sexta-feira, 30 de julho de 2010

Todo mundo deve satisfação a alguém

Por Maria Gabriela Brito

Olhou seu reflexo no espelho admirado. Deu uma ajeitada na gravata e escovou os cabelos com gel perfeitamente alinhados. Saiu do banheiro e pegou sua maleta na cama de casal onde sua mulher ainda dormia. A suíte chiquérrima ficava no segundo andar da mansão localizada no Jardim Europa, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo.


Desceu as escadas, virou à direita, atravessou a lareira, a sala de jantar até a cozinha. Abriu a geladeira de aço inox e pegou um Ades de maçã, colocou em um copo de cristal, bebeu uns goles e deixou o resto na pia impecavelmente limpa pela empregada. Voltou pelo mesmo caminho e seguiu até a sala de estar chegando ao hall de entrada.

Abriu a gigante porta de madeira entalhada e saiu para a garagem. Entrou no fusion preto, que era o carro para ir ao trabalho, que estava bem ao lado do porshe também preto, e o PT Cruiser verde-musgo da esposa. Entrou no carro, ligou o ar condicionado e o som programado para sua rádio favorita de música orquestrada.

Seguiu para mais um dia de trabalho. Chegou em um prédio de 32 andares espelhado de azul. Guardou o carro no estacionamento, subiu por um elevador elegante até o 31º andar onde ficava seu escritório. Ali funcionava uma multinacional da qual ele era presidente.

Entrou, deu bom dia a sua secretária e foi para sua sala toda de vidro com uma visão panorâmica da cidade. Recebeu telefones o dia todo. Deu muitas ordens à secretária, ao diretor executivo, ao advogado e ao vice- presidente, um velho amigo. Passou o dia mandando.

Mandou a faxineira varrer melhor, mandou a estagiária trazer mais café. Mandou a secretária fazer inúmeros telefonemas. Mandou, mandou e mandou. Era o que ele fazia de melhor. Quando criança mandava na mãe, no pai, e na irmã mais velha. Ele não se via em outra posição senão a de chefe, onde ele só mandava e nunca era mandado.

Passou aquele dia como qualquer outro, mandando em tudo e em todos. Depois de encerrado o período de trabalho ele continuou por lá. Sempre era o último a sair. Fazia o possível para chegar em casa tarde. Já eram perto das 21h quando o celular começou a tocar.

Ele fez questão de não atender, mas sabia que precisava voltar. Recolheu seus papéis, guardou na pasta de couro e foi embora. Chegou em casa, deu um suspiro antes de abrir a porta e entrou.

-Onde você estava? – perguntou a mulher nervosa.

-Trabalhando. – respondeu seco.

-Pode começar a chegar mais cedo! Você vai chegar mais cedo! - Berrou ela descontrolada.

-Ok. Você que manda. – Respondeu carrancudo, subiu as escadas e foi dormir. Amanhã tinha muita gente para ele descontar.

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