segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Maria

Por Maria Gabriela Brito

Quando nasceu sua mãe não pensou duas vezes ao escolher seu nome: “Maria, como a santa”. O pai era um pobre coitado que mal tinha onde cair morto, a mãe era uma órfã herdeira de uma grande fortuna. Despreparado e apavorado, o pai fugiu sem deixar rastros, abandonando Maria e sua mãe.
As duas eram a única família uma da outra. Maria foi criada no conforto e no carinho da mãe. Estudou nas melhores escolas. Porém, a menina sempre fora meio perturbada, a ausência do pai e a falta de outros familiares mexiam com a cabeça dela. Na formatura do terceiro colegial, Maria observou as mesas de seus colegas: lotadas. A dela: duas cadeiras, ela e a mãe.
Aos dezessete anos, não agüentava mais aquele ambiente, ela e a mãe, ela e a mãe. Era muito grata a tudo que possuía, havia sido muito bem criada, mas aos poucos foi saindo de casa e procurando outras bandas. Começou a freqüentar boates gays, onde a moral era outra e a orgia corria solta.
Beijou meninas, beijou meninos, beijou gays, cheirou pó. A mãe não percebia a situação em que a filha estava. Maria sabia disfarçar: o nome e a cara eram de santa. Começou a vender seu corpo. Conheceu meninas que faziam o mesmo, porque ela também não podia? Dinheiro era a última coisa que ela precisava, mas ela gostava de um capricho.
Maria era um prato cheio para qualquer psicólogo, a ausência do pai causava nela uma busca incessante por uma presença masculina. Aos dezoito anos, sexo era tudo o que passava pela sua cabeça. A faculdade particular de engenharia mecatrônica fora mais um motivo para procurar homens. O curso era formado por 94% de homens e 93% já haviam passado a noite com Maria.
Aqueles gritos a enfeitiçavam enquanto ela estava em ação: “Maria!”. Ganhou muito dinheiro com o que fazia. Ás vezes ela não cobrava. Passou a freqüentar novos lugares, conhecer homens mais velhos. Aqueles meninos já não sabiam satisfazer seu desejo. A mãe já era uma completa ausente em sua vida. Maria nunca estava em casa, inventava trabalhos e trabalhos para manter-se afastada e a noite procurava quem iria saciá-la.
Foi em um desses botecos baratos que Maria conheceu Humberto. Quarentão atraente. Cabelos semi-grisalhos bem aparados, rosto jovial, pele morena e corpo de trintão. Maria não hesitou em puxar papo. Humberto logo se atraiu pelas pernas grossas e torneadas e seios fartos de Maria. A pele branca e os cabelos escuros, deixavam visíveis os olhos verdes marcantes, realçados por lápis e rímel preto.
A conversa foi longe, Maria não conseguia mais conter a vontade de ter aquele homem dentro dela. Convidou-o para ir até sua casa, onde sua mãe dormia tranquilamente. Ao entrar pela porta grande de madeira, Maria deparou-se com uma luz acesa, a mãe estava concentrada na leitura de um livro, Maria tentou subir para seu quarto sem barulho, mas Humberto ficou parado observando a casa.
“Adriana?”, falou Humberto indignado. A mãe de Maria, sentada de costas para a porta por onde eles entraram, olhou por cima dos ombros e não pode acreditar no que seus olhos estavam vendo. O pai de Maria. Adriana viu os dois de mãos dadas e descontrolada perguntou o que Maria fazia com ele. A garota sem saber o que fazer, fitou os dois e soltou a mão de Humberto agressiva.
“Quem é ele mãe?”. “Mãe?”. Humberto não podia se conter mais diante da presença da filha que ele abandonara vinte anos atrás. “Seu pai” falou a mãe já não conseguindo esconder as lágrimas de pavor pela situação. “O que você fez com ela?”-“eu não encostei nela, Adriana”.
Maria observou a cena que sempre quis vivenciar: uma briga de pai e mãe, mas aquilo não era bem o que ela imaginava, quase fora para cama com seu pai, sentiu tesão por ele, aquilo era repugnante. O tão esperado encontro entre pai e filha aconteceu da pior maneira possível. Adriana mandou Humberto para fora de suas vidas e afirmou que ele já havia causado sofrimento o suficiente.
Humberto, que ainda não queria a responsabilidade de uma filha, sumiu mais uma vez, sem deixar rastros. Maria e a mãe nunca mais tocaram no assunto. Maria graduou-se com vinte e dois anos e nem o mundo, ela ou a mãe a consideravam mais uma santa como quando nasceu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Oito horas de internet

 Por Sarah Menezes

E mais um dia amanhece, e, como de costume, me apronto e vou trabalhar. Chegando à empresa, a primeira coisa a se fazer é ligar o computador para assim poder começar a trabalhar, pois trabalho com assessoria de imprensa de uma empresa de tecnologia. Todos os dias seguem a mesma rotina.
Com o computador ligado, entro no Messenger (sala de bate papo online), dou uma olhada no Orkut, e uma conferida nos e-mails, e duvido que a primeira coisa que você faça ao ligar o PC não seja exatamente o que eu faço, se não for, que atire a primeira pedra.
Trabalho 8 horas por dia na frente de um computador, e praticamente todas as minhas tarefas são executadas nele, e no intervalo de uma hora e outra sempre vou dar uma espiadinha para ver se alguém me deixou um recado na tão viciante rede social chamada Orkut, afinal preciso saber dos acontecimentos, programações que me enviam através dele, quero ver até mesmo quem me escreve só por estar com saudade, ou só mesmo por escrever, porque dou uma descontração no meu dia, e assim ele não fica tão pesado, e de certa forma se torna mais agradável, afinal ninguém é de ferro para aguentar um dia de trabalho sem nenhuma hora de descontração.
Tenho de confessar que o meu Messenger fica online o tempo todo, claro que cumpro com as minhas obrigações no trabalho, mas sempre estou a conversar com um amigo sobre a noite de ontem, ou o que faremos hoje, e incrivelmente, através dele ficamos sabendo de todas as fofocas, festas e ainda há um jogo de sedução nas conversas com quem nos interessamos.
Falando dessa forma, até parece que o meu dia se resume a Orkut e MSN né? Mas não é bem assim, trabalho o tempo todo conectada à internet, o que me proporciona estar antenada com as informações, que chegam ao internauta praticamente em tempo real, o que é excelente para mim e principalmente para minha carreira, pois o mínimo que uma jornalista tem que fazer é estar por dentro de todos os acontecimentos do mundo.
Outro benefício deste veículo de comunicação para eu poder desenvolver meu trabalho é que toda dúvida que eu venha a ter é sanada na mesma hora, pois tenho em mãos, ou nas pontas dos dedos, como preferirem, um grande universo de informações, onde encontro praticamente tudo o que pesquiso. Essa vantagem faz com que eu desenvolva um trabalho consistente e sem perder tempo.
Entre vantagens e desvantagens, por fim acredito que tal tecnologia veio para nos auxiliar, trazer conforto, conhecimento, praticidade e entretenimento, e quando é utilizada de maneira erronia é que surgem os prejuízos, maldades, trapaças, prejuízos à saúde. O importante é explorar todos os benefícios oferecidos por ela, utilizando-a a nosso favor.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

90% de popularidade e 10% de carisma do presidente


Por Mônica Salmazo




“A ligação de Lula com o PT é de criatura e criador, de pai e filho”, acho que devemos perguntar para Gilberto Carvalho se ele tem certeza dessa relação, pois está mais para ligação entre banco e fornecedor. Em uma entrevista o chefe-de-gabinete fez esta e várias outras afirmações sobre o presidente, o “baixinho” - apelido carinhoso pelo qual Lula o chama – o conhece tão bem que fizera comentários até mesmo sobre o humor e jeitinho do nosso governante. Disse que a cabeça de Lula é a do peão do ABC, será que todos os peões do ABC realmente tem um palácio, ternos, viagens, mesa farta, escritório e um país inteiro para governar? E o dedinho? Onde fica? Ou não fica? Balela não? É difícil mas não é impossível certo?!

O presidente têm estado preocupado com a economia, “que representa 90% de sua popularidade”, não Luiz, não Gilberto, espera aí, é Luiz ou é Gilberto?, seja quem for está errado, economia não é popularidade, é muito dinheiro na mesa de poucos, e muita mesa no troco de muitos. Será mesmo? “Só os outros 10% vêm do carisma”, carisma?, verdade, somos bem simpáticos a feriados, pois sempre tem o tio que junta todo mundo para tomar umas cervejinhas, pinguinhas, ou seria cachacinhas? Bem popular o senhor presidente. Agora parou? Para não, afinal, vamos imaginar a mãe do Lula dizendo: “Você pensa que sem estudar, sem trabalhar e bebendo cachaça vai conseguir ser alguém na vida?”. Sim, é difícil mas não é impossível certo?! Vamos todos melhorar os setores de bebidas e de promoção de eventos, quem sabe assim não nos tornaremos ótimos governantes pelo menos em nossas próprias cidades ou casas?
O Vavá, irmão do Luiz, foi acusado de tráfico de influência e por pedir dinheiro a lobistas, “méol déols”, prefiro nem comentar. AH, e o Lulinha? Provavelmente não tenha sido muito diferente dos homens da família, foi bem sucedido, tem até associação com o presidente da Telemar para uma concessionária pública, o pai não vê problemas, afinal, o filho tomou uma “iniciativa pessoal e está batalhando”. Sim, ele é outro dos famosos peões do ABC, todos são batalhadores. (?!)


Um terceiro mandato, diz Gilberto que Lula não pensa ou cogita essa possibilidade, mas que “o presidente até pode tentar voltar em 2014”, o que será que ele irá fazer até lá? Segurem-se e guardem a água-ardente debaixo do colchão. Festinha no ABC!
Não sei como está por aí, mas por aqui estou parcialmente satisfeita (ou seria insatisfeita?), com as decisões do senhor presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva. Quero me candidatar à presidência. Mensalinho vale? Cartão é muita tecnologia, mas cheque corporativo seria interessante.

Ow Lula, manda cheque corporativo para os peões do ABC, não se esqueça do meu endereço. Quando precisar de uma ajuda, talvez uma cueca com alguns dólares, não é a do petista, mas talvez sirva como creme hidratante. Afinal, é difícil, mas não é impossível!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Positivo

Por Maria Gabriela Brito

Andou de um lado para o outro no banheiro. Parou cabisbaixa em frente a pia, levantou os olhos e observou no espelho seu rosto inchado de tanto chorar. Passou os dedos entre os cabelos louros e cheios, os cachos subiam e desciam em movimento de mola. Resolveu sentar. Fechou a tampa da privada e acomodou-se ali mesmo. A cabeça debruçada sob as mãos latejava muito.
“Positivo...” pensou ela. O pensamento apoderou-se de sua mente fazendo sua cabeça latejar mais um pouco. “Positivo! Positivo? Positivo...”. Ela não sabia o que pensar, a imagem do teste de gravidez sinalizando positivo simplesmente não saia da cabeça dela. As lágrimas escorriam por seu rosto, fazendo a cor azul de seus olhos ficar ainda mais azul.
Levantando a cabeça, procurou o teste pelo banheiro. Estava jogado sob o tapete rosa berrante bordado com os escritos “Barbie” em branco e uma estrelinha ao final da palavra. Por um momento ela observou o tapete. “Patético”; pensou. “Pa-té-ti-co” falou em voz alta seguida de uma risadinha desesperada. Olhou ao seu redor. O banheiro era todo “patético” como ela mesma havia definido.
O piso era rosa bebê, as paredes eram em ladrilhos brancos rodeadas por duas fileiras ao meio em ladrilho rosa escuro. A cerâmica da pia, vaso sanitário e bidê, assim como toalhas de rosto e banho, além da moldura do espelho, também eram rosa. Em cima da pia haviam cremes, uma pasta dental sabor tutti-frutti e uma escova de dente, é claro, rosa.
“Rosa, porque essa cor?” raciocinou afastando por alguns segundos a imagem do teste de gravidez. Logo ela lembrou: rosa era a cor do teste ao indicar positivo. Aquela ligação fez com que a menina desabasse em lágrimas novamente. “Não pode estar certo, foi só aquela vez”. Ela lembrou do dia em que saiu mais cedo da escola e andou alguns quarteirões até a casa do namorado, que havia faltado a aula.
Os pais estavam no trabalho. Conversa vai, conversa vem, beijos e amassos; mãos e pernas. Gemidos. “Foi bom”. Aquela lembrança a fez arrepiar inteira. Um suspiro a trouxe de volta a realidade de seu banheiro adolescente. Ainda sentada na tampa do vaso ela decidiu levantar. Deu uma boa olhada no espelho e jogou uma água fria no rosto. Ficou parada por alguns instantes observando seu rosto redondo e infantil.
“Pareço um bebê” pensou. “Um bebê cuidando de outro bebê”, a idéia a fez rir um pouco. Olhou para baixo e passou as mãos sob a barriga lisinha. Ela levantou a blusa e se observou no espelho. O piercing refletiu a luz e brilhou um pouco. Abaixou a blusa e sentou no seu tapete da Barbie abraçando as pernas e escondendo o rosto em uma das mãos. Mais calma começou a pensar no próximo passo.
“Vou ter que contar para minha mãe e depois ela conta pro meu pai” por um momento ela esqueceu do namorado. Não queria contar pra ele. Queria esquecer ele, queria distância dele. “Ele não vai querer, eu também não quero...”. Analisou as possibilidades. “Não vou conseguir fazer isso”. Ela simplesmente não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo com ela.
Já havia visto em filmes situações assim, lido em revistas, mas não havia imaginado com ela. Era ela agora. Ela era a personagem de filmes, ela era a menina da revista. Resolveu sair do banheiro e dar uma volta no quarteirão. Tirou a camiseta de uniforme e vestiu uma regatinha azul que exibia parte de sua barriga. Manteve a calça que estava e o all star xadrez de azul e lilás.
Saiu de casa sem se despedir de ninguém. Andou um pouco e se deparou com uma farmácia. Pensou. Pensou de novo. Entrou e comprou outro teste. Voltou correndo para casa como um maratonista a segundos da vitória. Entrou no local da aflição novamente: o banheiro. Fez tudo o que o teste dizia, esperou um pouco e minutos depois o resultado: negativo. Depois daquele dia, ela não quis mais saber do namorado e fez de tudo para aproveitar o que restava de sua infância. Que ainda fazia parte dela.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Conseqüências de uma paixão

Por Sarah Menezes

Uma garota normal, na verdade uma menina-mulher: no auge de seus 22 anos. Virginiana convicta, tímida, perfeccionista, sem muitos amigos e cheia de esperança na vida. Buscava a felicidade e a libertação da casa dos pais. Lá, ela se sentia reprimida e impossibilitada de fazer suas vontades. Assim era o mundinho de Tatiana.
Dentro da família nunca foi a mais bela,media 1,55 m, pesava 42 kg, cabelos quase sempre presos em um rabo-de-cavalo. Longos e ondulados eram mesclados em mexas loiras, destaque para o visual. Não tinha nada que chamasse muita atenção, era recatada, porém de personalidade forte.
As brigas com seu pai eram constantes. Ele sempre lhe fazia inúmeras proibições, à ela e às suas irmãs, por isso todas desejavam casar para saírem logo debaixo das asas do pai conservador. As duas filhas mais velhas conseguiram isso, uniram-se aos seus parceiros e constituíram a própria família, e Tatiana, ainda mais nova, continuou ali, presa, sonhando com o dia que teria sua liberdade.
Com o caráter e seriedade de mulher, e a inocência e timidez de uma menina, Tati (como todos a chamava), começou a trabalhar, tornando-se um pouco mais independente. Passou por alguns empregos, começou dois cursos na faculdade e nenhum foi concluído, teve alguns romances, uns mais sérios, outros só por curtição, mas mesmo tendo uma vida comum ela não estava satisfeita. Queria ter a liberdade de fazer suas próprias escolhas e segui-las, sem repressões ou proibições do pai severo, no entanto não tinha encontrado ninguém que se dispusesse a casar para ela poder se ver livre do inferno que tanto a incomodava. Sua busca era incessante, mas, até o momento, em vão.
Certo dia estava em casa, ajudando sua mãe com os a fazeres domésticos, quando sua irmã Lúcia, o marido Walter e os filhos pequeninos apareceram para uma visita. Conversa vai, conversa vem, Walter falava empolgado de sua nova loja no shopping, contava como andavam prósperos os negócios, e planos que fazia para o crescimento de suas empresas. Foi quando ele teve uma brilhante ideia, por saber que Tatiana estava desempregada e sem atividade alguma, resolveu dar uma chance a ela, fez o convite para que a garota fosse vendedora em uma das suas lojas de sapato. Tati, é claro, aceitou a proposta, visando sempre sua independência.
Tatiana começou o seu trabalho. Atenta aos clientes, fazia com eficiência tudo o que lhe era mandado. Ela trabalhava na loja em que Walter permanecia durante todo o dia. Ele preferiu assim para analisar de perto o desempenho da garota. Tati ia bem, nada extraordinário, que surpreendesse seu cunhado. Não dava muitos lucros, mas também não dava despesas, por isso Walter decidiu ajudá-la. Aconselhava ela a voltar aos estudos. Mostrava os pontos, que na opinião dele, ela precisava melhorar, entre outras coisas. Ao começar a seguir as instruções, Tatiana percebeu as coisas dando cada vez mais certo.
Apesar de estar amadurecendo, ainda tinha pensamentos e confusões de uma garota de 15 anos. Certo dia ela percebe que se apaixonou loucamente pelo cunhado. Decide então manter esse sentimento dentro de si, pois era algo incabível dentro da sociedade. Numa manhã de quinta-feira, Tati começava sua jornada de trabalho, e como na loja ainda não tinha chegado nenhum cliente resolveu acessar o bate-papo online.
O cunhado estava on e foi falar com ela. Isso já era de costume, o que não foi normal foi o rumo que a conversa tomou. Walter começou a fazer perguntas sobre os relacionamentos da garota, indagava sobre seus gostos sexuais, e Tatiana, sem saber como reagir, apenas respondia as perguntas. O diálogo começou a esquentar, Walter atiçou o lado mulher de sua cunhada. Tatiana, apaixonada pelo marido da irmã, deixou as coisas acontecerem. Queria desfrutar um pouco dos prazeres da vida.
A partir de então, os dois começaram um relacionamento proibido, no qual ele queria apenas satisfazer a sua fantasia de se envolver com a “cunhadinha" que sempre leu em contos eróticos, e ela, saciar aquele sentimento avassalador que a consumia.
Foram três longos meses em que Tatiana viveu o melhor romance de sua vida. Estava deslumbrada, enquanto Walter já havia satisfeito todas as sacanagens que passavam pela sua cabeça, não via mais interesse em prosseguir com o relacionamento, decidindo colocar um ponto final na história dos dois. A reação de Tati perante a notícia do fim de tudo surpreendeu o cunhado. No primeiro instante, ela não entendeu o que estava acontecendo, depois se descontrolou e começou a pedir incessantemente para que ele não acabasse com tudo. Em seguida teve uma crise nervosa, se debatia pelo chão e teve que ser levada as pressas para o hospital.
A desculpa que inventaram para o ataque de nervos de Tatiana foi uma suposta briga com uma cliente, e ninguém duvidou. Walter ficou assustado, decidiu conversar sério e definitivamente terminar com uma história que agora ele percebia que não deveria ter começado.
Na primeira oportunidade o cunhado foi falar com Tati. Tentou entrar no assunto aos poucos, mostrando que aquilo tudo não terminaria bem se não acabasse por ali. Tatiana sentiu-se usada, e com raiva de Walter, não queria aceitar ser abandonada, e não concordava com nada que ele falava, mas sem pensar duas vezes o cunhado pôs um fim em tudo, virou as costas e foi embora deixando agora uma mulher-menina aos prantos.
Enfurecida e desnorteada Tatiana contou tudo aos pais, na tentativa de se vingar de Walter. O pai, incompreensível, a espanca e expulsa de casa. Tatiana vai embora e a primeira coisa que veio à mente foi ir até a casa de Lúcia, sua irmã, e lhe contar tudo. Sem nenhum remorso ela dá detalhes à irmã. Percebeu então que havia passado de todos os limites, partiu sem rumo.
A esposa de Walter não conseguiu acreditar no que acabara de ouvir da própria irmã, uma dupla traição por parte de pessoas que ela amava incondicionalmente. Tentou conversar com seu marido, buscando uma razão consistente para tudo isso, queria ouvir que tudo aquilo era mentira, mas Walter não teve a coragem de negar, e assim o mundo dela desmoronou.
Na madrugada daquele doloroso dia, Lúcia se jogou da janela do décimo terceiro andar e não sobreviveu, deixando para Walter, apenas a dor da perda da amada, o remorso e seus dois filhos para ele criar.
E Tatiana? Essa já ninguém sabia onde estava, nem ela mesma, entretanto, finalmente conseguiu o que queria: sair de casa. Enlouqueceu. Viveu pelas ruas, dormindo de albergue em albergue, até o dia em que ela adormeceu.
E não acordou mais.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tudo que é duro


Por Mônica Salmazo.
Era começo de namoro, tudo estaria perfeitamente bem, se não fosse a mania do “já volto” que o namorado insistia em ter.
 -- “Vamos tomar um café?” ela perguntava.
 -- “Claro, eu só vou fazer umas coisinhas e já volto”.
 O dia acaba e ele não volta.
 -- “Quem sabe poderíamos assistir um filme?”
 -- “Ok, então eu já volto”.
E ela até pensava nele falando “já volto” quando ela urgia de tesão. Lá se ia ele, para não voltar até o dia seguinte. O sexo era bom, aliás, fantástico, ela costumava dizer para as amigas que tudo que entra duro, consegue se manter duro nele. Mas ela queria mais, e a mania do “já volto” a estava matando. Fazia planos para a noite dos sonhos, onde iria jantar em um restaurante qualquer, voltar para casa e então fazer amor a noite inteira. Amor não, sexo! Por que ela gostava era de sexo, amor era para casais apaixonados que tentam reprimir seus desejos. Mas tinha que dizer amor, afinal, se não dissesse todos iriam achar que ela era uma maníaca, e julgá-la como uma moça que nunca seria “de família”.
Em um desses dias, decidiu averiguar o que o namorado tanto fazia logo em seguida do “já volto”. Convidou-o para um almoço, e após alguns minutinhos o “já volto” surgiu. Pagou a conta e seguiu o namorado, andando na direção de apartamentos de estudantes, avistou-o entrando em um deles. Como não poderia entrar resolveu esperar do lado de fora.
Seus cabelos ruivos foram cobertos por uma peruca morena com franjinha, e os olhos verdes atrás do óculos escuro que havia comprado em uma dessas lojas baratas.
Após horas o namorado continuava lá, mas não poderia esperar mais, já estava atrasada para o trabalho, e resolveu deixar para surpreendê-lo outro dia.
Três dias se passaram, e ele não aparecia, uma semana e ela já estava ficando louca. Eis que surge o namorado, barba por fazer, calça jeans e camiseta (o que não era comum pois ela era acostumada aos ternos Armani dele) e cheirando a cigarros.
 -- “Poxa César onde você se meteu? Estou te esperando para terminar de almoçar há mais uma semana, se eu estivesse comendo estaria batendo records mundiais até agora”.
Ele permaneceu calado, e como um leão pulou em cima da namorada e começou a tirar-lhe a roupa. Os lábios tão secos dela começaram a ficar vermelhos, a boca soltava ar cada vez mais quente, a sensação de sentir as mãos dele subindo por suas pernas até atingir lugares que a excitavam foram mais que o suficiente para pensar que dessa vez tudo iria dar certo. Em ritmo acelerado eles continuaram por três curtíssimas horas inesquecíveis de sexo e cigarros, curtíssimas por que ela estava necessitada depois de uma semana.
 -- “Eu sou gay”.
Como se uma escola de samba estivesse entrando na avenida e multiplicado a sua bateria ela deu um pulo, arregalou os olhos. Não era possível que o melhor homem que já estivera dentro dela era gay.
 -- “Você é gay?”.
 -- “Sou, e decidi terminar nosso relacionamento por aqui”. Levantou, colocou as roupas surradas e saiu pela porta dizendo que no sábado teria uma festa e indicou o local, dizendo que estaria com o seu namorado e queria que ela o conhecesse. 
 No sábado lá estava ela, festa chique, todos bem vestidos e de classe alta. Drinks e mais drinks.
 -- “Anabela, gostaria de lhe apresentar o meu namorado”.
 -- “Quem??? ESSE é o seu namorado???”.
 -- “É, eu sou o namorado dele, como você tá maninha?”.
Depois dessa noite Anabela decidiu não namorar mais, e passou a dizer para as amigas que tudo o que era duro, de repente, pareceu mole.


sábado, 1 de novembro de 2008

Quarta-Feira

Por Maria Gabriela Brito


Era espontânea, mas o que mais chamava a atenção era sua beleza. Até que gostava de ir à escola, menos na quarta-feira, sua explicação era “quarta-feira é dia de ficar a toa”, talvez ela não soubesse que havia nascido em uma quarta-feira muito movimentada.
Não chegava a ser a melhor aluna da sala, algumas vezes até pegou recuperação. Suas provas de recuperação eram sempre na quarta-feira; “típico” ela pensava. Gostava de usar os cabelos presos em um rabo-de-cavalo, o que exibia seus traços finos, porém marcantes que destacavam perfeitamente sua personalidade.
Não existia razão para usar os cabelos presos, afinal eles eram compridos, lisos, fortes, pretos e vistosos, mas de alguma maneira o penteado lhe caia muito bem, e ela sabia disso. Os olhos eram brilhantes e tão pretos como o cabelo. Era possível saber quando ela estava olhando para algum lugar, seu olhar penetrava, chegava a doer.
Seus hobbies e manias encaixavam-se perfeitamente em uma menina de sua idade. Cinema, clube, revistas, garotos e caprichos. Ela era desejada. Cinco em cada três meninos da escola a queriam, e não eram apenas eles: O professor de história já teve sonhos eróticos com ela e o de filosofia já pensou nela enquanto estava no banheiro. 
Às vezes ela era metida, convencida, irritante com toda sua graça e beleza. Sabia que era bonita, entretanto, sua mente imatura ainda não tinha mostrado a ela o poder que tinha nas mãos. Menina de treze anos. Inocente? Talvez não. Ela só não entendia porque sempre conseguia o que queria. Apesar da popularidade, era de poucos amigos. Duas para ser mais específica.
Em uma quarta-feira de Dezembro, poucos iam à escola, afinal, eram férias de verão. “Maldita recuperação” lamentava-se. Saiu de casa de manhã, despediu-se da mãe, e do irmão, ainda bebê, recusou a corona do pai. Foi a pé, eram apenas quatro quadras, dez minutos sem pressa e sete na correria.
Assovios eram constantes quando ela passava por lugares onde haviam homens, afinal, o corpo era bem formado, e o rosto muito chamativo. Ignorava. Uma buzina seguida de seu nome chamou sua atenção, era o professor de matemática. Ele era bonito e casado, ela gostava dele, parecia honesto.
Ele ofereceu carona, pensou em recusar, mas acabou aceitando. Ela observou o professor, e a palavra que encontrou para defini-lo naquele dia foi “estranho”. Ele contou que foi dispensado da escola. “Sinto muito” ela falou cabisbaixa. Percebeu também que ele estava sem aliança, resolveu não tocar no assunto.
A entrada da escola passou e ele acelerou o carro. Ela apenas o encarou. Ficando preocupada questionou-o, a resposta foi um seco “fica tranqüila”. Não tinha como ficar tranqüila, ela não sabia para onde estava indo, nem o que podia acontecer, mas imaginou que quarta-feira é dia de ficar a toa e não de acontecer tragédias.
A idéia não a tranqüilizou. Finalmente o carro parou em uma garagem. Ele entrou. Estava muito escuro. O coração dela acelerou, ela não quis gritar, estava assustada demais, ficou imóvel, sem reação. Ele soltou seu cinto, ela continuou parada. Partiu para cima dela e começou a acariciar os seios pequenos.
“Sua beleza vai ser sua maldição” foi o que ele disse antes de abrir a calça dela. Calmamente ele colocou uma mão por dentro da calcinha. Não dava para ver o rosto dele. Ela estava tão assustada que desmaiou.
O professor não fez nada com ela a partir de então. Ele estava com raiva dela, por ser tão bonita, com raiva da linda esposa que o abandonou, com raiva da linda filha que faleceu, com raiva das lindas coisas que existiam no mundo. Ele quis se vingar de alguma coisa bela.
Ficou parado por um instante, esperou que ela retomasse os sentidos. Ele só falou “vá para a escola”. Ela não reagiu. Ele a deixou a metros antes da entrada, a menina desceu, e seguiu com um olhar vago. Entrou pela porta principal, sua cabeça estava a mil.

Era quarta-feira e quando ela olhou para mim naquela manhã, não doeu.