queria trabalhar com pessoas, mas ainda não era aquela sua paixão.
Motivada por seu passado rural pensou em agronomia. Desistiu. O pai tinha passado péssimas experiências na área, e ela não queria aquilo. A próxima certeza foi o curso de direito. Desistiu sem motivo aparente. Aquilo ainda não a agradava. O curso de moda já estava fora de cogitação, também teria que sair da cidade para esse. Teve um insight. Psicologia. Sempre gostou de ouvir e ajudar as pessoas com seus problemas. Agora era certeza.
No dia da inscrição, marcou o curso, sem toda aquela certeza de antes, mas marcou. Todo dia ela examinava as profissões disponíveis na faculdade. Nada. Começava a sentir-se mal. “Não nasci para fazer nada, nada se encaixa no meu perfil” avaliava. No último segundo, do último dia para uma provável alteração no curso escolhido, ela tinha apenas uma certeza, não era psicologia.
Olhou todas as opções de novo, leu as descrições, e não sabia o que fazer. Foi quando um nome ressaltou sobre os outros. Um nome que ela havia visto várias outras vezes e ignorado. Como não havia pensado nisso ainda? “Prontos ou não, lá vou eu”. Foi fazer a prova de vestibular feliz, acertou todas as perguntas de português, e fez uma redação que até ela se surpreendeu. Aprovada, deu início no curso.
Hoje, Gabriela está no último período de jornalismo, e apesar da vida tê-la levado a novos desafios e oportunidades, pretende escrever um livro com seus textos e fazer sua pós-graduação em moda, já que sua paixão pelo assunto ainda está intacta. E finalmente tem certeza que está no caminho certo.

3 comentários:

  1. O jornalismo e a sociedade agradecem pela sua escolha! Que bom que decidiu fazer parte desse time, o qual precisa tanto de pessoas assim, como vc!

    Bjos!!!!!

    PS.: Ou, mas vai ser indecisa assim lá longe...rsrsrs

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  2. venho pedir encarecidamente ajuda na realizacao de um blog recente , que e um projecto muito em fase de construcao mas com colaboracao podera vir a ser muito bem elaborado. agradece -se contributo com historias, episodios reais , de vida , ou exemplos e liçoes a tirar...qualquer coisa ...obrigado

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