segunda-feira, 22 de agosto de 2011
O professor
Por Maria Gabriela Brito
Ela soltou aquela risada jovial e delicada que mexia com a cabeça dele.
- Não acredito que isso acabou de acontecer!
E continuou rindo daquele jeitinho tão meigo. Ela realmente não acreditava que aquilo tinha acontecido. Era tão distante da realidade. Estava deitada nua no peito dele, coberta por um fino lençol até o quadril. Enquanto ria, ela escondia o rosto nele e repetia:
- Não acredito! Não acredito!
Ele também não acreditava. Há cinco meses começou a lecionar na turma dela. No começo não tinha dado atenção, ela era apenas mais uma aluna entre as outras quatro meninas da turma do 5º período de engenharia civil. Depois de algumas semanas na presença dela, ele simplesmente perdera o poder de concentração. Ela era tão inteligente, e linda. Era divertida e cheia de energia. Aqueles cálculos que ele ensinava havia 10 anos, antes tão fáceis, óbvios e naturais como falar, agora eram complicados e sem sentido.
Ele perdia o fio da meada quando ela torcia todo o corpo para trás para conversar com as amigas, e aqueles cabelos cheios e escuros o cegavam com tanto brilho. E quando ela soltava aquela risada discreta? Ele não conseguia continuar com a aula. Liberou a turma muitas vezes antes do horário por causa disso. Todo o profissionalismo dele havia ido por água abaixo por uma menina de 22 anos.
Os garotos da sala também tentavam conquistá-la, ele morria de ciúmes quando via algum deles tentando alguma coisa. Ela nunca deu o fora em nenhum. Era muito delicada para isso. Saía de fininho sem deixar ninguém chateado ou constrangido. Ela era perfeita, e ele estava louco por ela. Não entendia como a aluna ainda não havia percebido.
Mas ela percebeu. Depois que se deu conta das intenções dele, ela jogava ainda mais charme. Passava por ele e mexia nos cabelos antes de dizer oi. Aquilo o matava. O cheiro do cabelo dela impregnava nas narinas. Ele tinha vontade de jogar a pasta de couro marrom no chão e puxá-la para um beijo apetitoso.
E agora eles estavam ali. Juntos. Era difícil mesmo de acreditar. Ele perguntava-se como uma menina linda resolveu ficar com um professor 15 anos mais velho, que usava óculos, calça social caqui e sapatos marrons sem cadarço. Bom, agora não importava, porque ele estava sem aquelas camisas ridículas e ela sem os vestidinhos leves e coloridos que costumava usar.
A noite fora perfeita, melhor do que o esperado. Era domingo, o Fantástico já estava no fim e ela precisava voltar para casa. Beijou deliciosamente o professor em sinal de despedida. Enquanto era beijado, ficou pensando como a pele dela era macia e jovial. Teve vontade de afundar-se ali. Ela terminou o beijo, o encarou um pouco com os olhos brilhando e levantou da cama. Estava tão à vontade nua que o professor ficou impressionado.
Saiu pelo quarto procurando suas roupas. Ele ficou deitado com os braços para trás segurando a cabeça, observando-a. Ela encontrou uma calcinha de renda branca minúscula embaixo da cama e vestiu. O vestido decotado de estampa psicodélica estava em cima do abajur, deixando a luz do quarto fraca. Pegou a peça e o cômodo iluminou-se. Ele podia vê-la perfeitamente agora. A pele era clara, e ela tinha uma leve marca de biquíni nos seios. Nada vulgar. Passou o vestido frente-única pelo corpo e agora estava toda coberta.
Ele sentiu-se nu demais perto dela. A aluna sentou na beirada da cama e colocou as mãos delicadas com as unhas perfeitas, pintadas de rosa bebê, em seu peito. Ele segurou forte a mão dela. Carinhosa ela deu uma bitoquinha no nariz dele e foi aproximando-se de seu ouvido com aqueles lábios tão sensuais. Ele sentia a respiração quente dela em seu pescoço e todos os pêlos de seu corpo estavam arrepiados.
Ele estava ansioso quanto ao que ela tinha a dizer. Seria uma declaração de amor? Ela falaria como havia gostado da noite? Estava muito excitado com aquilo tudo e nervoso também. Como ele assumiria um relacionamento com uma aluna? Seus colegas poderiam julgá-lo.
Quando a menina chegou perto o suficiente de seu ouvido, seus cabelos pretos caíram no rosto dele. Ele pôde sentir aquele cheiro que o enfeitiçava e deu um suspiro tão profundo que ficou meio tonto. Ela respirou forte passando o nariz na nuca dele e cochichou de uma maneira muito sexy:
- Agora to liberada da avaliação final professor?
PS - Queridos, sei que o conto já esteve no blog antes, mas como eu tinha apagado, resolvi postar de novo, assim já dou uma atualizada no blog também. abs
domingo, 26 de junho de 2011
Seus olhos e seus olhares
Por Maria Gabriela Brito
Ele tinha os olhos mais tristes e incríveis que ela já havia visto em toda a sua vida. Ele andava carrancudo, com o corpo encurvado e pesado, como se carregasse o mundo todo nas costas. Mas era lindo, e aqueles olhos, tão comuns e ao mesmo tempo tão perfeitos. Eram olhos de um castanho escuro, opacos, sem vida. Intrigantes pelo menos para ela.
Todo dia ela o via passar pela rua onde esperava o ônibus de manhã para o trabalho. Apesar do andar pesado, ele caminhava tão livre em sua calça cargo verde-oliva, tênis gigante para seus pés e camiseta branca respingada de tinta azul. Ela se perguntava se a calça era a mesma, ou se ele tinha várias exatamente iguais e porque as camisetas da mesma cor estavam cada dia com mais respingos de tinta.
Depois que ela o via passar, sem nem mesmo olhar para os lados, a ignorando totalmente, ela ficava imaginando para onde ele ia e o que fazia com aquele andar de quem ia para a forca. Ela o imaginava indo a uma praça onde uma multidão o aguardava para assisti-lo sendo enforcado, ou andando por uma prancha de um navio, onde seria atirado aos tubarões. Mas definitivamente não podia ser nada daquilo, caso contrário ele não estaria lá no dia seguinte com aquela mesma expressão e aqueles olhos tão misteriosos que insistiam em não olhá-la.
Naquele dia quando ele passou, ela não deixou por menos e foi atrás. Quem ele pensava que era para nunca olhar para os lados? Ou melhor, para ela. Aquilo tinha que parar, era mistério demais para conviver. Enquanto o seguia chegou a pensar que nem mesmo ele sabia ao certo para onde ir.
Foi então que ele parou parecendo meio intrigado. Olhou para os lados como se soubesse que estava sendo seguido, ela virou imediatamente de costas, e quando ele não viu ninguém, sentou-se em uma mesa na calçada de uma padaria pouco atrativa.
Deu mais uma boa olhada ao redor e retirou de um de seus bolsos um bolo de papel amarrado com barbante, depois, de outro bolso saíram lápis de cor e nanquim, e de um terceiro bolso, tinta e pincel. Agora ela entendia porque ele andava como se carregasse o mundo. Ele realmente o carregava!
Uma moça com expressão de tédio trouxe a ele um café com chantilly e um cinzeiro. Ela sabia exatamente o que ele precisava. “Então é ali que ele se esconde do mundo”, pensou ela. Sem saber o que fazer, e por já ter praticamente perdido a manhã de trabalho, quiçá até o trabalho, resolveu entrar na padaria e comer uns pães de queijo talvez.
Quando ela chegou ao estabelecimento, pronta para entrar e ignorá-lo, ele a viu e levou um susto tão grande que esbarrou em um potinho de tinta azul que caiu na calçada. Ela olhou para trás para encarar aqueles olhos tristes, mas os olhos não estavam tristes, estavam envergonhados, e quando ela olhou para os papéis reconheceu a si mesma.
Era ela pintada naqueles papéis embolados, sentada em um ponto de ônibus, destacada entre uma multidão, com o longo cabelo castanho claro caído nos ombros, e os olhos mais azuis do que ela imaginava que realmente eram. Completamente paralisada, voltou a encarar os olhos do rapaz, que agora não estavam mais envergonhados, tampouco tristes. Eles sorriam para ela de uma forma tão doce que foi impossível não sorrir de volta.
Ele tinha os olhos mais tristes e incríveis que ela já havia visto em toda a sua vida. Ele andava carrancudo, com o corpo encurvado e pesado, como se carregasse o mundo todo nas costas. Mas era lindo, e aqueles olhos, tão comuns e ao mesmo tempo tão perfeitos. Eram olhos de um castanho escuro, opacos, sem vida. Intrigantes pelo menos para ela.
Todo dia ela o via passar pela rua onde esperava o ônibus de manhã para o trabalho. Apesar do andar pesado, ele caminhava tão livre em sua calça cargo verde-oliva, tênis gigante para seus pés e camiseta branca respingada de tinta azul. Ela se perguntava se a calça era a mesma, ou se ele tinha várias exatamente iguais e porque as camisetas da mesma cor estavam cada dia com mais respingos de tinta.
Depois que ela o via passar, sem nem mesmo olhar para os lados, a ignorando totalmente, ela ficava imaginando para onde ele ia e o que fazia com aquele andar de quem ia para a forca. Ela o imaginava indo a uma praça onde uma multidão o aguardava para assisti-lo sendo enforcado, ou andando por uma prancha de um navio, onde seria atirado aos tubarões. Mas definitivamente não podia ser nada daquilo, caso contrário ele não estaria lá no dia seguinte com aquela mesma expressão e aqueles olhos tão misteriosos que insistiam em não olhá-la.
Naquele dia quando ele passou, ela não deixou por menos e foi atrás. Quem ele pensava que era para nunca olhar para os lados? Ou melhor, para ela. Aquilo tinha que parar, era mistério demais para conviver. Enquanto o seguia chegou a pensar que nem mesmo ele sabia ao certo para onde ir.
Foi então que ele parou parecendo meio intrigado. Olhou para os lados como se soubesse que estava sendo seguido, ela virou imediatamente de costas, e quando ele não viu ninguém, sentou-se em uma mesa na calçada de uma padaria pouco atrativa.
Deu mais uma boa olhada ao redor e retirou de um de seus bolsos um bolo de papel amarrado com barbante, depois, de outro bolso saíram lápis de cor e nanquim, e de um terceiro bolso, tinta e pincel. Agora ela entendia porque ele andava como se carregasse o mundo. Ele realmente o carregava!
Uma moça com expressão de tédio trouxe a ele um café com chantilly e um cinzeiro. Ela sabia exatamente o que ele precisava. “Então é ali que ele se esconde do mundo”, pensou ela. Sem saber o que fazer, e por já ter praticamente perdido a manhã de trabalho, quiçá até o trabalho, resolveu entrar na padaria e comer uns pães de queijo talvez.
Quando ela chegou ao estabelecimento, pronta para entrar e ignorá-lo, ele a viu e levou um susto tão grande que esbarrou em um potinho de tinta azul que caiu na calçada. Ela olhou para trás para encarar aqueles olhos tristes, mas os olhos não estavam tristes, estavam envergonhados, e quando ela olhou para os papéis reconheceu a si mesma.
Era ela pintada naqueles papéis embolados, sentada em um ponto de ônibus, destacada entre uma multidão, com o longo cabelo castanho claro caído nos ombros, e os olhos mais azuis do que ela imaginava que realmente eram. Completamente paralisada, voltou a encarar os olhos do rapaz, que agora não estavam mais envergonhados, tampouco tristes. Eles sorriam para ela de uma forma tão doce que foi impossível não sorrir de volta.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Nostalgia
Por Maria Gabriela Brito
Caminhei pela Boulevard Grenelle até virar Garibaldi que virou Pasteur. Comecei a pensar em varias coisas, em como tudo mudou do nada, sem avisos. Agora temos o Davi. Tenho um mundo novo para explorar, e de repente tudo pareceu distante e perto ao mesmo tempo. Lembrei deste blog há tempos esquecido.
Final de faculdade, uma criança vindo, problemas e alegrias, conquistas e expectativas. Este espaço ao qual nos dedicamos tanto no passado parecia pequeno perto de todo o resto, e agora, sem explicação, senti falta dele, e dos meus textos antigos que estavam ansiosos para serem postados.
Não sei quando verei esses devaneios de novo, estão do outro lado do oceano, e continuam ansiosos. Talvez peça para alguém me mandar, até lá eles terão que esperar, e enquanto isso, vou aproveitar os novos ares para tentar escrever novas estórias e histórias.
Dedico este texto retorno à Mônica de Andrade do blog Coisas para se falar, se ver... que apesar de termos sumido, continuou presente. Valeu Mônica!
Caminhei pela Boulevard Grenelle até virar Garibaldi que virou Pasteur. Comecei a pensar em varias coisas, em como tudo mudou do nada, sem avisos. Agora temos o Davi. Tenho um mundo novo para explorar, e de repente tudo pareceu distante e perto ao mesmo tempo. Lembrei deste blog há tempos esquecido.
Final de faculdade, uma criança vindo, problemas e alegrias, conquistas e expectativas. Este espaço ao qual nos dedicamos tanto no passado parecia pequeno perto de todo o resto, e agora, sem explicação, senti falta dele, e dos meus textos antigos que estavam ansiosos para serem postados.
Não sei quando verei esses devaneios de novo, estão do outro lado do oceano, e continuam ansiosos. Talvez peça para alguém me mandar, até lá eles terão que esperar, e enquanto isso, vou aproveitar os novos ares para tentar escrever novas estórias e histórias.
Dedico este texto retorno à Mônica de Andrade do blog Coisas para se falar, se ver... que apesar de termos sumido, continuou presente. Valeu Mônica!
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
A Vigança
Por Maria Gabriela Brito
Ela voltou para casa chorando de tanta raiva. A mãe estava revoltada. “Como um menino pode grudar chiclete no cabelo da minha filha?”. Ela tentava acalmar a menina que não parava de chorar um minuto. A situação piorou quando ficou sabendo que ia ter que cortar os cabelos longos para sua idade.
- Chanel não mãeeeeee! Não queroooooo, não querooooo! Eu não vouuu! – esgoelou a menina.
- Mas você prefere ficar com chiclete grudado no cabelo?
- Prefiro!
A mãe acabou convencendo-a de que a melhor solução era cortar o cabelo. O corte caiu muito bem para o rostinho infantil, e combinava mais com seus apenas oito anos. Ela também gostou. Até que estava se divertindo com toda aquela história de ser vítima, mas não queria que ninguém soubesse.
Na verdade ela tinha um plano. Aquele menino não ia ficar impune nunca! Pensou numa armação mirabolante para infernizar a vida dele e colocou em prática no outro dia.
- Professora! O Igor cortou o meu cabelo!
E desabava em lágrimas.
A professora pegava Igor e o levava direto para a diretoria toda vez que ela inventava alguma coisa e colocava a culpa nele. Foi assim até eles completarem 14 anos. Foi então que Igor precisou mudar de escola. Os dois nunca mais se viram, ela ficou satisfeita porque finalmente havia se livrado dele e completado sua vingança.
Anos se passaram. Ela entrou para a faculdade e a última coisa que passava pela sua cabeça era o Igor. O coitadinho sofreu na mão dela. E ela fez isso com todos os outros meninos, rapazes e homens que algum dia fizeram alguma coisa que ela não havia gostado. Ela ficou desse jeito por causa dele. Estava sempre na defensiva.
Completou a faculdade, tinha um trabalho estável e nenhum namorado. Nada daquilo fazia diferença para ela. Alguns casinhos básicos de vez em quando, nada demais. Até que conheceu ele, lindo, alto, moreno, sorriso encantador. Ele a fez esquecer toda a raiva que tinha acumulada do sexo oposto desde seus oito anos. Era maduro, tinha um bom emprego, era perfeito.
Tudo que ela não havia procurado a vida inteira. Ela pensava de onde ele havia saído. Mas ele sabia muito bem quem era ela. Aos 14 anos foi expulso da escola, nenhuma outra particular quis aceitá-lo. Começou em uma estadual, mas não foi muito bem vindo. Não fez nenhum amigo. Ele teve que mudar de cidade, começou uma nova vida, e depois decidiu voltar.
Agora eles estavam juntos, e ela encantada por ele. Era sua chance de vingança. Almoçavam juntos quase todos os dias, e ela ficava maravilhada com a conversa dele. Era bom demais para ser verdade. Neste dia em especial, em meio aos assuntos animados, ele pediu licença para ir ao banheiro. Ao sair deu-lhe um beijo carinhoso e acariciou o longo e liso cabelo dela.
Não voltou mais. Ela começou a estranhar a demora. Levantou-se e foi ao banheiro também. Quando se olhou no espelho reparou em algo grudento e colorido espalhado pelo cabelo. Era chiclete. Foi ai que ela se lembrou dele. “Maldito!”, pensou. Saiu dali direto para o cabeleireiro, onde fez um chanel igual aquele de quando tinha oito anos. Prometeu que encontraria ele e pediria revanche. Ele por outro lado foi embora, achando que finalmente tinha se vingado.
Ela voltou para casa chorando de tanta raiva. A mãe estava revoltada. “Como um menino pode grudar chiclete no cabelo da minha filha?”. Ela tentava acalmar a menina que não parava de chorar um minuto. A situação piorou quando ficou sabendo que ia ter que cortar os cabelos longos para sua idade.
- Chanel não mãeeeeee! Não queroooooo, não querooooo! Eu não vouuu! – esgoelou a menina.
- Mas você prefere ficar com chiclete grudado no cabelo?
- Prefiro!
A mãe acabou convencendo-a de que a melhor solução era cortar o cabelo. O corte caiu muito bem para o rostinho infantil, e combinava mais com seus apenas oito anos. Ela também gostou. Até que estava se divertindo com toda aquela história de ser vítima, mas não queria que ninguém soubesse.
Na verdade ela tinha um plano. Aquele menino não ia ficar impune nunca! Pensou numa armação mirabolante para infernizar a vida dele e colocou em prática no outro dia.
- Professora! O Igor cortou o meu cabelo!
E desabava em lágrimas.
A professora pegava Igor e o levava direto para a diretoria toda vez que ela inventava alguma coisa e colocava a culpa nele. Foi assim até eles completarem 14 anos. Foi então que Igor precisou mudar de escola. Os dois nunca mais se viram, ela ficou satisfeita porque finalmente havia se livrado dele e completado sua vingança.
Anos se passaram. Ela entrou para a faculdade e a última coisa que passava pela sua cabeça era o Igor. O coitadinho sofreu na mão dela. E ela fez isso com todos os outros meninos, rapazes e homens que algum dia fizeram alguma coisa que ela não havia gostado. Ela ficou desse jeito por causa dele. Estava sempre na defensiva.
Completou a faculdade, tinha um trabalho estável e nenhum namorado. Nada daquilo fazia diferença para ela. Alguns casinhos básicos de vez em quando, nada demais. Até que conheceu ele, lindo, alto, moreno, sorriso encantador. Ele a fez esquecer toda a raiva que tinha acumulada do sexo oposto desde seus oito anos. Era maduro, tinha um bom emprego, era perfeito.
Tudo que ela não havia procurado a vida inteira. Ela pensava de onde ele havia saído. Mas ele sabia muito bem quem era ela. Aos 14 anos foi expulso da escola, nenhuma outra particular quis aceitá-lo. Começou em uma estadual, mas não foi muito bem vindo. Não fez nenhum amigo. Ele teve que mudar de cidade, começou uma nova vida, e depois decidiu voltar.
Agora eles estavam juntos, e ela encantada por ele. Era sua chance de vingança. Almoçavam juntos quase todos os dias, e ela ficava maravilhada com a conversa dele. Era bom demais para ser verdade. Neste dia em especial, em meio aos assuntos animados, ele pediu licença para ir ao banheiro. Ao sair deu-lhe um beijo carinhoso e acariciou o longo e liso cabelo dela.
Não voltou mais. Ela começou a estranhar a demora. Levantou-se e foi ao banheiro também. Quando se olhou no espelho reparou em algo grudento e colorido espalhado pelo cabelo. Era chiclete. Foi ai que ela se lembrou dele. “Maldito!”, pensou. Saiu dali direto para o cabeleireiro, onde fez um chanel igual aquele de quando tinha oito anos. Prometeu que encontraria ele e pediria revanche. Ele por outro lado foi embora, achando que finalmente tinha se vingado.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Quem gosta?
Começou a corrida eleitoral! São centenas de candidatos em busca de votos, e para isso utilizam todas as artimanhas e ferramentas possíveis e impossíveis, bombardeando os eleitores com propagandas e promessas na maior parte das vezes ilusórias. E o pior, é sempre o mesmo discurso, o que deixa a população cansada e desestimulada a acompanhar as propagandas eleitorais nas rádios e tv's. Quem se prontifica a ouvir todos os dias a mesma ladainha?
Vez por outra, durante todo o período eleitoral, os programas ganham uma informação ou quadro novo, para não dizer que estão fazendo os eleitores de bobo, assistindo durante quase 40 dias a mesma conversa fiada. Quem gosta?Os santinhos são sempre iguais, nada inovador aparece no visual, muito menos no conteúdo. Utilizam outdoors, faixas e cavaletes, causando total poluição visual pelas ruas das cidades. E aí entra outra questão revoltante. Se qualquer cidadão quiser utilizar espaço público para divulgar o seu negócio ele é impedido e multado, agora para políticos quer querem somente se eleger, e depois nem se preocupam com seus deveres perante a população o espaço é liberado, com respaldo de lei federal. Quanta injustiça! Já começa daí a desigualdade e hipocrisia que toma conta do nosso país.
Até há algum tempo atrás não tinha parado para refletir sobre essas questões eleitorais, só me sentia enfadada dessas propagandas e me dava (e ainda dá) arrepios de repugnânicia só de pensar nos massantes horários eleitorias. Mas em uma mesa de bar sempre surge algo construtivo, promissor ou no mínimo reflexivo. Pessoas desconhecidas há até 30 minutos atrás viram verdadeiros amigos de infância, as piadas tem seu momento especial na mesa, e assuntos polêmicos vem a tona, e política é quase semrpe um deles.
Papo vai, papo vem, quando estávamos no calor da conversa sobre em quem votar surge a questão do voto facultativo. Taí! Talvez seja a solução para deixarmos de eleger esses políticos com alto poder e técnica persuasiva, onde os atingidos são principalmente os menos politizados (a maioria da população), que por fim acabam elegendo os políticos bom de papo e ruim de fato.
Seria o caso de se pensar nessa inovação, uma reformulação das leis eleitorais. O voto estaria nas mãos de quem entende e quer participar da política brasileira, quem não se interessa não precisaria votar nulo, em branco, ou no candidato que está vencendo, só por votar, sem consciência, por obrigação. E para a maioria da popolação não ficar alienada, deveria existir um investimento na educação política da população, politizando a massa, fazendo assim com que ela tenha consciência no ato de votar.
Mas enquanto tudo isso não acontece, vou ligar a televisão na hora do meu descanso e apreciar o espetáculo gratuito eleitoral, que funciona como musiquinha de ninar para meus ouvidos!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Todo mundo deve satisfação a alguém
Por Maria Gabriela Brito
Olhou seu reflexo no espelho admirado. Deu uma ajeitada na gravata e escovou os cabelos com gel perfeitamente alinhados. Saiu do banheiro e pegou sua maleta na cama de casal onde sua mulher ainda dormia. A suíte chiquérrima ficava no segundo andar da mansão localizada no Jardim Europa, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo.
Desceu as escadas, virou à direita, atravessou a lareira, a sala de jantar até a cozinha. Abriu a geladeira de aço inox e pegou um Ades de maçã, colocou em um copo de cristal, bebeu uns goles e deixou o resto na pia impecavelmente limpa pela empregada. Voltou pelo mesmo caminho e seguiu até a sala de estar chegando ao hall de entrada.
Abriu a gigante porta de madeira entalhada e saiu para a garagem. Entrou no fusion preto, que era o carro para ir ao trabalho, que estava bem ao lado do porshe também preto, e o PT Cruiser verde-musgo da esposa. Entrou no carro, ligou o ar condicionado e o som programado para sua rádio favorita de música orquestrada.
Seguiu para mais um dia de trabalho. Chegou em um prédio de 32 andares espelhado de azul. Guardou o carro no estacionamento, subiu por um elevador elegante até o 31º andar onde ficava seu escritório. Ali funcionava uma multinacional da qual ele era presidente.
Entrou, deu bom dia a sua secretária e foi para sua sala toda de vidro com uma visão panorâmica da cidade. Recebeu telefones o dia todo. Deu muitas ordens à secretária, ao diretor executivo, ao advogado e ao vice- presidente, um velho amigo. Passou o dia mandando.
Mandou a faxineira varrer melhor, mandou a estagiária trazer mais café. Mandou a secretária fazer inúmeros telefonemas. Mandou, mandou e mandou. Era o que ele fazia de melhor. Quando criança mandava na mãe, no pai, e na irmã mais velha. Ele não se via em outra posição senão a de chefe, onde ele só mandava e nunca era mandado.
Passou aquele dia como qualquer outro, mandando em tudo e em todos. Depois de encerrado o período de trabalho ele continuou por lá. Sempre era o último a sair. Fazia o possível para chegar em casa tarde. Já eram perto das 21h quando o celular começou a tocar.
Ele fez questão de não atender, mas sabia que precisava voltar. Recolheu seus papéis, guardou na pasta de couro e foi embora. Chegou em casa, deu um suspiro antes de abrir a porta e entrou.
-Onde você estava? – perguntou a mulher nervosa.
-Trabalhando. – respondeu seco.
-Pode começar a chegar mais cedo! Você vai chegar mais cedo! - Berrou ela descontrolada.
-Ok. Você que manda. – Respondeu carrancudo, subiu as escadas e foi dormir. Amanhã tinha muita gente para ele descontar.
Olhou seu reflexo no espelho admirado. Deu uma ajeitada na gravata e escovou os cabelos com gel perfeitamente alinhados. Saiu do banheiro e pegou sua maleta na cama de casal onde sua mulher ainda dormia. A suíte chiquérrima ficava no segundo andar da mansão localizada no Jardim Europa, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo.
Desceu as escadas, virou à direita, atravessou a lareira, a sala de jantar até a cozinha. Abriu a geladeira de aço inox e pegou um Ades de maçã, colocou em um copo de cristal, bebeu uns goles e deixou o resto na pia impecavelmente limpa pela empregada. Voltou pelo mesmo caminho e seguiu até a sala de estar chegando ao hall de entrada.
Abriu a gigante porta de madeira entalhada e saiu para a garagem. Entrou no fusion preto, que era o carro para ir ao trabalho, que estava bem ao lado do porshe também preto, e o PT Cruiser verde-musgo da esposa. Entrou no carro, ligou o ar condicionado e o som programado para sua rádio favorita de música orquestrada.
Seguiu para mais um dia de trabalho. Chegou em um prédio de 32 andares espelhado de azul. Guardou o carro no estacionamento, subiu por um elevador elegante até o 31º andar onde ficava seu escritório. Ali funcionava uma multinacional da qual ele era presidente.
Entrou, deu bom dia a sua secretária e foi para sua sala toda de vidro com uma visão panorâmica da cidade. Recebeu telefones o dia todo. Deu muitas ordens à secretária, ao diretor executivo, ao advogado e ao vice- presidente, um velho amigo. Passou o dia mandando.
Mandou a faxineira varrer melhor, mandou a estagiária trazer mais café. Mandou a secretária fazer inúmeros telefonemas. Mandou, mandou e mandou. Era o que ele fazia de melhor. Quando criança mandava na mãe, no pai, e na irmã mais velha. Ele não se via em outra posição senão a de chefe, onde ele só mandava e nunca era mandado.
Passou aquele dia como qualquer outro, mandando em tudo e em todos. Depois de encerrado o período de trabalho ele continuou por lá. Sempre era o último a sair. Fazia o possível para chegar em casa tarde. Já eram perto das 21h quando o celular começou a tocar.
Ele fez questão de não atender, mas sabia que precisava voltar. Recolheu seus papéis, guardou na pasta de couro e foi embora. Chegou em casa, deu um suspiro antes de abrir a porta e entrou.
-Onde você estava? – perguntou a mulher nervosa.
-Trabalhando. – respondeu seco.
-Pode começar a chegar mais cedo! Você vai chegar mais cedo! - Berrou ela descontrolada.
-Ok. Você que manda. – Respondeu carrancudo, subiu as escadas e foi dormir. Amanhã tinha muita gente para ele descontar.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Imprensa irritante
Há mais de um mês não se vê assunto em maior evidência do que a morte de Eliza Samudio, ex-amante de Bruno Fernandes das Dores de Souza, ex-goleiro do Flamengo. Ok, tenho de concordar que foi um crime bárbaro, se os depoimentos colhidos forem totalmente verídicos. Mas existem milhares de crimes absurdamente maldosos acontecendo por aí, todos os dias, e nem por isso eles viram manchetes de jornais durante semanas.
Eu sei que o caso do Bruno se torna mais interessante pelo fato do criminoso ser uma pessoa pública. Mas isso não justifica a imprensa dar tanta relevância isso. Focar em um crime enquanto, no mês passado, dezenas de pessoas morreram, ficaram sem casa e família por causa de um desastre da natureza, deixar de lado as eleições que se aproximam, onde os jornalistas deveriam atuar de maneira informativa, para auxiliar a população a se interar sobre os candidatos. O Código Florestal está sendo modificando, possibilitando maior destruição de nossas florestas, retirando multas e amenizando as penas de quem um dia já cometeu algum crime ambiental. Quantos brasileiro sabem disso?
A imprensa está realmente interessada em trabalhar para o bem da sociedade? O que eu vejo são meios de comunicação obssecados por audiência, e, para estar em primeiro lugar, todos se utilizam de qualquer assunto polêmico para a população, sem se preocupar com o real dever do jornalismo. Sem se atentar em ajudar a sociedade a se tornar cada vez melhor.
Eu estou de saco cheio de ouvi falar do caso Bruno, assim como fiquei enfurecida na época do caso Ronaldo e seus travestis, do garoto João Hélio. E no final, alguém aí sabe me dizer como todas essas histórias acabaram? É tanto alvoroço e especulação, para no fim, ficarmos sem saber o desfecho.
Eu quero uma imprensa inteligente e comprometida com a sociedade. Aqui fica também o meu protesto, contra essa imprensa manipuladora e leviana em relação aos interesses da sociedade. Por isso optei por ser jornalista. O que se precisa é de gente honesta, comprometida e qualificada, para garantir o progresso.
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