segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O professor
Por Maria Gabriela Brito
Ela soltou aquela risada jovial e delicada que mexia com a cabeça dele.
- Não acredito que isso acabou de acontecer!
E continuou rindo daquele jeitinho tão meigo. Ela realmente não acreditava que aquilo tinha acontecido. Era tão distante da realidade. Estava deitada nua no peito dele, coberta por um fino lençol até o quadril. Enquanto ria, ela escondia o rosto nele e repetia:
- Não acredito! Não acredito!
Ele também não acreditava. Há cinco meses começou a lecionar na turma dela. No começo não tinha dado atenção, ela era apenas mais uma aluna entre as outras quatro meninas da turma do 5º período de engenharia civil. Depois de algumas semanas na presença dela, ele simplesmente perdera o poder de concentração. Ela era tão inteligente, e linda. Era divertida e cheia de energia. Aqueles cálculos que ele ensinava havia 10 anos, antes tão fáceis, óbvios e naturais como falar, agora eram complicados e sem sentido.
Ele perdia o fio da meada quando ela torcia todo o corpo para trás para conversar com as amigas, e aqueles cabelos cheios e escuros o cegavam com tanto brilho. E quando ela soltava aquela risada discreta? Ele não conseguia continuar com a aula. Liberou a turma muitas vezes antes do horário por causa disso. Todo o profissionalismo dele havia ido por água abaixo por uma menina de 22 anos.
Os garotos da sala também tentavam conquistá-la, ele morria de ciúmes quando via algum deles tentando alguma coisa. Ela nunca deu o fora em nenhum. Era muito delicada para isso. Saía de fininho sem deixar ninguém chateado ou constrangido. Ela era perfeita, e ele estava louco por ela. Não entendia como a aluna ainda não havia percebido.
Mas ela percebeu. Depois que se deu conta das intenções dele, ela jogava ainda mais charme. Passava por ele e mexia nos cabelos antes de dizer oi. Aquilo o matava. O cheiro do cabelo dela impregnava nas narinas. Ele tinha vontade de jogar a pasta de couro marrom no chão e puxá-la para um beijo apetitoso.
E agora eles estavam ali. Juntos. Era difícil mesmo de acreditar. Ele perguntava-se como uma menina linda resolveu ficar com um professor 15 anos mais velho, que usava óculos, calça social caqui e sapatos marrons sem cadarço. Bom, agora não importava, porque ele estava sem aquelas camisas ridículas e ela sem os vestidinhos leves e coloridos que costumava usar.
A noite fora perfeita, melhor do que o esperado. Era domingo, o Fantástico já estava no fim e ela precisava voltar para casa. Beijou deliciosamente o professor em sinal de despedida. Enquanto era beijado, ficou pensando como a pele dela era macia e jovial. Teve vontade de afundar-se ali. Ela terminou o beijo, o encarou um pouco com os olhos brilhando e levantou da cama. Estava tão à vontade nua que o professor ficou impressionado.
Saiu pelo quarto procurando suas roupas. Ele ficou deitado com os braços para trás segurando a cabeça, observando-a. Ela encontrou uma calcinha de renda branca minúscula embaixo da cama e vestiu. O vestido decotado de estampa psicodélica estava em cima do abajur, deixando a luz do quarto fraca. Pegou a peça e o cômodo iluminou-se. Ele podia vê-la perfeitamente agora. A pele era clara, e ela tinha uma leve marca de biquíni nos seios. Nada vulgar. Passou o vestido frente-única pelo corpo e agora estava toda coberta.
Ele sentiu-se nu demais perto dela. A aluna sentou na beirada da cama e colocou as mãos delicadas com as unhas perfeitas, pintadas de rosa bebê, em seu peito. Ele segurou forte a mão dela. Carinhosa ela deu uma bitoquinha no nariz dele e foi aproximando-se de seu ouvido com aqueles lábios tão sensuais. Ele sentia a respiração quente dela em seu pescoço e todos os pêlos de seu corpo estavam arrepiados.
Ele estava ansioso quanto ao que ela tinha a dizer. Seria uma declaração de amor? Ela falaria como havia gostado da noite? Estava muito excitado com aquilo tudo e nervoso também. Como ele assumiria um relacionamento com uma aluna? Seus colegas poderiam julgá-lo.
Quando a menina chegou perto o suficiente de seu ouvido, seus cabelos pretos caíram no rosto dele. Ele pôde sentir aquele cheiro que o enfeitiçava e deu um suspiro tão profundo que ficou meio tonto. Ela respirou forte passando o nariz na nuca dele e cochichou de uma maneira muito sexy:
- Agora to liberada da avaliação final professor?
PS - Queridos, sei que o conto já esteve no blog antes, mas como eu tinha apagado, resolvi postar de novo, assim já dou uma atualizada no blog também. abs
domingo, 26 de junho de 2011
Seus olhos e seus olhares
Por Maria Gabriela Brito
Ele tinha os olhos mais tristes e incríveis que ela já havia visto em toda a sua vida. Ele andava carrancudo, com o corpo encurvado e pesado, como se carregasse o mundo todo nas costas. Mas era lindo, e aqueles olhos, tão comuns e ao mesmo tempo tão perfeitos. Eram olhos de um castanho escuro, opacos, sem vida. Intrigantes pelo menos para ela.
Todo dia ela o via passar pela rua onde esperava o ônibus de manhã para o trabalho. Apesar do andar pesado, ele caminhava tão livre em sua calça cargo verde-oliva, tênis gigante para seus pés e camiseta branca respingada de tinta azul. Ela se perguntava se a calça era a mesma, ou se ele tinha várias exatamente iguais e porque as camisetas da mesma cor estavam cada dia com mais respingos de tinta.
Depois que ela o via passar, sem nem mesmo olhar para os lados, a ignorando totalmente, ela ficava imaginando para onde ele ia e o que fazia com aquele andar de quem ia para a forca. Ela o imaginava indo a uma praça onde uma multidão o aguardava para assisti-lo sendo enforcado, ou andando por uma prancha de um navio, onde seria atirado aos tubarões. Mas definitivamente não podia ser nada daquilo, caso contrário ele não estaria lá no dia seguinte com aquela mesma expressão e aqueles olhos tão misteriosos que insistiam em não olhá-la.
Naquele dia quando ele passou, ela não deixou por menos e foi atrás. Quem ele pensava que era para nunca olhar para os lados? Ou melhor, para ela. Aquilo tinha que parar, era mistério demais para conviver. Enquanto o seguia chegou a pensar que nem mesmo ele sabia ao certo para onde ir.
Foi então que ele parou parecendo meio intrigado. Olhou para os lados como se soubesse que estava sendo seguido, ela virou imediatamente de costas, e quando ele não viu ninguém, sentou-se em uma mesa na calçada de uma padaria pouco atrativa.
Deu mais uma boa olhada ao redor e retirou de um de seus bolsos um bolo de papel amarrado com barbante, depois, de outro bolso saíram lápis de cor e nanquim, e de um terceiro bolso, tinta e pincel. Agora ela entendia porque ele andava como se carregasse o mundo. Ele realmente o carregava!
Uma moça com expressão de tédio trouxe a ele um café com chantilly e um cinzeiro. Ela sabia exatamente o que ele precisava. “Então é ali que ele se esconde do mundo”, pensou ela. Sem saber o que fazer, e por já ter praticamente perdido a manhã de trabalho, quiçá até o trabalho, resolveu entrar na padaria e comer uns pães de queijo talvez.
Quando ela chegou ao estabelecimento, pronta para entrar e ignorá-lo, ele a viu e levou um susto tão grande que esbarrou em um potinho de tinta azul que caiu na calçada. Ela olhou para trás para encarar aqueles olhos tristes, mas os olhos não estavam tristes, estavam envergonhados, e quando ela olhou para os papéis reconheceu a si mesma.
Era ela pintada naqueles papéis embolados, sentada em um ponto de ônibus, destacada entre uma multidão, com o longo cabelo castanho claro caído nos ombros, e os olhos mais azuis do que ela imaginava que realmente eram. Completamente paralisada, voltou a encarar os olhos do rapaz, que agora não estavam mais envergonhados, tampouco tristes. Eles sorriam para ela de uma forma tão doce que foi impossível não sorrir de volta.
Ele tinha os olhos mais tristes e incríveis que ela já havia visto em toda a sua vida. Ele andava carrancudo, com o corpo encurvado e pesado, como se carregasse o mundo todo nas costas. Mas era lindo, e aqueles olhos, tão comuns e ao mesmo tempo tão perfeitos. Eram olhos de um castanho escuro, opacos, sem vida. Intrigantes pelo menos para ela.
Todo dia ela o via passar pela rua onde esperava o ônibus de manhã para o trabalho. Apesar do andar pesado, ele caminhava tão livre em sua calça cargo verde-oliva, tênis gigante para seus pés e camiseta branca respingada de tinta azul. Ela se perguntava se a calça era a mesma, ou se ele tinha várias exatamente iguais e porque as camisetas da mesma cor estavam cada dia com mais respingos de tinta.
Depois que ela o via passar, sem nem mesmo olhar para os lados, a ignorando totalmente, ela ficava imaginando para onde ele ia e o que fazia com aquele andar de quem ia para a forca. Ela o imaginava indo a uma praça onde uma multidão o aguardava para assisti-lo sendo enforcado, ou andando por uma prancha de um navio, onde seria atirado aos tubarões. Mas definitivamente não podia ser nada daquilo, caso contrário ele não estaria lá no dia seguinte com aquela mesma expressão e aqueles olhos tão misteriosos que insistiam em não olhá-la.
Naquele dia quando ele passou, ela não deixou por menos e foi atrás. Quem ele pensava que era para nunca olhar para os lados? Ou melhor, para ela. Aquilo tinha que parar, era mistério demais para conviver. Enquanto o seguia chegou a pensar que nem mesmo ele sabia ao certo para onde ir.
Foi então que ele parou parecendo meio intrigado. Olhou para os lados como se soubesse que estava sendo seguido, ela virou imediatamente de costas, e quando ele não viu ninguém, sentou-se em uma mesa na calçada de uma padaria pouco atrativa.
Deu mais uma boa olhada ao redor e retirou de um de seus bolsos um bolo de papel amarrado com barbante, depois, de outro bolso saíram lápis de cor e nanquim, e de um terceiro bolso, tinta e pincel. Agora ela entendia porque ele andava como se carregasse o mundo. Ele realmente o carregava!
Uma moça com expressão de tédio trouxe a ele um café com chantilly e um cinzeiro. Ela sabia exatamente o que ele precisava. “Então é ali que ele se esconde do mundo”, pensou ela. Sem saber o que fazer, e por já ter praticamente perdido a manhã de trabalho, quiçá até o trabalho, resolveu entrar na padaria e comer uns pães de queijo talvez.
Quando ela chegou ao estabelecimento, pronta para entrar e ignorá-lo, ele a viu e levou um susto tão grande que esbarrou em um potinho de tinta azul que caiu na calçada. Ela olhou para trás para encarar aqueles olhos tristes, mas os olhos não estavam tristes, estavam envergonhados, e quando ela olhou para os papéis reconheceu a si mesma.
Era ela pintada naqueles papéis embolados, sentada em um ponto de ônibus, destacada entre uma multidão, com o longo cabelo castanho claro caído nos ombros, e os olhos mais azuis do que ela imaginava que realmente eram. Completamente paralisada, voltou a encarar os olhos do rapaz, que agora não estavam mais envergonhados, tampouco tristes. Eles sorriam para ela de uma forma tão doce que foi impossível não sorrir de volta.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Nostalgia
Por Maria Gabriela Brito
Caminhei pela Boulevard Grenelle até virar Garibaldi que virou Pasteur. Comecei a pensar em varias coisas, em como tudo mudou do nada, sem avisos. Agora temos o Davi. Tenho um mundo novo para explorar, e de repente tudo pareceu distante e perto ao mesmo tempo. Lembrei deste blog há tempos esquecido.
Final de faculdade, uma criança vindo, problemas e alegrias, conquistas e expectativas. Este espaço ao qual nos dedicamos tanto no passado parecia pequeno perto de todo o resto, e agora, sem explicação, senti falta dele, e dos meus textos antigos que estavam ansiosos para serem postados.
Não sei quando verei esses devaneios de novo, estão do outro lado do oceano, e continuam ansiosos. Talvez peça para alguém me mandar, até lá eles terão que esperar, e enquanto isso, vou aproveitar os novos ares para tentar escrever novas estórias e histórias.
Dedico este texto retorno à Mônica de Andrade do blog Coisas para se falar, se ver... que apesar de termos sumido, continuou presente. Valeu Mônica!
Caminhei pela Boulevard Grenelle até virar Garibaldi que virou Pasteur. Comecei a pensar em varias coisas, em como tudo mudou do nada, sem avisos. Agora temos o Davi. Tenho um mundo novo para explorar, e de repente tudo pareceu distante e perto ao mesmo tempo. Lembrei deste blog há tempos esquecido.
Final de faculdade, uma criança vindo, problemas e alegrias, conquistas e expectativas. Este espaço ao qual nos dedicamos tanto no passado parecia pequeno perto de todo o resto, e agora, sem explicação, senti falta dele, e dos meus textos antigos que estavam ansiosos para serem postados.
Não sei quando verei esses devaneios de novo, estão do outro lado do oceano, e continuam ansiosos. Talvez peça para alguém me mandar, até lá eles terão que esperar, e enquanto isso, vou aproveitar os novos ares para tentar escrever novas estórias e histórias.
Dedico este texto retorno à Mônica de Andrade do blog Coisas para se falar, se ver... que apesar de termos sumido, continuou presente. Valeu Mônica!
Assinar:
Postagens (Atom)