terça-feira, 15 de dezembro de 2009

De tarado a namorado

Por Maria Gabriela Brito



-Aquele Tarado me paga! – pensou Luiza morrendo de raiva de Fernando, logo que ele a deixou em casa.
Ela havia ido ao cinema com ele pela primeira vez. Fernando escolheu um filme de terror de propósito, assim, quando ela se assustasse, ia cair em seus braços. No fim das contas, quem mais levou susto foi ele. Ela também se assustou, não com o filme, mas com aquelas mãos bobas (que ela tinha certeza que iam muito além de apenas duas!). Ele parecia mais uma centopéia do que um garoto de 14 anos.
Nunca mais se viram após o episódio. Fernanda nem pensava em ficar com ele de novo. Arrumou uns dois namoradinhos depois daquilo, e um terceiro pelo qual ela se apaixonou de verdade. Ele também estava apaixonado, e os caminhos não se cruzaram mais. Só que o destino é engraçado.
Dez anos após o incidente do cinema, duas pessoas completamente diferentes daquelas crianças voltaram a se encontrar, assim, bem por acaso. Já tinham vivido experiências boas e ruins. Amadurecido. Não foi amor à primeira vista, e nem à segunda, mas depois de muitos encontros, algo começava a balançar os dois.
Muita coisa havia mudado, mas outras continuaram iguais: Fernando ainda era uma centopéia, mas o que foi para Luiza um defeito aos 14 anos, passou a ser uma qualidade aos 24. E agora com uma diferença, ela estava apaixonada por ele.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Só na Malandragem


Por Sarah Menezes

Caramba! Existe gente malandra para tudo nesse mundo. Esses dias, conversando com meus amigos sobre festas e de como é complicado não ter dinheiro para curtir todas essas farras, ouvi um a história muito inusitada e não pude conter a risada e o espanto.O camarada estava na porta de uma dessas festas badaladas da cidade, esperando para entrar. Vendo a desorganização do evento na portaria, ele resolve aproveitar o incejo para tentar entrar de graça.Foi então que ele teve a brilhante idéia. Vendo os seguranças atrapalhados com o movimento, o rapaz se junta a "muvuca" e se posiciona com o pé e a perna atrá do segurança, como se estivesse saindo da festa. No meio da confusão os caras realmente acreditaram que ele estava saindo do evento:
 -Onde você está indo rapaz?
 -Calma, calma, só ia pegar meu celular que esqueci no carro.
 -Não, não pode sair não. Se sair não entra mais. Vamos, vamos vamos, entra aí.
 -Mas cara, é só pegar o celular e voltar, 2 minutinhos.
 -Não, já disse que não pode. Agora entra ou eu vou te tirar daqui de vez!
 -Tá bom, tudo bem então.
E foi assim, com toda essa cara de pau, que o malandro conseguiu se divertir a doidado e sem gastar um real. E tam mais, ainda passou a noite regado a vodka e energético, bancado pelo dinheiro adiquirido na venda do ingresso que havia comprado antecipadamente.
Realmente, o mundo é dos espertos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Eu quero terminar..."

Por Maria Gabriela Brito

Ela estava deitada ao lado dele o encarando dormir. Deu um profundo suspiro e virou-se bruscamente para o outro lado.
- Seria aquilo amor?
Simplesmente não conseguia definir o que sentia por ele. Com certeza já o havia amado, mas agora estava tudo tão sem graça. Ele não havia feito nada de mal a ela, pelo contrário, era maravilhoso, perfeito (até demais) então porque sentia aquilo?
Voltou-se para ele, que continuava dormindo tranquilamente. Não conseguia tirar a idéia de terminar o namoro de sua cabeça. Ela já havia pensado a respeito do assunto, e aquilo a assombrava há alguns meses, mas sempre desistia de falar com ele na hora H.
Mas hoje ia ser diferente:
- Quando ele acordar eu falo tudo o que sinto e termino! – Pensou ela tão decidida que a idéia ecoou pelo quarto de uma maneira que fez o namorado acordar.
- Você disse alguma coisa amor?
Ela assustou-se quando ele acordou, e ele mais ainda quando abriu os olhos e deu de cara com a namorada o encarando. Após o silêncio como resposta, ele repetiu um pouco sem paciência:
- Você disse alguma coisa?
- Eu não! Volta a dormir, a gente tem que acordar cedo amanhã. – disse ela sem graça e envergonhada, dando as costas para ele, sem ter coragem de dizer o que sentia.
- Então ta. – Disse ele, que sem desconfiar de nada, pegou no sono novamente, enquanto ela simulava um ronco de sono pesado, mas na verdade estava bem acordada bolando seu plano para terminar o namoro.
-Hoje não deu porque ele tinha acabado de acordar cedo, ia ser sacanagem... – pensou.
Mas das outras vezes não foi diferente, sem coragem para admitir que não estava mais apaixonada, e com medo de ficar sozinha inventava desculpas, e o pior, a mentira era para ela mesma.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O segredo do sucesso

Por Maria Gabriela Brito

Hoje de manhã quando sai de casa, vi uma menininha pegando uma flor do jardim para dar a mãe dela. Achei aquele gesto tão simples e ingênuo. A mãe muito sem graça, me pediu mil desculpas pelo ato e ainda brigou muito com a filha. Aquilo me fez pensar que somos podados o tempo inteiro e desde sempre. Parece tão difícil sermos nós mesmos.
Aquela mãe nem percebeu que a filha havia dado a florzinha a ela. Penso que a menina deve ter se sentido diminuída. Assim é no mercado de trabalho. Parece que nunca somos bons o suficiente para nada. É um bombardeio de informações e dicas de como ser um profissional melhor, como ser o que as empresas procuram. Fica difícil saber por onde caminhar.
Hoje é preciso saber mais de duas línguas fluentes, porque o inglês, que já foi um diferencial, não é mais. E o diploma que também já foi importante, hoje não vale nada, se a pós, o mestrado, doutorado não estiverem ali para acompanha-lo. Além disso, temos que conhecer informática, entender de política, economia, natureza, estar atualizado, bem equipado, ter boa aparência, ser criativos, inovadores. É difícil ser tudo isso ao mesmo tempo.
Afinal de contas, o que as empresas querem? Tenho certeza que elas também ficam confusas ao escolher um profissional qualificado para determinado cargo, porque hoje, todo mundo sabe de tudo um pouco. É aqui que entra outro problema de sermos seres em busca da perfeição sempre. Os sonhos estão cada vez maiores, e muitas vezes chegam a ser utopias de tão impossíveis.
É como diz uma professora minha, “temos que ter metas possíveis”. As pessoas estão sempre querendo mais, e quando aquele sonho, que parecia tão distante, é conquistado, não é mais o suficiente. É difícil ficar satisfeito. Damos pouco valor ao que temos e muito valor ao que queremos, e assim as pequenas coisas vão ficando tão distantes.
A meta deixa de ser “carpe diem” (aproveite o dia) para ser: conquistar aquele tão sonhado emprego, ter uma vida perfeita, com carro do ano, filhos felizes e uma casa linda. E o pior, para conquistar tudo isso, ter todas as qualificações já citadas neste texto não é o suficiente. Além disso tudo, temos que mostrar nosso lado humano, mas sem demonstrar fraqueza, sem errar.
Cansei de ouvir que sou um produto à venda, e que preciso estar sempre bem vestida, sempre sorrindo, não posso errar nunca. Faz parte da construção do meu marketing pessoal. Só que não é todo dia que eu estou a fim de dar um bom dia empolgado para todos que vejo pela frente, e nem é todo dia que vejo passarinhos cantando pelo caminho.
Somos humanos, caímos, levantamos, sorrimos, choramos. Escolhemos caminhos errados às vezes, e outras, com sorte, caímos no certo. É difícil saber. E com tanta novidade, com tanta coisa que precisamos ser para conseguir aquilo que achamos ser a meta de nossas vidas, eu cheguei a uma conclusão, que pode parecer clichê, mas é a verdade. Hoje, o diferencial, e talvez o segredo do sucesso, seja sermos nós mesmos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Falar até ouvir

Por Mônica Salmazo

Aprender a ouvir.

Ela deveria ter aprendido a ouvir desde cedo mas não, falar era sua especialidade. Agora estava cabisbaixa, abismada pelo incontável número de burradas que havia feito na vida apenas por falar demais, e não saber ouvir.

Escutar todo mundo escuta, pensava ela. Somente agora, anos e anos de erros é que ela foi entender a diferença entre escutar e ouvir.

Escutar é escutar, nada demais, a gente escuta os sons e diálogos, mas ouvir, nãooo, ouvir é diferente, é processar a informação, é raciocinar sobre o assunto, é pensar antes de agir, ouvir antes de falar.

Rubem Alves já dizia que "nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade", agora ele tinha razão.

Glória levantou a cabeça, pesada após horas de culpa e vergonha que a obrigara a abrigar seu rosto em suas mãos, talvez como uma escapatória, uma camuflagem para a vergonha que sentia.
Ela avistou a razão de sua dor: ele ainda a fitava com os olhos cheios de ódio.
Não adiantava pedir para voltar, não adiantava querer cair nos braços dele, não adiantava tentar, e pela primeira vez na vida ela não sabia o que falar.

Lembrou da avó que lhe dizia que sábios são os que sabem ouvir e medir suas ações, esperto é aquele que ouve mais do que fala, mas para quê??, para que é que tinham que citar frases ao invés de explicá-las?, tornou-se uma forma mais conveniente para as pessoas sair recitando frases filosóficas ou poéticas e esperar que um dia, talvez, a pessoa aprenda na prática?, por que não a fizeram entender isso antes?, quantas e quantas palavras ela poderia ter economizado, quantas lágrimas, quantos arrependimentos, ai meu Deus, agora não adiantava mais.
O silêncio dominou o quarto, apesar dos raios invadirem as janelas, a escuridão dominava os pensamentos.

Ela sempre fora fiel, sempre amou de verdade, sempre deu o melhor de si, mas também poderia ter aprendido a ouvir, falava coisas que machucavam, falava desnecessariamente, mas acima de tudo ela achava que estava certa, que ele não precisava dizer o que havia de errado, sua consciência se encarregaria de filtrar as informações.

Como estava errada, Glória estava errada, até mesmo em seu nome de batismo. "Glória, glória, ha, fracasso seria mais adequado", pensava ela.

E isolada em seu próprio fracasso e mergulhada em sua própria vergonha, ele a deixou sentada ali, sozinha, sendo devorada pelo negro véu que a Lua trazia.

A última gota de lágrima caiu no travesseiro quando ela adormeceu.

Quando acordou ela não sabia mais falar, Glória aprendera, finalmente, a ouvir.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Reforna delirante!

Povoo,
Em breve o Delírios estará de cara nova!
Continuem acompanhando o blog, já colocamos em prática a reforma, dentro de alguns dias o Delírios estará ainda mais atraente!

Beijão galera,
Sarah, Mônica e Gabi

O Cara do Honda Civic

Por Maria Gabriela Brito

Subiu na sua motoca às 5 horas da manhã indo direto para o trabalho. Era isso que fazia todos os dias de segunda a sábado. Era cobrador de ônibus. Ele passava por aquelas ruas todas as manhãs. Era rotina, sem surpresas, sem novidades. Até que:

- Oh amigo! Psiu! Ow!

Ele parou a moto, olhou para trás e viu aquele Honda Civic zerado, e pensou “Que inveja desse filho da puta!”.

- Fala ai amigão...

- Então, o que tem pra fazer nessa cidade?

Ele olhou bem para o cara do Honda Civic. Não acreditava naquilo. “Mas que cara filho duma puta! 5 horas da matina de uma baita quarta-feira, esse desgraçado vem me perguntar que que tem na cidade? Só pode ser brincadeira!”.

- Olha só amigão, num sei não... To indo pro trampo.

- Achei que você talvez pudesse me mostrar o que tem pra fazer na cidade. Eu não sou daqui...

O cobrador só conseguia imaginar como a vida do playboy era boa! O cara procurava farra em uma madrugada fria de uma quarta-feira, enquanto ele estava indo para o trabalho. “Quando é final de semana e folga minha, ninguém me chama pra sair!”, pensou revoltado.

- Olha só amigão, num dá mesmo, tenho que tá no trampo daqui 15 minutos!

- E por 350, você topa?

O cobrador olhou assustado para o cara do Honda Civic e pensou morrendo de raiva, “O desgraçado é bicha!!”.

- Ê meu irmãoo! Ta doidoooo? So homem uai! Êêeeeeê! Nem fudendo, vô vaza!


- E por 550, topa?
- Ta maluco me’irmão! Vira homem sô! Eu, neguim, baxinho, de motoca, pego geral, se você fosse homem, nesse Honda Civic ia passá o rodo!

- Última oferta, 1000 reais, e ai?

Por alguns segundos o cobrador ficou olhando meio em dúvida para o cara. “Nó! Dá pra pagar as duas últimas parcelas da minha motoca, e ainda sobra uma graninha praquele tênis doido que eu queria comprar...”. Mas o pensamento só durou alguns segundos. Ele balançou a cabeça como quem quer afastar uma mosca e gritou revoltado:

- Você ta maluco cara? Nem fudendo! Aliás, muito menos fudendo!
Colocou o capacete, montou na sua motoca e saiu revoltado.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tecendo sobre habilidades, ou não!

Por Sarah Menezes
Escrever! Presumo que seja esse o meu destino por vários anos de minha vida, afinal escolhi o como profissão o Jornalismo.
Contar histórias e sucitar discussões, essa é a minha função através dos textos.
Mas como todo jornalista, não me contente em tão somente relatar os fatos, no ato de escrever gosto de explorar a imaginação, viajar por pensamentos e lugares, inventar histórias de amor, desilusão, esperança. Expôr minhas idéias também é algo que me interessa. Conseguir, através das letras, explicar o que idealizo é deslumbrante. Posso fazer isso da maneira que eu quiser, com as palavras que eu quiser e, se mesmo assim, as pessoas me entenderem, saberei que tenho habilidade com a escrita, ferramenta que surgiu desde os primórdios da humanidade e que até hoje é fundamental para a comunicação.
É... inventar, relatar, expôr. Sobre todas essas maneiras de escrever eu já consegui obter um certo domínio. Mas escrever sobre amor e todos esses sentimentalismos é complicado, pelo menos para mim.
Eu fico me perguntando como que Renato Russo, Arnaldo Jabour e todos esses escritores inspiradérrimos conseguem traduzir exatamente o que sentem. Será mesmo mesmo que conseguem? Bom, mas não é para levantar essa questão que estou escrevendo.
Se eu não consigo nem definir meus sentimentos, falar deles trona-se muito mais complicado. Mas uma coisa eu descobri: muito mais complicado do que escrever sobre sentimentos, é escrever sem sentí-los.
 Se ele está dentro de você, uma hora ou outra você acaba encontrando uma maneira de tecer algumas linhas sobre, mesmo que complexamente. Mas se você não sente e nem nunca sentiu, aí as coisas complicam. Como falar de algo que não se sabe como é? Como definir? Através de conceitos que outros fizeram?
Cada um é diferente, e sente diferente. Definir sentimento me dá a impressão de limitá-lo, enquanto, na verdade, teria de ser ilimitado para ser sentindo por inteiro. Ou será que estou errada?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A vida começa aos 30

Por Mônica Salmazo

Parece que hoje tudo é motivo para falar em dinheiro ou tempo. Dois fatores essenciais para quem deseja ter uma vida sossegada nos dias atuais.
Mas será que tudo gira em torno disso? Tudo gira em ganhar um dinheirinho e investir? Para todos os lados as pessoas falam em investir, até mesmo os jovens. Cada vez mais aumenta o número de jovens preocupados com o futuro, que juntam um dinheirinho e começam a investir.
A educação que se adquire dentro de casa é fundamental quando o tema surge, geralmente adolescentes preocupados com o futuro tem pais que falam sobre o assunto em casa. Os maiores investidores tem os pais como exemplo, e ver jovens discutindo sobre ações já não é coisa de outro mundo.
O mercado é tão extenso que quando decide começar, a maioria das pessoas se perdem com tantas opções. Investir em empresas privadas ou em títulos públicos? Taxas e mais taxas e mais taxas e cada vez mais taxas. Parece ser resistente o número de informações que insistem apenas em avançar. Livros sobre como cuidar do dinheiro, como investir dinheiro, como conseguir dinheiro e investir no tempo, organizar tempo, planejar seu tempo para ganhar mais dinheiro.
Investir em títulos do Banco Itaú ou Banif, do Socopa ou Spinelli, investir talvez nos Prefixados (LTN-NTN-F) ou indexados ao IPCA (NTN-B), atrelados à taxa Selic (LFT) ou indexados ao IGP-M (NTN-C). As informações são tantas que confunde a cabeça do novo investidor*.
Pensar demais no tempo é outra preocupação. O dia parece durar 36 horas e questões urgentes aparecem o dia inteiro. Falta de planejamento, para isso podemos ler o que fazer com o tempo, o tempo é precioso, ganhe mais administrando seu tempo, o tempo é seu melhor amigo, o tempo, o tempo, o tempo é tudo o que temos e precisamos sempre planejá-lo para que talvez ele passe a ser as velhas 24 horas da época dos nossos avós.
Já acabou o tempo que vivíamos de amor, que as aventuras eram permitidas, que o normal era casar e ter filhos jovem. A vida só começa depois dos 30, quando já gastamos a nossa juventude administrando o futuro, nos certificando que ao chegar nessa idade vamos ter uma vida tranquila, com conforto, com tempo, com dinheiro.
É sufocante! Muitas vezes me pego pensando no que será de mim se chegar aos 30 e não tiver tudo isso.
O mundo está criando pessoas estranhas. O mundo pede todas as habilidades imagináveis para preencher um cargo muitas vezes simples, depois de exigir que cada pessoa se especializasse em algo (especialista em planejamento financeiro de empresas médias do ramo agroindustrial, especialista em história do Brasil período colonial, especialista em limpar o baldinho de lixo do banheiro, especialista em servir batatas fritas palito, especialista em arrumar o broche do terno de marca específica), após toda essas exigências agora o assunto são os especialistas "gerais".
Agora temos que ser GERAIS, temos que saber colocar o broche e servir batatas, temos que saber história e sobre investimentos, saber de física avançada, de economia doméstica, saber escrever teses acadêmicas e reciclar o material em casa. Responder a todos sobre tudo.
Isso sufoca, sufoca quem está no mercado, quem está fora dele, quem quer entrar e quem quer sair, sufoca a família, os colegas, sufoca a sociedade. Daqui alguns anos as crianças vão nascer com seu planejamento de marketing pessoal construído e falando 10 idiomas.
Não tem como reverter este processo, a globalização tomou conta. Eu, como jovem, esperava ao menos que me ensinassem isso, me ensinassem a fazer meus planos, me ensinassem na escola que eu devo saber e o que eu devo fazer, por que não me disseram que eu deveria saber de tudo senão eu vou ser pobre?
Educação básica é coisa do passado, a educação tem que ser ultra mega hiper avançada e, dessa forma, TALVEZ, você consiga um emprego, TALVEZ consiga tempo, TALVEZ consiga dinheiro, TALVEZ consiga uma família, e TALVEZ consiga começar a viver aos 30.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Banho

Por Maria Gabriela Brito

Trabalhou o dia inteiro capinando jardins de casas chiques, não cobrava caro e fazia o serviço com amor e muito cuidado. Talvez tenha limpado uns 10 quintais naquele dia, e ganhado alguns bons 60 reais que pagariam a conta de luz do mês passado, a deste mês e talvez ainda desse para comprar comida.
Estava sujo e cansado quando terminou a última casa. Subiu em sua bicicleta e pedalou por longos e intermináveis sete quilômetros, distância equivalente entre os bairros nobres da cidade e a semifavela onde morava. Sua vida era medíocre, mas ele nunca reclamou, era muito simples pra isso.
Suas costas doíam, mas a vida o calejou o suficiente para não dar atenção a qualquer tipo de dor. As mãos pareciam estar mais grossas, típicas de um homem que trabalhou desde menino. Tudo para sustentar sua esposa e os quatro filhos pequenos.
Finalmente estava perto de casa, a barriga roncava de fome. Pensou se a mulher havia feito aquela sopa de jiló e moranga com muita água para ter o suficiente para a família de seis pessoas. Pensar no cardápio da janta deu água na boca.
Chegou suado na porta, já estava anoitecendo. Imaginou aquele banho relaxante que ia tomar. Banho relaxante que nada, pobre não tem banho relaxante, era só pra limpar mesmo. Tinha que racionar, o bairro andava sem água nos últimos dias.
Abriu a porta e viu a mulher na cozinha. A barriga doeu de fome, mas queria mesmo era aquele banho gelado, com os poucos fios de água desordenados que caiam do chuveiro. Foi direto para o banheiro, parou já sem roupa, ansioso, em frente à torneira. Rodou até as últimas e nem uma gota de água caiu.
Ficou chateado por um momento, mas foi dormir conformado e sujo mesmo, sem comer sopa. No outro dia acordou do jeito que foi dormir, sujo. Seu café da manhã foi a sopa aguada e fria da janta. Montou em sua bicicleta e foi dar continuidade à sua subvida, torcendo apenas para que quando voltasse naquela noite, tivesse água para tomar banho.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Acabou a Luz

Por Maria Gabriela Brito


Eles estavam casados há 30 anos e tinham apenas um filho adulto que havia construído sua vida e família em uma cidade vizinha. A conversa entre os dois há muito tempo era curta e objetiva. “Você já foi ao supermercado? Acabou meu creme de barbear”, ou ainda, “A encanação do banheiro não está boa, depois chama um encanador”.
Não se ouvia mais os “eu te amo” do começo do relacionamento quando os dois tinham apenas 18 anos. Tornaram-se completos estranhos que dividiam a mesma casa, a mesma história e por incrível que pareça, a mesma cama. A única coisa que ainda tinham em comum era o filho.
Cada um tinha rotinas distintas, e há muito tempo o programa de um já não incluía o outro. A noite ela lia um livro na cama e ele assistia ao futebol na sala, as visitas ao filho eram feitas separadas, nenhum dos dois sabia porquê, mas acabou que um dia ficou assim e não mudou mais.
Todas as noites eram a mesma coisa, os dois moravam juntos, mas cada um sentia uma solidão imensa dentro de si. Em uma dessas noites comuns e rotineiras a casa ficou sem energia. Ela morria de medo de escuro, tanto é que a única atitude carinhosa que ainda existia entre eles, era que ele apagava a luz apenas depois que ela dormisse.
Na hora do ocorrido, ela saiu do quarto correndo e gritando pelo marido, ele foi ao encontro dela para acalmá-la. Os dois saíram de casa e perceberam que a luz havia sido cortada no bairro inteiro. Voltaram juntos para dentro, procuraram uma vela e sentaram na sala em um silêncio ensurdecedor.
Depois de 15 minutos que pareciam ter durado horas, ela finalmente puxou assunto.

-Que dia você vai visitar o Júnior?

-Não sei, por quê?

-Há... sei lá, tava pensando da gente ir junto.

Ele ficou bem espantado e surpreso com a proposta da esposa, mas não viu motivos para recusar. O silêncio voltou por mais alguns segundos, quando foi quebrado mais uma vez por ela.

-O que foi que aconteceu com a gente?

Ele sinceramente não soube responder. Os dois ficaram parados, pensando e olhando para o nada, pensando no amor intenso, no amor romântico, depois no amor sólido, o respeitoso, depois no amor conformado e agora? Qual era o amor deles? A verdade é que nenhum dos dois sabia se existia amor, o que os dois haviam construído era muito maior que isso, mas será que ainda significava alguma coisa?
Depois de 30 anos juntos, enfrentaram todas as adversidades e alegrias que a vida podia oferecer. Eles se criaram juntos, aprenderam a viver, juntos. Pela primeira vez em muitos anos os dois pararam para pensar nos dois, e a conclusão que chegaram? Ainda dava tempo de cada um correr atrás de sua própria vida.
A luz da casa voltou alguns minutos depois, cada um voltou para sua rotina noturna, no dia seguinte ele saiu de casa e procurou um advogado. Depois do divórcio a luz também voltou para a vida deles.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lábios vermelhos

http://www.culturalivre.net/wp-content/uploads/2009/01/boca-vermelha.jpgPor Mônica Salmazo

Com grandes olhos negros e um cabelo cor-de-fogo ela seguia em direção ao horizonte. Em sua cabeça os fatos ficavam se repetindo sem parar, sem lhe dar ao menos alguns minutos para descansar sua mente e seu coração ferido.
Não entendia como tudo aquilo acontecera, não era possível que algo assim pudesse existir, mas finalmente decidiu ir embora.

Era fim de outono e o vento frio passeava pelas ruas, prestes a colorir tudo de branco com a chegada do inverno, o único som que se ouvia era o sapato marrom velho que apertava os pés de Juliana.
Entregar jornais nunca fora o sonho dela, mas sabia que para chegar onde queria era necessário algum sacrifício, se calava e continuava seus afazeres. Ela escutou um latido e correu para a rua, assustada, ela não havia visto que a casa abandonada tinha novos moradores. Um cheio estranho invadiu seus pulmões e uma boca desconhecida estava lhe beijando os lábios, a sensação era de que tudo estava tudo fora do normal e que o mundo havia enlouquecido, ou ela tinha enlouquecido.
Ao abrir os olhos viu um belo par de olhos verdes água e um cabelo preto, liso, comprido que ajudavam a contornar o rosto delicado do garoto que estava a sua frente. Seus lábios eram grossos e vermelhos e quentes, muito quentes.
Ele pegou em sua mão e levou-a até a casa e a fez sentar nas escadas de entrada, era estranho como nenhuma palavra havia sido dita ainda. Ela tentou falar algo, mas imediatamente os dedos do garoto calou-a, pedindo simbólicamente silêncio.
Após alguns minutos ele se levantou e entrou em casa, ela foi embora sem saber o que fazer ou pensar.
Durante 5 meses ela passava todos os dias na porta da casa pontualmente às 10 horas da manhã e todos os dias o garoto saía da casa e lhe dava um beijo, sentavam-se durante alguns minutos na escada sem dizer nada e ela ia embora.
A paixão aumentava e ela não sabia quem ele era, mas estava perdida de amor.
Mudara tudo, seu jeito de andar, de vestir, de pensar, de agir, havia mudado até mesmo o seu jeito de falar pensando no dia em que conversaria com ele.
O verão havia chegado e as noites se tornaram insuportavelmente quentes, e ela sonhou. Sonhou que estava tudo escuro e apenas uma luz no centro, o garoto aparecia, seus lábios estavam tão vermelhos que pareciam arder, ela tentava o alcançar mas não conseguia, tentava falar, gritar, berrar para que ele a escutasse. Acordou toda suada às 11 horas. Levantou desesperada e saiu correndo para a casa dele. Bateu três vezes na porta mas ninguém atendia.
Tentou dar a volta e entrar mas não adiantou, tudo estava bloqueado. Voltou para casa e esperou até o outro dia. Nada no dia seguinte, e também no outro, e no outro, e no outro e foi assim durante a semana inteira. Ela esperou o outono, o inverno, a primavera e quando o verão voltou novamente ela já não falava, não comia direito e não levantava mais da cama.
Recebeu uma foto estranha, com uma boca vermelha e um dedo na frente, fazendo um sinal de silêncio. Seu coração acelerou e ela imediatamente procurou saber se era ele, foi correndo até a casa mas não havia nada, procurou por todos os lados informações de onde viera a foto. Passou um mês procurando e finalmente descobrira que a foto vinha da França.
Arrumou suas coisas e jurou ir embora, em busca de seu amor, e não iria olhar para trás, não importasse o que acontecesse. Sofrera demais e estava na hora de correr em busca de seus sonhos ao invés de ficar entregando jornais para o resto da vida.

Ela saiu de casa e começou a andar em direção ao horizonte. Só precisava dizer à ele: Eu te amo!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Saudade

Por Maria Gabriela Brito

Já namoravam há quatro anos. Por ela largou o cigarro, a bebida, as drogas, o mundo da farra e bagunça. Agora andava de cabelo bem penteado. Deixou o all star e a calça larga de lado. Usava sapatos e camiseta pólo. Ele amava muito ela, e por ela mudou. Para o mundo, ele havia mudado para melhor, para ele... Bom, ele nem se lembrava mais dele.
Um dia ela chegou e disse:
- Eu te amo, mas não como antes, sinto que minha missão com você está cumprida. Você é uma pessoa melhor, com a cabeça no lugar. Desculpe, mas não posso mais, quero terminar.
Seu mundo desmoronou naquele instante. Anos esforçando-se para ser alguém melhor, alguém bom o suficiente para ela.
Uma semana depois não conseguiu segurar, foi chorar suas mágoas no boteco da esquina. Jogou sinuca com amigos que não via há algum tempo, comprou um maço de cigarro, fumou sozinho em 42 minutos. Bebeu 10 garrafas de cerveja, quatro doses de pinga e uma dose de tequila.
Dormiu no bar e só acordou no outro dia em casa, não lembrava como havia chegado até lá, mas se deu conta de que estava com uma puta ressaca. Levantou cambaleando, tomou um Dorflex e três Engov. Preparou um café bem forte e bebeu sem adoçar. Sentou na sala de televisão e debruçou a cabeça nas mãos.
Percebeu que estava com saudades. Não dela. Tratou de colocar um sorriso no rosto e seu all star no pé, saiu dali direto para o boteco da esquina. Foi matar a saudade dele mesmo.



Imagem: http://renatoprospero.blogspot.com

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O cego

Por Maria Gabriela Brito

Naquele dia ele saiu nervoso de casa. O olhar estava pesado e abatido. A noite mal dormida refletiu no rosto que exibia uma expressão cansada. Deixou o carro na garagem e decidiu ir de ônibus para o trabalho.

Vestia um terno preto e andava sob o sol escaldante. Por um momento se arrependera de ter deixado o carro com ar condicionado em casa. Sentou-se no ponto no aguardo do coletivo. Naquela hora lembrou da esposa que ficara em casa preparando o café que ele recusara. Ele nem se despediu dela.


Bateu nele uma tristeza imensa. O casamento já não era um mar de rosas. A luta para ter um bebê transformara o relacionamento em um fardo. Nenhum dos dois conseguia entender o que os fazia continuar com aquilo. Ela já não o via como antes e ele nem mesmo a via mais. Os diálogos eram objetivos e a conversa curta.

Pensar no casamento fez o homem ficar chateado. Ele queria entender o que fizera de errado e se fora ele o culpado. Perdido em seus pensamentos não percebeu que o ônibus passara. Quando se deu conta, já era tarde, o veículo dobrava a esquina. Deu um suspiro profundo e decidiu ir a pé mesmo, afinal eram apenas meia hora de caminhada e ele precisava se exercitar.

Há anos havia largado a academia, além disso, começara a fumar. E foi o que ele fez naquele momento. Ficou em pé e procurou na maleta de couro marrom o maço. Acendeu um cigarro e pôs-se a caminhar. Quando foi firmar o passo, uma mão veio lhe apertar o braço.

Pronto para descontar toda a raiva acumulada naquele ser ele percebeu que se tratava de um jovem cego. “Senhor, me ajuda a atravessar essa rua? Movimentada, né?” falou o rapaz que não devia ter mais de 17 anos. Sentindo-se um pouco embaraçado por quase desaguar um mar de problemas no moço, ele se prontificou a ajudá-lo.

E lá foram os dois lentamente pela movimentada avenida. O rapaz cego não falava nada e pensava sabe-se lá no quê. O empresário antes nervoso ia ficando mais calmo a cada passo. Observava o rapaz que exibia um curioso sorriso estilo Mona Lisa, daqueles indecifráveis. Ele parecia verdadeiramente feliz.

A situação o deixava cada vez mais envergonhado. O jovem caminhou tranqüilo e sorridente até o outro lado da rua, enquanto ele reclamou a manhã toda da vida que levava. Finalmente os dois chegaram à calçada. Ele estava mais leve. O moço agradeceu e se despediu.

Ele ficou para trás apenas observando o cego seguir adiante, abrindo espaço por entre toda aquela gente com sua bengala. Depois daquela situação uma maré de positivismo se abateu sobre ele. Olhou para o relógio e viu que ainda dava tempo. Tempo de chegar ao trabalho, tempo de se despedir da esposa e quem sabe, tempo de salvar seu casamento.

O jovem cego de alguma forma o afetou, fazendo-o ver o que estava perdendo. Sua vida passava diante de seus olhos e ele mantinha-se cego a tudo que acontecia ao seu redor. Ele correu, correu o máximo que pôde. Brecou em frente uma floricultura, comprou uma rosa vermelha e pôs-se a correr de novo.

Chegou em casa transpirando, parou em frente a porta, ajeitou a gravata e entrou. A mulher estava no quarto arrumando a cama. Ele entrou e beijou-a intensamente, em seguida entregou a ela a rosa. A esposa emocionada chorou. Naquela manhã ele viu a esposa como nunca vira antes.

Algumas semanas depois veio a confirmação da gravidez. Nove meses mais tarde o mundo dava boas vindas a Vitória. E o executivo nunca mais viu a vida da mesma maneira.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais

Por Mônica Salmazo

Gisele sempre foi uma garota reservada para os desconhecidos e bem popular entre os amigos. Seu jeitinho de boneca encanta a todos, é o lado positivo de qualquer pessoa. Sua inteligência e instinto de maternidade com todos sempre foram notáveis, é a pessoa certa para se divertir ou chorar junto. Um leve dom para moda e uma incrível paixão pelo jornalismo, estilo e educação refinados, de dar inveja à muita gente por aí. Cabelos claros, curtos, talvez seja inspirado em uma de suas heroínas: Coco Chanel. Pele clara, cheiro doce e andar únicos, bem diferente e ao mesmo tempo parecida com sua amiga Samanta.
Samanta era radical, adorava festas, e era melhor ainda se as festas fossem de segunda a domingo, uma bebida nunca poderia ser dispensada ou desperdiçada, mas é uma garota carinhosa, atenciosa e única. Já passou por muita coisa em sua vida mas continua sempre de bom humor e com a cabeça erguida. Não tem hora para a diversão, mas sempre tem em mente a responsabilidade. Famosa pelo cheiro dos seus cabelos, negros como um céu sem lua mas cheio de estrelas, e pelo tamanho de seu bumbum (atrativo para muitos homens). Um exemplo para aqueles que são apaixonados pela vida. Louca e apaixonada pelo jornalismo também, foi por isso que conheceu Gisele e Monalisa.
Essa última sempre foi aberta a aventuras, apesar de manter os pés no chão. Não é louca pelo jornalismo como as amigas, mas diz ter uma vocação para ser escritora. No amor nunca teve muita sorte, mas já se entregou inteiramente à ele, sem medo do que poderia vir depois, sem medo das consequências, como sempre, aventureira. Se sofreu? Muito. Mas diria que valeu a pena, cada tombo foi um aprendizado. Apesar das quedas não desiste de procurar pelo amor, ela acredita nele. Sedenta por conhecimento. O termo "loira burra" com certeza não se encaixara a ela.
Seus cabelos longos balançam quando ela caminha, e irradiam uma graça e luz tão grandes que conquista o recinto por onde passa. Os olhos são profundos e abertos, o caminho de sua alma.  Se encarados de verdade, é possível saber quem ela é. Doce e meiga por um lado, dura e sincera quando precisa. A "do meio", mais velha que Gisele e mais nova que Samanta. Formavam um trio insdiscutivelmente... indiscutível!
Em uma tarde de sábado resolveram viajar, ir descansar com a turma no rancho do Márcio, paquera da Samanta. Vivia jogando charme e criava coragem de chegar perto dele quando bebia nas festas, mas nunca havia acontecido nada entre eles.
A tarde foi gostosa, enquanto os homens faziam o almoço as mulheres ficaram bebendo e jogando cartas na varanda. Eram no total de oito pessoas, Samanta, Gisele, Monalisa, Beatriz, Mariana, Márcio, Leonardo, Tiago e Felipe, uma galerinha bem animada, resultado das festas de faculdade.
Não estavam preocupados com horários, responsabilidades, pais ou qualquer outra coisa que não fosse se divertir, aproveitar o final de semana e voltar relaxado para encarar o stress da cidade. Samanta já estava guardando a segunda caixa de cerveja quando deixou cair a garrafa e a cerveja se espalhou pelo chão. Sua expressão foi de total perda, com a boca aberta Monalisa foi abraçar a amiga que estava chocada.
Depois de alguns minutos levantou e disse que teria que compensar o erro e voltou para a mesa e continuou bebendo com a turma. Leonardo se levantou e resolveu "desbravar" o rancho e convidou a galera toda. Munidos de todo o material necessário foram para o meio do mato que era iluminado pela lua cheia.
A trilha seguia inclinada para baixo, um após o outro, em fila indiana, descendo a ladeira. Alguns tombos pelo caminho, ou pelo grau alcoólico, dificultavam e atrasavam o restante da trupe. Um sapo surgiu e pulou no caminho, foi o suficiente para Gisele entrar em desespero junto com Mariana, as duas irmãs se abraçaram e praticamente fizeram em 30 minutos o trajeto que levara 2 horas para se fazer até ali. De volta à casa o pessoal começou a cair, um de cada vez, e as três sobraram.
Nessa hora Monalisa se levantou e sugeriu um passeio até o laguinho a alguns metros de distância da casa, as amigas toparam na hora. O barquinho foi munido de tudo o que era necessário para continuar mais uma longa noite, e lá estavam as três locas. Remaram lago adentro e pararam. Ficaram lá curtindo e cantando.
Faltavam apenas alguns minutos para o céu começar a clarear quando os meninos escutaram as loucas no meio do lago cantando:
"Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos... ainda somos os mesmos... e vivemos... ainda somos os mesmos... e vivemos... como os nossos pais...", de um salto o remo caiu no lago e a cantoria parou.
Tudo ficou em silêncio, o pessoal da borda olhavam para elas e elas para eles. Após alguns minutos o pessoal da borda começou a soltar: "Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não... você diz que depois deles não apareceu mais ninguém... você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando...", e naquele ritmo a manhã foi surgindo. Raios de sol vermelhos como fogo envolvidos em uma corrente amarela ouro, a brisa do vento só foi aumentando, levando a voz deles ao longe, até onde Elis Regina estaria, mesmo não estando aqui.
Naquela hora eles perceberam que não há nada melhor do que a juventude, fazemos burradas, decepcionamos os amigos, assustamos os pais e tropeçamos a maior parte do tempo. A amizade é algo que deve ser cuidado com muito carinho, cultivado a cada passo. A frase "os amores vem e vão, mas as amizades são eternas" é totalmente discutível, afinal, o que é a amizade a não ser uma forma de amor?
E foi na manhã de verão que elas perceberam que apesar de todos virem e irem embora elas sempre tinham umas as outras. De que as amizades vão embora às vezes por necessidade e que isso é inevitável. Mas que elas, ah elas, elas sempre seriam elas, sempre seriam as três loucas cantando que sempre foram as mesmas e sempre viveriam como seus pais, sempre serão três e sempre serão indiscutíveis.

"Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
De coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais..."

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A decisão

Por Maria Gabriela Brito

Sempre levou a vida na indecisão. Enquanto era criança até era compreensível, mas já na adolescência, mal conseguia escolher o que comer no almoço. Apesar desse problema, era inteligente, passou em vários vestibulares, cada um, um curso diferente. Sem conseguir escolher entre economia e veterinária optou por fazer os dois.


Por incrível que pareça levou os dois cursos numa boa. Depois de formada saiu da casa dos pais. Para variar não conseguia escolher um apartamento. A mãe sugeriu um e logo a idéia foi aceita. Na hora da decoração, não sabia se queria um estilo rústico ou moderno, acabou ficando com os dois, o que deixou o apartamento bastante diferente.


A noite saía com amigos, mas ela nunca escolhia aonde ir. Não seria capaz. Em uma dessas baladinhas encontrou Felipe. Rapaz bonito, alto e bom de papo. Quando ele se ofereceu para pagar uma bebida ela se apressou a dizer que ele podia escolher. Conversaram por horas e acabaram se entendendo.

Felipe gostou do jeitinho meigo dela. Aquele vestidinho curto e sapatilhas caiam muito bem com os cabelos longos e castanhos com discretos cachos nas pontas. Apesar de ser indecisa, não era difícil se encantar por ela. E foi o que aconteceu com Felipe. Começaram a sair. Nesse meio tempo, ela conheceu Pedro, amigo de uma amiga. Charmoso e sedutor. Dessa vez foi difícil para ela não se encantar por ele.

Foi levando o caso com os dois e simplesmente não conseguia escolher com qual ficar. A situação já estava insustentável. Saía para divertidos jantares com Felipe, e Pedro a levava a festas badaladas. Felipe já havia declarado seu amor, e até o duro coração de Pedro estava claramente amolecido.

Numa noite qualquer Felipe a convidou para um restaurante japonês, e mais tarde Pedro a esperaria em uma boate nova que tocava samba rock. Parada em frente o espelho, não conseguia decidir que roupa vestir. Trocava e trocava, mas não chegava a lugar nenhum.

Olhou seu reflexo e observou profundamente suas feições, ela tinha cara de indecisa. Começou a pensar qual era seu problema e porque não conseguia decidir nada. Teve raiva dela mesma por um instante. Precisava escolher com quem iria ficar, não podia continuar com aquela situação. Era ruim para eles, e principalmente para ela.

Naquela hora sentiu uma força vindo sabe-se lá de onde. E se olhando no espelho, finalmente tomou uma grande decisão, talvez a primeira e maior de sua vida. Ela gostava do Pedro e gostava do Felipe, mas gostava ainda mais de uma terceira pessoa, e resolveu ficar com essa: ela mesma.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Histórias que temos de contar


Por Sarah Menezes


As férias acabaram tem algum tempo, mas recordando os momentos bons que tive nela, um eu faço questão de deixar registrado, o acampamento na chuva.
Era uma quinta-feira, e eu estava em um bar com meus amigos, o que é de costume durante todo o período de folga que nós temos, nos encontramos todos os dias para recompensar o tempo que passamos longe, pois todos estudam fora. Em meio a conversas e brincadeiras alguém sugere um acampamento para o final de semana, mais do que animados, todos já se organizam e combinam a viagem para o dia seguinte, a sexta-feira.
Quem realmente botou fé no combinado, e, que mesmo com chuva, acreditou que o acampamento iria vingar estava em frente ao supermercado às 9h da manhã. Todos reunidos, compramos os apetrechos para passar dois dias acampados, e seguimos viagem.
Durante todo o percurso estávamos empolgados,fazendo planos para quando chegássemos, contando histórias e nos divertindo. Ficamos mais ou menos uma hora perdidos, tentando achar o camping, mas graças a uma força maior conseguimos achar o local, e já estava na hora do almoço. Mais do que depressa começamos a montar as barracas, eram três, estávamos em seis pessoas, cada dupla foi montar a sua, antes que o temporal que estava ameaçando cair não deixasse terminarmos o serviço.
Foi exatamente quando todos acabaram que a tempestade caiu, então saímos correndo para uma área coberta e lá ficamos até o tempo melhorar. Preparamos nosso almoço, que era pão, lingüiça e refrigerante. Para todas as refeições tínhamos o mesmo cardápio. O dia inteiro estava nublado. Ficamos conversando, bebendo, ouvindo música, jogando até o fim da tarde. Por volta das 17h30 o sol se abriu, e empolgadamente todos quiseram ir até a cachoeira. O caminho não era muito logo, porém era mata fechada, o que dificultava o nosso passeio.
Estávamos numa colina, e a cachoeira era em um vale, entre duas colinas. O chão estava encharcado, as árvores e pedras que tínhamos para nos escorar estavam escorregadias, e mesmo com esses obstáculos nós chegamos ao nosso destino. Entramos debaixo daquela água congelante, todo mundo junto, e ali eu senti que minha alma estava mesmo sendo lavada, que todas as coisas ruins estavam indo embora com aquela correnteza.
Depois desse momento decidimos achar a outra cachoeira que tinha no local, encontramos só que nessa não dava para entrar, pois chegamos pela parte de cima, e não tinha como pular porque era alto demais, tanto que havia vários equipamentos de rapel ali.
O cansaço foi se abatendo pela galera, e já estávamos loucos por água, afinal, havíamos levado uma Camelbak apenas com vodka e refrigerante, esquecemos de comprar água. No caminho de volta houve confusão na hora de decidir a direção a seguir, mas por fim chegamos a um consenso, e depois de uns 30 minutos de caminhada chegamos ao topo da colina, mortos. Olhamos para a frente, para um lado, para o outros e nada de acharmos nossas barracas. Quando de repente um amigo meu grita, olha meu carro lá atrás. Quando vimos a distância do nosso acampamento até onde estávamos todo mundo ficou desolado.
Sentamos na grama, relaxamos, ficamos curtindo aquela brisa de mato, fresquinha. Era 20h e já estávamos de banho tomado, todos enfiados dentro de uma só barraca por causa da chuva que caía, e por lá ficamos até de madrugada. Na manhã seguinte acordamos tarde, fizemos as ultimas lingüiças que restaram e nos apressamos para ir embora, porque o temporal prometia ser pior do que o do dia anterior.
E assim como terminamos de montar as barracas com chuva, ao desmontar, a cena se repetiu. Com medo que o temporal não passasse pegamos estrada, só por esse detalhe demoramos uma hora a mais para chegarmos em casa. No caminho quase atropelamos uma capivara que estava tranqüila a tomar seu banho de chuva no meio da estrada.
E esse foi um dos casos entre tantos outros que aconteceram nas minhas férias de verão, que sempre marcam.

segunda-feira, 30 de março de 2009

O Sonho

Por Maria Gabriela Brito


Chegou muito tarde e cansado do trabalho, foi direto para a cama. A mulher estava ali, deitada, dormindo profundamente. Ele lembrou da discussão horrível que tiveram mais cedo. Mal se falaram o dia todo. Ele a observou com nojo e com raiva, teve vontade de matá-la. Não matá-la no sentido figurado, mas ele se viu colocando as mãos ao redor daquele pescoço delicado e apertando até ela ficar sem fôlego algum.
A mulher teve coragem de traí-lo, de dar para outro homem na cama que ele havia comprado. A cena não parava de lhe vir à cabeça. Ele chegou no meio do ato, escutava os gemidos de sua mulher, aqueles mesmos que ela fazia quando começaram a namorar. O homem possuindo o corpo da amada com toda força, dando bufadas de tesão. Aquele homem já fora seu amigo, seu melhor amigo.
Ele deitou ao lado dela, quase vomitando de repulso. Não queria mais brigar, queria paz. Adormeceu. Lembranças de bons tempos ao lado dela vieram à tona. A imagem do amigo penetrando a mulher voltou à cabeça, fazendo-o acordar suado em um pulo. A mulher estava com a cabeça adormecida em seu peito, e os braços envolvendo-o pela barriga. Ele olhou com desprezo para ela e sem pensar começou a beijá-la, com tanto desejo e ódio que nem ele ou ela compreendiam.
Acariciou o corpo dela, a mulher desesperou-se, não sabia o que ele queria com aquilo. Ele beijou todo o corpo da esposa, pequenas mordiscadas nas orelhas a fizeram arrepiar. Passou a mão devagar pelas curvas acentuadas. Beijava sua boca com tanta sede que ela sentia dor. Arrancou-lhe a calcinha no dente, e levantou-lhe a camisola. Subiu em cima dela e esteve tão dentro como nunca antes. Ele fechou os olhos e seguiu com o ato enquanto ela gritava para ele parar.
Na euforia ele não percebeu, mas cobria a boca e o nariz dela com uma das mãos e com a outra ele comprimia forte o pescoço. A esposa cada vez mais em pânico não tinha mais como gritar, ela debatia os braços e fazia o possível para sair dali. Ele continuava perdido no corpo dela, como se o mundo estivesse a um fio para acabar.
Ele terminou o ato e não se deu conta. A mulher estava morta. O pescoço roxo e machucado. A boca entreaberta, como se mesmo no corpo desfalecido, a alma buscasse o ar. Ele se jogou para o outro lado da cama quando percebeu. Ficou parado, assustado, olhou para suas mãos em pânico. Levantou e deu uma volta pelo quarto. A mulher estava estirada logo ali. Aquele corpo sem vida, havia sido sua amada um dia.
Ele sentou em um canto do quarto e aterrorizado não sabia o que fazer. Inebriado pela euforia, ele cometeu aquele crime. Aquela mulher era uma droga, um vício, era tudo culpa dela, por tê-lo amado e traído. Ela o havia enfeitiçado, o envolvido. Ele levantou e seguiu para perto do corpo, ajoelhou e segurou uma das mãos da morta. Naquela hora flashs e mais flashs do amor intenso que viveram estavam pairando sobe sua cabeça.
Ele fechou os olhos, lágrimas escorreram pelo seu rosto e ajoelhado ao lado da cama, afundou a cabeça no colchão e adormeceu. Para ele apenas segundos haviam passado quando o despertador tocou.
Estava deitado, enrolado no edredom. Sentou-se e esfregou os olhos. Olhou para os lados e se deu conta de que a mulher não estava na cama. Pensou ter ouvido barulhos no banheiro. Deu mais uma boa olhada pelo quarto, e aliviado pensou “foi um sonho”. Levantou-se devagar ainda abatido pelo pesadelo e foi em direção a porta do quarto.
No susto, levou um tombo e bateu a cabeça na cômoda. Durante o sono agitado empurrou o corpo da mulher para o chão. Não havia sido um sonho.

terça-feira, 24 de março de 2009

Um dia a gente descobre

 Por Sarah Menezes

Quando pequena era comum ouvir como eu era simpática, falante e extrovertida. Há quem apostasse que eu teria uma carreira brilhante na política devido a minha desenvoltura e ao meu grande círculo de amizade.
Na infância não é comum refletir sobre o futuro, ainda mais sobre o futuro profissional, afinal, temos coisas mais interessantes para fazer e, pensar no que ser quando crescer pode esperar. Mas esse tipo de questionamento é sempre feito pelos adultos, e quando isso acontecia, a primeira resposta que me vinha era dentista.
Queria seguir essa carreira para poder cuidar daqueles dentes maltratados dos meus avós, pois eles necessitavam e não tinham dinheiro para este “luxo”. No decorrer da minha vida escolar desisti de ser dentista, não tinha a menor delicadeza e paciência para cuidar dentes, mexer com sangue, sentir mau hálito e etc. Definitivamente isso não era para mim.
Pensei em inúmeras outras carreiras como as de bióloga ou biomédica, pois sempre me sobressaí nessa área. Pensei também em história ou filosofia, amava ler e saber detalhes de pensamentos e histórias que constituíram e constituem a minha vida até hoje. Mas nenhuma dessas pretenções vingaram, no final descobri que a minha vocação, o sentido da minha vida profissional sempre fora outro.
Decidi ser jornalista!
Percebia que só seria completa se pudesse passar o resto da vida conhecendo pessoas e histórias, podendo mostrar para o mundo inteiro as minhas vivências, as minhas histórias e, consequentemente, a vida de outras pessoas.
Escolhi o jornalismo para fazer a minha parte por um mundo melhor, denunciando, mostrando a verdade, fazendo do meu habitat um lugar mais justo e ideal para se viver. Tenho certeza que cada pessoa que escolher essa linda profissão é para poder colaborar com o bem estar da humanidade e deixar sua marca na história.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Príncipe

Por Maria Gabriela Brito
 Crédito Imagem: ImageBank-Bruno Muff

Ela nunca foi o tipo de garota que se apaixonava fácil. Aliás, nunca tinha se apaixonado até conhecer Denis. E o filha da mãe nem era bonito como os caras que ela costumava pegar. Viram-se um dia num boteco e Denis a xavecou até cansar. Ela acabou cedendo pela insistência.
Depois do primeiro beijo conversaram durante o resto da noite. Ela não acreditava, ele era perfeito pra ela. Sempre foi o tipo de garota que julgava as outras que beijavam um e no outro dia não sabiam falar de outra coisa. Até tinha algumas amigas assim. Mas depois de Denis, ela entendeu. Aquilo era diferente de tudo que ela já havia experimentado.
Trocaram telefones e ela mal conseguiu dormir pensando nele, lembrando de seu toque e seu beijo. No outro dia não descolou do celular. Ela não sabia o que estava acontecendo, o cara tinha mesmo mexido com a cabeça dela. “Gente, o que eu to fazendo?” pensou inconformada. Decidiu deixar o celular de lado e ir fazer alguma coisa produtiva.
Na academia não conseguiu se concentrar, aquilo estava estranho. Ela
tinha certeza que o cara tinha lançado magia negra nela. Voltou para casa tentando pensar na paisagem, no tempo, no cabelo que precisava cortar. Nada. Nada fazia ela esquecer. Chegou e correu para o celular: 13 chamadas não atendidas – todas dele.
Ela praticamente surtou. Não sabia o que fazer, se ligasse pra ele, será que podia parecer desesperada? Mas e daí? Ela estava mesmo desesperada! Enquanto uma nuvem de dúvidas pairavam sua cabeça, o celular tocou. Era ele. Ela respirou fundo e atendeu tentando parecer normal.
“Oi?”
“Bela? Tudo bom? É o Denis, tentei te ligar algumas vezes e você não atendeu”.
Conversaram um pouco e marcaram de se ver no outro dia. Bela tinha certeza que não ia conseguir dormir de ansiedade para revê-lo. Mas pelo menos agora ela tinha uma pista, aparentemente ele também queria ela. Finalmente depois de toda a espera, os dois se encontraram em um restaurante italiano, tomaram um pouco de vinho e conversaram até sobrarem apenas os garçons no lugar.
Bela olhava fixamente para ele, e tinha certeza de que aquele seria o homem de sua vida, seu marido e pai de seus filhos. Em apenas três dias ele fez com ela o que nenhum outro homem jamais havia feito. E olha que tentaram. A meiguice dela era cativante, além do mais era um mulherão. Devia ser objeto de estudo e motivo de inspiração para outras mulheres.
Mas algo em Denis mexeu com ela. Indecifrável. O sorriso? Era bacaninha, mas ela já havia conhecido melhores. O olhar? A fala? “Acho que era pra ser”, pensou. Saíram do restaurante e acabaram em um motel, onde os dois tiveram a melhor noite de suas vidas. No dia seguinte, Bela esperou pela ligação de Denis o dia todo. Nada. Nem no outro dia e nem no dia depois do outro dia. Ligou uma vez e sua chamada foi rejeitada, depois disso, ela decidiu não ligar mais, não ia dar esse gostinho pra ele.
Ele havia sumido do mapa e partido o coração da jovem. Bela acabou se recuperando, mais rápido do que imaginava. Foi usada, se sentiu usada, mas resolveu se reafirmar pensando, “pelo menos eu dei”. Depois ela voltou a ser ela mesma, cativante por fora e uma pedra por dentro. Além disso, também aprendeu uma lição: Príncipe encantado, só em filme e em conto de fadas.

(Crédito Imagem: ImageBank-Bruno Muff)

quinta-feira, 5 de março de 2009

A Praia

Por Mônica Salmazo
     
O litoral. O sol, as ondas, as pessoas e o cheiro agradável da maresia misturado com o pastel gorduroso da tia Paula, aquela mulher fantástica com suas calças justas, levantando toda aquela formosura de 50 anos e 200 quilos impecáveis. Seu pastel vende bem na praia, virou atração, assim como o vendedor de coxinha, quibe, esfirra, enroladinho e tudo o que tiver de mais gorduroso.
      Na ponta da praia as pessoas são mais econômicas, levam seu alimento da própria casa. Aaaaaaaai que beleza! Não tem nada melhor do que ver aquela tia passando maionese no pão e enchendo de condimentos inimagináveis. Coloca tudo na sacola junto com o frango, a farofa, o pão com atum, o refrigerante e a cerveja foram colocados no isopor, comprado no mesmo supermercado da cidadezinha natal, pois lá é mais barato né.
      Vão todos para a praia, leva a sacola com o almoço e o café da tarde, com as bebidas pro dia todo, as cadeiras de supermercado, os chinelos, os maiôs gigantes cor “celulite viva” e biquínis “vejam minha coleção de estrias”. As crianças levam bóias pra brincar no raso e as mães começam um ritual sagrado de passar protetor na mulecada. Após longos e infindáveis minutos sendo amaçadas, esfregadas, cuspidas pelas broncas do “fica parado menino”, “assim eu não consigo passar”, “vê se não responde a sua tia, ela só está te oferecendo um frango com guaraná”, então, finalmente, elas ficam prontas: um bando de anões brancos correndo pela praia gritando “mãããããããããããeeeeeeeeee, olha pra mim mãããããããããeeeeeeee, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe, mãe...”.
      A sacolinha do lixo começa a encher, embalagens de papel alumínio e papel filme se misturam às garrafas de refrigerante e os copinhos plásticos, as latinhas de cerveja já foram recolhidas para a prima da roça fazer bolsas e roupas com anéis da lata e o resto da embalagem vai para a coleta da cidade que paga 0,0000002 centavos por cada uma.
      Na praia você pode encontrar também os tradicionais camelôs, vendem óculos escuros a “10 reaus e 20 reaus os bãos”, tem de tudo, até mesmo a bolsa de anéis da sua prima do interior. Tem saia-cinto, daquelas que você não descobre se era pra ser uma saia ou então um cinto, mas que todas as piriguetes usam; tem o vestido cortina, você não sabe se era pra ser um vestido pra ficar limpando casa ou se coloca na janela pra fazer de cortina; cangas ma-ra-vi-lho-sas que se parecem com calças, na verdade elas podem ser os dois, ora saia, ora calça, o importante é que tem tecido pra se fazer uma rede das boas e deitar a tarde toda enquanto come o bolo de fubá delicioso que trouxeram lá de casa.
      Com todas as suas belezas o litoral brasileiro ainda é um ponto turístico muito visado pelos estrangeiros, que podem comprar mercadorias a preço de bananas, ou em pastéis da tia Paula.

Sessão nostalgia

Por Sarah Menezes

A mola-maluca, é difícil encontrar alguém que em sua infância não tenha se divertido com esse brinquedo. Ao iniciar uma sessão nostalgia a primeira coisa que me veio a mente foi esse brinquedo peculiar, colorido, no qual eu passei inúmeras tardes brincando.
Mergulhando em minhas lembranças um brinquedo que marcou várias aventuras surgiu, a minha motoca, ou velotrol como também é bastante conhecido. Lembro de andar em cima dela por toda a casa, rodeando a mesa da cozinha, zanzando de lá para cá na sala enquanto minha mãe assistia TV, e toda minha euforia vinha à tona quando eu podia correr para cima e para baixo com toda a velocidade pelas calçadas do meu bairro, isso realmente me deixava alegre.
Lembro de cada detalhe daquele brinquedo que eu adorava, ela era azul com as três rodas vermelhas, pequenina, com vários adesivos de desenhos que eu própria colei para dar um toque final em seu estilo e deixá-la com a minha cara.
Me diverti tanto com esse brinquedo que, quando já estava mais velha e crescida lembro de vê-la toda acabada, com alguns furos em suas rodas, toda desbotada, os adesivos já haviam se descolado, e os que restaram já estavam todos rasgados, pela metade, sobrando apenas a cola grudada na motoquinha, a deixando ainda mais acabada.
Foram vários momentos divertidos que eu passei em cima daquele brinquedo, e os guardarei com toda a felicidade e carinho em minha memória.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Os outros

Por Maria Gabriela Brito

De sua turma nunca foi a mais bonita, porém Carol sabia o que queria, e acreditava nela mesma para conseguir. Além disso, tinha um instinto de liderança, e sua personalidade visível a deixava mais atraente. Ela se preocupava com todos ao seu redor, e sempre ficava satisfeita quando os outros estavam satisfeitos.
Quando tinha lá seus quatorze anos, estudava em uma escola próxima a um cursinho pré-vestibular. Todos os dias ela via passar por ali um rapaz lindo de mãos dadas com sua namorada. Carol gostava de ter metas e fazer o seu melhor para atingi-las. Falava para suas amigas que aquele deus grego seria dela um dia.
Carol não voltou a ver o rapaz depois daquele ano, mais tarde acabou mudando de escola, nem lembrava mais dele. Fez novas amizades, que acabaram tornando-se eternas. Os antigos amigos também não ficaram para trás. Como já dito antes, ela era o tipo de pessoa que não deixava ninguém para trás.
A jovem estava em uma fase boa. Gostava de curtir um happy hour com as amigas no final de semana. Em uma dessas noitadas de sábado, ela e mais duas amigas foram aproveitar a night em uma balada da moda. Dançavam empolgadas quando uma das meninas deu um grito ao ver um grande amigo que não via há anos. Carol deu um grito ao ver que seu antigo deus grego acabava de entrar na boate. A outra deu um grito ao se assustar com o grito das outras duas.
Carol acabou descobrindo que o rapaz que ela sempre via com a namorada no final da aula era o grande amigo de sua amiga. “Que bom que esse mundo é pequeno”, ela pensou. Naquele dia ela agarrou a oportunidade e conseguiu o que tanto queria há algum tempo. Depois daquilo não se viram ou se falaram mais. Ela até pensou em ligar algumas vezes, mas muitas outras coisas aconteciam em sua vida e ela o esqueceu novamente.
Quando estava no último ano da escola, aquele belo rapaz reapareceu em sua vida. Ficaram e ficaram, começaram a namorar. Formavam um belo casal. Carol e Fernando davam certo onde estivessem. Foram se apaixonando cada vez mais um pelo outro. Qualquer um podia sentir amor quando estava na presença deles. Ele não vivia sem ela, e ela não vivia sem ele.
Naquele ano o pai de Carol faleceu, e sua mãe mal parava em casa, mas Fernando esteve ao seu lado em cada segundo. Ela havia mudado um pouco, tornado-se mais nervosa, mas ele nunca perdeu a paciência com ela, por mais que ela o tentasse. As brigas eram constantes e normais como em todo relacionamento. Quando ela terminou a escola, os dois entraram juntos na faculdade, entretanto, cada um em uma cidade, ele saiu da terra natal, e ela ficou.
O amor dos dois ainda estava lá, só que eles não sabiam mais onde procurar. As brigas foram aumentando devido à distância física e tornaram-se cada vez mais sérias, várias pessoas começaram a se envolver e dar palpites. Ela pisava na bola com ele, e ele já não mais tão paciente não deixava em branco e dava o troco cinco vezes pior. Todos queriam saber o que acontecia entre eles, e que crise era aquela que afetava aquele amor antes tão intenso e tão bonito.
Na verdade o amor era o mesmo, mas eles começavam a crescer e o relacionamento continuava imaturo. Muita gente falava para Carol esquecer Fernando, dizendo que ele só fazia mal para ela. Talvez aquilo fosse verdade, e ela decidiu terminar. No fundo não parecia certo. Vários meses depois Fernando voltou para a cidade, dessa vez para ficar, desistiu da faculdade. A partir de então, os dois passaram a se encontrar escondidos. Nem a família e nem os amigos de Carol aprovavam o relacionamento deles.
A menina já não suportava mais esconder o que sentia por Fernando, decidiu lembrar quem ela era: autoconfiante! Assumiu para todos novamente um relacionamento com ele que prometia dar certo dessa vez. Um ano se passou diante dos olhos deles, e o namoro começava a desandar novamente. Os palpites alheios enchiam a cabeça de Carol, e ela via que não podia mais agradar a gregos e troianos.
Com tanta gente envolvida em seu relacionamento, ela não sabia que caminho tomar. De um lado estava Fernando, e aquele sentimento que era muito mais forte do que ela, de outro estavam os outros, que não sabiam o que passava na cabeça da jovem e nem como ela se sentia de verdade. Pela primeira vez na vida ela não era líder de nada e não conseguia decidir o que fazer. Não tinha forças para lutar por ele. Ela terminou novamente. Mais uma vez, aquilo não parecia certo.
Durante anos Fernando procurou Carol, ela o ignorava o máximo que conseguia, mesmo que aquilo a machucasse demais, principalmente por saber como o machucava. Algumas vezes ela não resistiu e saiu com ele sem que ninguém soubesse. Fernando pedia desculpa por tudo que acontecera entre eles, e implorava para tê-la de volta. Ela sabia que o desfecho daquilo era culpa dela, mesmo ela fazendo parecer ser culpa dele.
Depois de tudo, ela escolheu ser infeliz e deixar os outros felizes, como havia feito a vida inteira. Acabou se casando com outro, mas nunca esqueceu ou deixou de amar Fernando. Ele por outro lado, escolheu esperar Carol por toda a vida, na esperança de que um dia ela voltasse para ele.

sábado, 3 de janeiro de 2009

O Osama de Copacabana

 Por Maria Gabriela Brito

Eu compartilhava um espírito de renovação com mais um milhão e meio de pessoas que aguardavam ansiosas pela contagem regressiva para a chegada de 2009. Com pés descalços nas areias de Copacabana eu me divertia com pessoas que conheci. Observei alguns, ignorei outros, mas entre aquela multidão vestida em branco, um senhor abatido me chamou a atenção.
Sem sapatos, bermuda tactel surrada e uma camiseta enrolada na cabeça. A peça de roupa parecia um turbante, e quem estava em volta não pôde deixar de apelidá-lo de Osama Bin Laden. Os que olhavam para ele achavam que era mais um mendigo bêbado, talvez drogado. Mais um louco num mundo rotulado “normal”. Confesso que simpatizei com Osama, que mais tarde se apresentaria como Antonio, o arquiteto.
Quando veio conversar comigo, esquivei, fiquei com medo e não vou mentir, realmente o rotulei. Entretanto, resolvi dar uma chance àquele senhor. “Qual é tua graça?” foi o que ele me perguntou. Acabei descobrindo que no Rio, ele queria saber meu nome. “Gabriela” retruquei. Ele repetiu em voz alta como quem procurasse o que dizer em seguida.
Esperei ouvir idiotices, mas aproveitei para dar boas risadas. O caso é que Osama disse que tinha alguns recados para mim. Em um ambiente de comemoração ele me fez sentar na areia daquela praia e ouvir o que ele tinha a dizer. Olhando firmemente nos meus olhos ele disse que uma Santa cuidava de mim: Maria de Fátima. Fui informada por amigos, que ela também é a Nossa Senhora do Rosário, ou Virgem Maria, ou como preferir, já que tem mil derivações de nomes que se referem exatamente a mesma santa.
Ele seguiu afirmando com todas as forças que alguém me ama muito e está muito próximo, mas eu não sou capaz de enxergar. Continuou dizendo que um familiar preza a minha felicidade, podia ser um tio ou avô. Ouvi com atenção, apesar de estar achando tudo extremamente irrelevante. Foi quando ele me disse uma coisa que realmente me tocou.
“Você ainda vai fazer muito bem para o mundo”. Se isso é verdade ou não, ainda não sei, mas quando chegou a hora da contagem regressiva e todos esperavam ansiosos por aquela maravilhosa queima de fogos, eu pensei no que ele me disse. Talvez ele fosse mesmo um louco falando bobeiras da boca pra fora. O caso é que a situação misturada com a vontade recomeçar em mais um ano novo, me fez realmente querer fazer bem para o mundo.
A energia que a passagem do ano trás causa em cada um uma vontade de seguir em frente, trás forças. Alguns aproveitaram para fazer promessas, outros pedidos e simpatias. Eu pulei as tradicionais sete ondinhas (pra mim e pra algumas amigas). Nem todos tiveram um Osama para ler o futuro (diga-se de passagem, o meu promete ser grandioso), mas cada um a sua maneira buscou meios de ser melhor em 2009.
Durante os 10 segundos para a chegada do novo ano, eu senti que o Rio de Janeiro compartilhava comigo aquele espírito de paz e renovação. Naquela hora eu percebi que o mundo podia ser melhor, bastava cada um fazer a sua parte. E o Osama já garantiu que eu vou fazer a minha.