Por Maria Gabriela Brito
Ela voltou para casa chorando de tanta raiva. A mãe estava revoltada. “Como um menino pode grudar chiclete no cabelo da minha filha?”. Ela tentava acalmar a menina que não parava de chorar um minuto. A situação piorou quando ficou sabendo que ia ter que cortar os cabelos longos para sua idade.
- Chanel não mãeeeeee! Não queroooooo, não querooooo! Eu não vouuu! – esgoelou a menina.
- Mas você prefere ficar com chiclete grudado no cabelo?
- Prefiro!
A mãe acabou convencendo-a de que a melhor solução era cortar o cabelo. O corte caiu muito bem para o rostinho infantil, e combinava mais com seus apenas oito anos. Ela também gostou. Até que estava se divertindo com toda aquela história de ser vítima, mas não queria que ninguém soubesse.
Na verdade ela tinha um plano. Aquele menino não ia ficar impune nunca! Pensou numa armação mirabolante para infernizar a vida dele e colocou em prática no outro dia.
- Professora! O Igor cortou o meu cabelo!
E desabava em lágrimas.
A professora pegava Igor e o levava direto para a diretoria toda vez que ela inventava alguma coisa e colocava a culpa nele. Foi assim até eles completarem 14 anos. Foi então que Igor precisou mudar de escola. Os dois nunca mais se viram, ela ficou satisfeita porque finalmente havia se livrado dele e completado sua vingança.
Anos se passaram. Ela entrou para a faculdade e a última coisa que passava pela sua cabeça era o Igor. O coitadinho sofreu na mão dela. E ela fez isso com todos os outros meninos, rapazes e homens que algum dia fizeram alguma coisa que ela não havia gostado. Ela ficou desse jeito por causa dele. Estava sempre na defensiva.
Completou a faculdade, tinha um trabalho estável e nenhum namorado. Nada daquilo fazia diferença para ela. Alguns casinhos básicos de vez em quando, nada demais. Até que conheceu ele, lindo, alto, moreno, sorriso encantador. Ele a fez esquecer toda a raiva que tinha acumulada do sexo oposto desde seus oito anos. Era maduro, tinha um bom emprego, era perfeito.
Tudo que ela não havia procurado a vida inteira. Ela pensava de onde ele havia saído. Mas ele sabia muito bem quem era ela. Aos 14 anos foi expulso da escola, nenhuma outra particular quis aceitá-lo. Começou em uma estadual, mas não foi muito bem vindo. Não fez nenhum amigo. Ele teve que mudar de cidade, começou uma nova vida, e depois decidiu voltar.
Agora eles estavam juntos, e ela encantada por ele. Era sua chance de vingança. Almoçavam juntos quase todos os dias, e ela ficava maravilhada com a conversa dele. Era bom demais para ser verdade. Neste dia em especial, em meio aos assuntos animados, ele pediu licença para ir ao banheiro. Ao sair deu-lhe um beijo carinhoso e acariciou o longo e liso cabelo dela.
Não voltou mais. Ela começou a estranhar a demora. Levantou-se e foi ao banheiro também. Quando se olhou no espelho reparou em algo grudento e colorido espalhado pelo cabelo. Era chiclete. Foi ai que ela se lembrou dele. “Maldito!”, pensou. Saiu dali direto para o cabeleireiro, onde fez um chanel igual aquele de quando tinha oito anos. Prometeu que encontraria ele e pediria revanche. Ele por outro lado foi embora, achando que finalmente tinha se vingado.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Quem gosta?
Começou a corrida eleitoral! São centenas de candidatos em busca de votos, e para isso utilizam todas as artimanhas e ferramentas possíveis e impossíveis, bombardeando os eleitores com propagandas e promessas na maior parte das vezes ilusórias. E o pior, é sempre o mesmo discurso, o que deixa a população cansada e desestimulada a acompanhar as propagandas eleitorais nas rádios e tv's. Quem se prontifica a ouvir todos os dias a mesma ladainha?
Vez por outra, durante todo o período eleitoral, os programas ganham uma informação ou quadro novo, para não dizer que estão fazendo os eleitores de bobo, assistindo durante quase 40 dias a mesma conversa fiada. Quem gosta?Os santinhos são sempre iguais, nada inovador aparece no visual, muito menos no conteúdo. Utilizam outdoors, faixas e cavaletes, causando total poluição visual pelas ruas das cidades. E aí entra outra questão revoltante. Se qualquer cidadão quiser utilizar espaço público para divulgar o seu negócio ele é impedido e multado, agora para políticos quer querem somente se eleger, e depois nem se preocupam com seus deveres perante a população o espaço é liberado, com respaldo de lei federal. Quanta injustiça! Já começa daí a desigualdade e hipocrisia que toma conta do nosso país.
Até há algum tempo atrás não tinha parado para refletir sobre essas questões eleitorais, só me sentia enfadada dessas propagandas e me dava (e ainda dá) arrepios de repugnânicia só de pensar nos massantes horários eleitorias. Mas em uma mesa de bar sempre surge algo construtivo, promissor ou no mínimo reflexivo. Pessoas desconhecidas há até 30 minutos atrás viram verdadeiros amigos de infância, as piadas tem seu momento especial na mesa, e assuntos polêmicos vem a tona, e política é quase semrpe um deles.
Papo vai, papo vem, quando estávamos no calor da conversa sobre em quem votar surge a questão do voto facultativo. Taí! Talvez seja a solução para deixarmos de eleger esses políticos com alto poder e técnica persuasiva, onde os atingidos são principalmente os menos politizados (a maioria da população), que por fim acabam elegendo os políticos bom de papo e ruim de fato.
Seria o caso de se pensar nessa inovação, uma reformulação das leis eleitorais. O voto estaria nas mãos de quem entende e quer participar da política brasileira, quem não se interessa não precisaria votar nulo, em branco, ou no candidato que está vencendo, só por votar, sem consciência, por obrigação. E para a maioria da popolação não ficar alienada, deveria existir um investimento na educação política da população, politizando a massa, fazendo assim com que ela tenha consciência no ato de votar.
Mas enquanto tudo isso não acontece, vou ligar a televisão na hora do meu descanso e apreciar o espetáculo gratuito eleitoral, que funciona como musiquinha de ninar para meus ouvidos!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Todo mundo deve satisfação a alguém
Por Maria Gabriela Brito
Olhou seu reflexo no espelho admirado. Deu uma ajeitada na gravata e escovou os cabelos com gel perfeitamente alinhados. Saiu do banheiro e pegou sua maleta na cama de casal onde sua mulher ainda dormia. A suíte chiquérrima ficava no segundo andar da mansão localizada no Jardim Europa, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo.
Desceu as escadas, virou à direita, atravessou a lareira, a sala de jantar até a cozinha. Abriu a geladeira de aço inox e pegou um Ades de maçã, colocou em um copo de cristal, bebeu uns goles e deixou o resto na pia impecavelmente limpa pela empregada. Voltou pelo mesmo caminho e seguiu até a sala de estar chegando ao hall de entrada.
Abriu a gigante porta de madeira entalhada e saiu para a garagem. Entrou no fusion preto, que era o carro para ir ao trabalho, que estava bem ao lado do porshe também preto, e o PT Cruiser verde-musgo da esposa. Entrou no carro, ligou o ar condicionado e o som programado para sua rádio favorita de música orquestrada.
Seguiu para mais um dia de trabalho. Chegou em um prédio de 32 andares espelhado de azul. Guardou o carro no estacionamento, subiu por um elevador elegante até o 31º andar onde ficava seu escritório. Ali funcionava uma multinacional da qual ele era presidente.
Entrou, deu bom dia a sua secretária e foi para sua sala toda de vidro com uma visão panorâmica da cidade. Recebeu telefones o dia todo. Deu muitas ordens à secretária, ao diretor executivo, ao advogado e ao vice- presidente, um velho amigo. Passou o dia mandando.
Mandou a faxineira varrer melhor, mandou a estagiária trazer mais café. Mandou a secretária fazer inúmeros telefonemas. Mandou, mandou e mandou. Era o que ele fazia de melhor. Quando criança mandava na mãe, no pai, e na irmã mais velha. Ele não se via em outra posição senão a de chefe, onde ele só mandava e nunca era mandado.
Passou aquele dia como qualquer outro, mandando em tudo e em todos. Depois de encerrado o período de trabalho ele continuou por lá. Sempre era o último a sair. Fazia o possível para chegar em casa tarde. Já eram perto das 21h quando o celular começou a tocar.
Ele fez questão de não atender, mas sabia que precisava voltar. Recolheu seus papéis, guardou na pasta de couro e foi embora. Chegou em casa, deu um suspiro antes de abrir a porta e entrou.
-Onde você estava? – perguntou a mulher nervosa.
-Trabalhando. – respondeu seco.
-Pode começar a chegar mais cedo! Você vai chegar mais cedo! - Berrou ela descontrolada.
-Ok. Você que manda. – Respondeu carrancudo, subiu as escadas e foi dormir. Amanhã tinha muita gente para ele descontar.
Olhou seu reflexo no espelho admirado. Deu uma ajeitada na gravata e escovou os cabelos com gel perfeitamente alinhados. Saiu do banheiro e pegou sua maleta na cama de casal onde sua mulher ainda dormia. A suíte chiquérrima ficava no segundo andar da mansão localizada no Jardim Europa, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo.
Desceu as escadas, virou à direita, atravessou a lareira, a sala de jantar até a cozinha. Abriu a geladeira de aço inox e pegou um Ades de maçã, colocou em um copo de cristal, bebeu uns goles e deixou o resto na pia impecavelmente limpa pela empregada. Voltou pelo mesmo caminho e seguiu até a sala de estar chegando ao hall de entrada.
Abriu a gigante porta de madeira entalhada e saiu para a garagem. Entrou no fusion preto, que era o carro para ir ao trabalho, que estava bem ao lado do porshe também preto, e o PT Cruiser verde-musgo da esposa. Entrou no carro, ligou o ar condicionado e o som programado para sua rádio favorita de música orquestrada.
Seguiu para mais um dia de trabalho. Chegou em um prédio de 32 andares espelhado de azul. Guardou o carro no estacionamento, subiu por um elevador elegante até o 31º andar onde ficava seu escritório. Ali funcionava uma multinacional da qual ele era presidente.
Entrou, deu bom dia a sua secretária e foi para sua sala toda de vidro com uma visão panorâmica da cidade. Recebeu telefones o dia todo. Deu muitas ordens à secretária, ao diretor executivo, ao advogado e ao vice- presidente, um velho amigo. Passou o dia mandando.
Mandou a faxineira varrer melhor, mandou a estagiária trazer mais café. Mandou a secretária fazer inúmeros telefonemas. Mandou, mandou e mandou. Era o que ele fazia de melhor. Quando criança mandava na mãe, no pai, e na irmã mais velha. Ele não se via em outra posição senão a de chefe, onde ele só mandava e nunca era mandado.
Passou aquele dia como qualquer outro, mandando em tudo e em todos. Depois de encerrado o período de trabalho ele continuou por lá. Sempre era o último a sair. Fazia o possível para chegar em casa tarde. Já eram perto das 21h quando o celular começou a tocar.
Ele fez questão de não atender, mas sabia que precisava voltar. Recolheu seus papéis, guardou na pasta de couro e foi embora. Chegou em casa, deu um suspiro antes de abrir a porta e entrou.
-Onde você estava? – perguntou a mulher nervosa.
-Trabalhando. – respondeu seco.
-Pode começar a chegar mais cedo! Você vai chegar mais cedo! - Berrou ela descontrolada.
-Ok. Você que manda. – Respondeu carrancudo, subiu as escadas e foi dormir. Amanhã tinha muita gente para ele descontar.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Imprensa irritante
Há mais de um mês não se vê assunto em maior evidência do que a morte de Eliza Samudio, ex-amante de Bruno Fernandes das Dores de Souza, ex-goleiro do Flamengo. Ok, tenho de concordar que foi um crime bárbaro, se os depoimentos colhidos forem totalmente verídicos. Mas existem milhares de crimes absurdamente maldosos acontecendo por aí, todos os dias, e nem por isso eles viram manchetes de jornais durante semanas.
Eu sei que o caso do Bruno se torna mais interessante pelo fato do criminoso ser uma pessoa pública. Mas isso não justifica a imprensa dar tanta relevância isso. Focar em um crime enquanto, no mês passado, dezenas de pessoas morreram, ficaram sem casa e família por causa de um desastre da natureza, deixar de lado as eleições que se aproximam, onde os jornalistas deveriam atuar de maneira informativa, para auxiliar a população a se interar sobre os candidatos. O Código Florestal está sendo modificando, possibilitando maior destruição de nossas florestas, retirando multas e amenizando as penas de quem um dia já cometeu algum crime ambiental. Quantos brasileiro sabem disso?
A imprensa está realmente interessada em trabalhar para o bem da sociedade? O que eu vejo são meios de comunicação obssecados por audiência, e, para estar em primeiro lugar, todos se utilizam de qualquer assunto polêmico para a população, sem se preocupar com o real dever do jornalismo. Sem se atentar em ajudar a sociedade a se tornar cada vez melhor.
Eu estou de saco cheio de ouvi falar do caso Bruno, assim como fiquei enfurecida na época do caso Ronaldo e seus travestis, do garoto João Hélio. E no final, alguém aí sabe me dizer como todas essas histórias acabaram? É tanto alvoroço e especulação, para no fim, ficarmos sem saber o desfecho.
Eu quero uma imprensa inteligente e comprometida com a sociedade. Aqui fica também o meu protesto, contra essa imprensa manipuladora e leviana em relação aos interesses da sociedade. Por isso optei por ser jornalista. O que se precisa é de gente honesta, comprometida e qualificada, para garantir o progresso.
sábado, 10 de julho de 2010
Blog da Quinzena
Queridos Delirantes, esta quinzena escolhemos o site Corporativismo Feminino.
Mais do que interessante, o espaço criado foi criado por 7 mulheres, e é uma espécie de mesa redonda das mulheres.
Mostra de tudo um pouco, realmente de TUDO um pouco. Podem apostar que essa dica é IMPERDIVEL!!!
Mais do que interessante, o espaço criado foi criado por 7 mulheres, e é uma espécie de mesa redonda das mulheres.
Mostra de tudo um pouco, realmente de TUDO um pouco. Podem apostar que essa dica é IMPERDIVEL!!!
domingo, 4 de julho de 2010
Certeza - Uma crônica sobre mim mesma
Por Maria Gabriela Brito
Quando criança nunca havia pensado no futuro. Queria saber apenas do agora. Era fechada com desconhecidos e escancarada com pessoas amadas. Gostava de falar, expor sua opinião, mesmo que na infância, não fosse muito ouvida. Com o passar dos anos a paixão por se comunicar com as pessoas só crescia.
Já conseguia defender seu ponto de vista, e mais do que isso, gostava de escutar os outros e ajudar esses a se ouvirem também. Inspirava-se no pai, ela o colocava em um pedestal. Engenheiro Civil, ex-fazendeiro, apaixonado por números e letras, a incentivava culturalmente, com leituras, escritas e estudos.
Ainda nova, escrevia poemas de amor, da vida, da dor. Sonhava em publicar um livro. Na família eram dois primos jornalistas, e o tio escritor e compositor, Cacaso. Quando descobriu os textos dele, encantou-se ainda mais pela descrição do cotidiano e do comportamento das pessoas.
Na escola montou um jornalzinho apenas para seu círculo social, nesse, ela escrevia seus poemas, e contava casos da sua própria roda. As amigas vidravam ao verem seus nomes citados por ela. O pequeno projeto não durou muito tempo, com apenas 13 anos, ela tinha várias outras coisas a se preocupar, menos com o futuro, que ainda não passava pela sua cabeça.
Nos encontros de família e com a falta de assunto, sempre surgia a pergunta, “Gabriela, e ai? Já sabe o que vai ser quando crescer?”. Aquilo a matava por dentro. “NÃO, eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe” pensava a menina. Para ser simpática, acabava respondendo o que todos queriam ouvir: “Vou ser médica”, algumas vezes, “Vou ser dentista”, outras vezes, “Vou ser advogada”.
A verdade é que ela não sabia o que ia ser, e naquela altura do campeonato, aquilo começava a perturbá-la. No colegial, tentou resgatar todos os seus gostos. Descobriu que era apaixonada por moda. Começou a desenhar roupas, e percebeu que também tinha certo dom para a coisa, mesmo sem nenhum curso, tinha os traços firmes e criava modelos que ela jurava que confeccionaria um dia.
No último ano da escola era hora de escolher. A menina começava a se desencantar pela moda, não que aquilo não fosse seu sonho, mas será que ela seria alguém naquele meio? Relações internacionais também era uma opção. Gostava de inglês, francês. Apaixonada por cultura de qualquer lugar, começava a achar que aquele seria seu destino. Conhecer novas línguas e lidar com pessoas diferentes dela.
Ao longo do ano, ela teve certeza de várias coisas. Começou com a certeza de cursar relações internacionais. Desistiu. Teria que sair de sua cidade, e ela não queria deixar o pai para trás. Eram apenas ela, ele e a irmã mais nova. Iniciou uma nova certeza, a de cursar administração. Desistiu. Queria trabalhar com pessoas, mas ainda não era aquela sua paixão.
Motivada por seu passado rural pensou em agronomia. Desistiu. O pai tinha passado péssimas experiências na área, e ela não queria aquilo. A próxima certeza foi o curso de direito. Desistiu sem motivo aparente. Aquilo ainda não a agradava. O curso de moda já estava fora de cogitação, também teria que sair da cidade para esse. Teve um insight. Psicologia. Sempre gostou de ouvir e ajudar as pessoas com seus problemas. Agora era certeza.
No dia da inscrição, marcou o curso, sem toda aquela certeza de antes, mas marcou. Todo dia ela examinava as profissões disponíveis na faculdade. Nada. Começava a sentir-se mal. “Não nasci para fazer nada, nada se encaixa no meu perfil” avaliava. No último segundo, do último dia para uma provável alteração no curso escolhido, ela tinha apenas uma certeza, não era psicologia.
Olhou todas as opções de novo, leu as descrições, e não sabia o que fazer. Foi quando um nome ressaltou sobre os outros. Um nome que ela havia visto várias outras vezes e ignorado. Como não havia pensado nisso ainda? “Prontos ou não, lá vou eu”. Foi fazer a prova de vestibular feliz, acertou todas as perguntas de português, e fez uma redação que até ela se surpreendeu. Aprovada, deu início no curso.
Hoje, Gabriela está no último período de jornalismo, e apesar da vida tê-la levado a novos desafios e oportunidades, pretende escrever um livro com seus textos e fazer sua pós-graduação em moda, já que sua paixão pelo assunto ainda está intacta. E finalmente tem certeza que está no caminho certo.
Quando criança nunca havia pensado no futuro. Queria saber apenas do agora. Era fechada com desconhecidos e escancarada com pessoas amadas. Gostava de falar, expor sua opinião, mesmo que na infância, não fosse muito ouvida. Com o passar dos anos a paixão por se comunicar com as pessoas só crescia.
Já conseguia defender seu ponto de vista, e mais do que isso, gostava de escutar os outros e ajudar esses a se ouvirem também. Inspirava-se no pai, ela o colocava em um pedestal. Engenheiro Civil, ex-fazendeiro, apaixonado por números e letras, a incentivava culturalmente, com leituras, escritas e estudos.
Ainda nova, escrevia poemas de amor, da vida, da dor. Sonhava em publicar um livro. Na família eram dois primos jornalistas, e o tio escritor e compositor, Cacaso. Quando descobriu os textos dele, encantou-se ainda mais pela descrição do cotidiano e do comportamento das pessoas.
Na escola montou um jornalzinho apenas para seu círculo social, nesse, ela escrevia seus poemas, e contava casos da sua própria roda. As amigas vidravam ao verem seus nomes citados por ela. O pequeno projeto não durou muito tempo, com apenas 13 anos, ela tinha várias outras coisas a se preocupar, menos com o futuro, que ainda não passava pela sua cabeça.
Nos encontros de família e com a falta de assunto, sempre surgia a pergunta, “Gabriela, e ai? Já sabe o que vai ser quando crescer?”. Aquilo a matava por dentro. “NÃO, eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe” pensava a menina. Para ser simpática, acabava respondendo o que todos queriam ouvir: “Vou ser médica”, algumas vezes, “Vou ser dentista”, outras vezes, “Vou ser advogada”.
A verdade é que ela não sabia o que ia ser, e naquela altura do campeonato, aquilo começava a perturbá-la. No colegial, tentou resgatar todos os seus gostos. Descobriu que era apaixonada por moda. Começou a desenhar roupas, e percebeu que também tinha certo dom para a coisa, mesmo sem nenhum curso, tinha os traços firmes e criava modelos que ela jurava que confeccionaria um dia.
No último ano da escola era hora de escolher. A menina começava a se desencantar pela moda, não que aquilo não fosse seu sonho, mas será que ela seria alguém naquele meio? Relações internacionais também era uma opção. Gostava de inglês, francês. Apaixonada por cultura de qualquer lugar, começava a achar que aquele seria seu destino. Conhecer novas línguas e lidar com pessoas diferentes dela.
Ao longo do ano, ela teve certeza de várias coisas. Começou com a certeza de cursar relações internacionais. Desistiu. Teria que sair de sua cidade, e ela não queria deixar o pai para trás. Eram apenas ela, ele e a irmã mais nova. Iniciou uma nova certeza, a de cursar administração. Desistiu. Queria trabalhar com pessoas, mas ainda não era aquela sua paixão.
Motivada por seu passado rural pensou em agronomia. Desistiu. O pai tinha passado péssimas experiências na área, e ela não queria aquilo. A próxima certeza foi o curso de direito. Desistiu sem motivo aparente. Aquilo ainda não a agradava. O curso de moda já estava fora de cogitação, também teria que sair da cidade para esse. Teve um insight. Psicologia. Sempre gostou de ouvir e ajudar as pessoas com seus problemas. Agora era certeza.
No dia da inscrição, marcou o curso, sem toda aquela certeza de antes, mas marcou. Todo dia ela examinava as profissões disponíveis na faculdade. Nada. Começava a sentir-se mal. “Não nasci para fazer nada, nada se encaixa no meu perfil” avaliava. No último segundo, do último dia para uma provável alteração no curso escolhido, ela tinha apenas uma certeza, não era psicologia.
Olhou todas as opções de novo, leu as descrições, e não sabia o que fazer. Foi quando um nome ressaltou sobre os outros. Um nome que ela havia visto várias outras vezes e ignorado. Como não havia pensado nisso ainda? “Prontos ou não, lá vou eu”. Foi fazer a prova de vestibular feliz, acertou todas as perguntas de português, e fez uma redação que até ela se surpreendeu. Aprovada, deu início no curso.
Hoje, Gabriela está no último período de jornalismo, e apesar da vida tê-la levado a novos desafios e oportunidades, pretende escrever um livro com seus textos e fazer sua pós-graduação em moda, já que sua paixão pelo assunto ainda está intacta. E finalmente tem certeza que está no caminho certo.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Grito de Socorro
Por Sarah Menezes
Rostos em prantos, olhares de desespero e expressões faciais implorando ajuda naquelas miseráveis cidades do nordeste, acometidas por uma destruição natural, onde perderam tudo, inclusive suas famílias. A única coisa que consigo perceber são gritos de socorro!
Alguém aí, do outro lado dessa tela, sentado em uma cadeira confortável, no aconchego do seu lar ou na sofisticação do seu ambiente de trabalho, já parou realmente para imaginar o que essas pessoas estão passando? Para se por verdadeiramente no lugar delas e sentir o que elas estão sentindo?
Pelo visto não, ao menos não é o que está parecendo. Não vi até agora nenhuma mobilização nacional para ajudar as vítimas de enchente em Alagoas e Pernambuco, nenhum auxílio que se compare ao que fizeram para ajudar a Tailândia com o Tsunami. E o pior, além desse descaso nacional, com um país concentrado somente em Copa do Mundo, tem seres humanos, nem sei se poderia denominá-los assim, explorando essas pessoas que perderam família, teto, lar, dignidade.
Famílias e mais famílias sobrevivendo da boa vontade dos vizinhos, lavando roupas, bebendo água e tomando banho em um rio totalmente poluído, arriscando a própria vida, e a dos filhos, ingerindo água contaminada. E o que se tem visto? Comerciantes exploradores, vendendo produtos ao triplo do preço normal, um galão de água a R$ 15,00, uma caixa de velas a R$ 5,00, um botijão de gás custando a exorbitante quantia de R$ 65,00.
Por que isso? Para que? Que justificativas plausíveis essas pessoas tem para explorar quem mais precisa de ajuda agora? É desumano. Isso é falta de compaixão, amor. Falta de sentir na pele o sofrimento da vida.
Isso é um desabafo gente, porque não consigo entender o que está acontecendo. Estou aqui para reavivar em todos o sentimento de solidariedade. Vamos fazer nossa parte. Aqui fica meu convite, e também meu protesto!
Rostos em prantos, olhares de desespero e expressões faciais implorando ajuda naquelas miseráveis cidades do nordeste, acometidas por uma destruição natural, onde perderam tudo, inclusive suas famílias. A única coisa que consigo perceber são gritos de socorro!
Alguém aí, do outro lado dessa tela, sentado em uma cadeira confortável, no aconchego do seu lar ou na sofisticação do seu ambiente de trabalho, já parou realmente para imaginar o que essas pessoas estão passando? Para se por verdadeiramente no lugar delas e sentir o que elas estão sentindo?
Pelo visto não, ao menos não é o que está parecendo. Não vi até agora nenhuma mobilização nacional para ajudar as vítimas de enchente em Alagoas e Pernambuco, nenhum auxílio que se compare ao que fizeram para ajudar a Tailândia com o Tsunami. E o pior, além desse descaso nacional, com um país concentrado somente em Copa do Mundo, tem seres humanos, nem sei se poderia denominá-los assim, explorando essas pessoas que perderam família, teto, lar, dignidade.
Famílias e mais famílias sobrevivendo da boa vontade dos vizinhos, lavando roupas, bebendo água e tomando banho em um rio totalmente poluído, arriscando a própria vida, e a dos filhos, ingerindo água contaminada. E o que se tem visto? Comerciantes exploradores, vendendo produtos ao triplo do preço normal, um galão de água a R$ 15,00, uma caixa de velas a R$ 5,00, um botijão de gás custando a exorbitante quantia de R$ 65,00.
Por que isso? Para que? Que justificativas plausíveis essas pessoas tem para explorar quem mais precisa de ajuda agora? É desumano. Isso é falta de compaixão, amor. Falta de sentir na pele o sofrimento da vida.
Isso é um desabafo gente, porque não consigo entender o que está acontecendo. Estou aqui para reavivar em todos o sentimento de solidariedade. Vamos fazer nossa parte. Aqui fica meu convite, e também meu protesto!
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Não-eclética, e daí?
Por Mônica Salmazo
Eu estava prestes a começar outra história de romance, de aventuras, de sofrimento e outros diversos fatores que recheiam as histórias interessantes. Foi então que prestei bastante atenção no meu ambiente para escrever, eu escrevo em qualquer lugar, mas não suporto escrever sem música. Taí um tema interessante de verdade.
As músicas são a influência mór da escrita, quando estamos ouvindo músicas que falam de relacionamento entre casais então ficamos muito mais sucetíveis a escrever sobre o assunto. As mais belas músicas, na minha opinião, são as que falam sobre a vida, é incrível a capacidade de síntese que aprendemos a ter quando estamos sob influência da música.
Música faz parte da existência humana, que atire a primeira pedra quem nunca colocou músicas depressivas depois de levar um fora ou então de terminar um relacionamento complicado. A música é essencial sim! Nem por isso eu me julgo eclética, odeio determinados gêneros musicais e acredito que o preconceito contra pessoas não-ecléticas seja maior do que preconceito que essas pessoas não-ecléticas tem com os estilos musicais.
Vivo escutando de amigas que eu sou chata por que não aceito ir em show de sertanejo com elas, bom, na minha opinião, prefiro ficar em casa vendo um bom filme ou procurar outro lugar para ir. O problema dos não-ecléticos é que acabamos nos isolando, de certa forma, da sociedade. Vamos pensar: cidades pequenas, nada comparado com São Paulo ou Rio de Janeiro, são mais difíceis de encontrar opções. Se você é o único membro da turma não-eclético as probabilidades de ficar sozinho em um sábado à noite são bem maiores.
Mas defendo-me ao dizer que realmente prefiro ser isolada e curtir coisas que gosto do que ir a lugares que não são a minha praia. Sinto-me desconfortável, deslocada e irritada, você já se sentiu assim? É muito estranho, e muito diferente de quando estamos em um ambiente familiar e agradável, são outros 500...
Por isso escolho por ser não-eclética, mesmo que fique sozinha às vezes por falta de opção... bom... é sempre bom ter um tempo para curtir a si mesma.
Blog da Quinzena
Esta é a nossa dica da quinzena, espero que se divirtam!
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Vida...Amor...Vida
Por Sarah Menezes
Nada melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar com você! Esse era o desejo diário de Antônia. Todos os dias ao acordar e se aprontar para ir para a faculdade ela planejava como seria maravilhoso não ter todas aquelas aulas só para poder dormir e acordar com Felipe. Queria se demitir do estágio a tarde só para fazer planos de uma vida inteira com ele. Sonhava com o dia em que todas as noites seriam ao lado do amado, curtindo com ele, descansando com ele, matando o tempo, à toa, mas com ele.
Era tudo o que ela queria, porém os compromissos de cada um permitiam somente que se encontrassem aos domingos, e, ao mesmo tempo em que era o dia mais perfeito e esperado da semana, era o mais dolorido também. Sentia um aperto no coração só de imaginar a saudade que sentiria dele depois dos maravilhosos momentos que tinham. A falta que o cheiro e o calor de Felipe faziam para o corpo de Antônia era gigante. A hora da despedida era com choros, todas as vezes. Antônia vivia por Felipe.
A jovem mulher tinha de 22 anos, e estudava gastronomia. A profissão escolheu também pensando em seu amado, uma outra maneira de lhe agradar. Optou por gastronomia para seguir os conselhos da avó, mãe e tias, que sempre diziam que homem se segura é pelo estômago.
Antônia fazia contagem regressiva para que chegasse logo o início do próximo ano, quando já estaria formada, e com o dia do seu casamento bem próximo, 26 de janeiro.
Antônia fazia contagem regressiva para que chegasse logo o início do próximo ano, quando já estaria formada, e com o dia do seu casamento bem próximo, 26 de janeiro.
Durante todo o decorrer do ano, que antecedia seu tão esperado sonho, ela se dedicava de corpo e alma aos preparativos do casamento. Juntava todo o dinheiro que ganhava no seu estágio, só abria exceção para gastá-lo quando era dia de presentear Felipe, ou para comprar alguma coisa que a deixasse mais linda para o namorado.
Na virada do ano viajou para a paria com o amado e a família dele. Foram em dois carros, pois era gente pra caramba. Céu, praia, mar, calor, amor. Vida nova e cheia de felicidade era o que Antônia pedia e esperava para o ano que estava chegando.
Cinco, quatro, três, dois, um. Um milhão de fogos de artifícios embelezaram o céu durante uns 5 minutos. Ainda mais apaixonado, Felipe pega Antônia no colo e sai correndo pela multidão, sequesrtando-a. Chegaram em um amontoado de pedras, com vários coqueiros ao fundo, embelezando ainda mais a paisagem. Felipe deita Antônia na areia, e ali eles tem a melhor noite de amor de toda a vida dos dois. Depois disso, a paixão e o amor consumia ainda mais o casal.
Na volta para casa Felipe trazia em seu carro a amada e sua irmãzinha mais nova, Natália, de 6 anos. Era noite, e Felipe se mantinha o mais atento que podia, enquanto Antônia e Nati dormiam. A 5km de sua cidade, o rapaz, de repente, enxerga uma pessoa pulando na frente de seu carro. No susto Felipe joga o carro para esquerda para desviar e bate com tudo na placa de sinalização.
Quando Antônia abre os olhos, vê Natália ao seu lado, gritando Nininha, para lhe acordar. Desesperadamente já começa a gritar por Felipe, sem saber exatmente o que tinha acontecido. Sem muitos ferimentos, e com nenhum grave, ela vai em busca do namorado. O encontra bem próximo ao carro, ainda vivo. Ela o segura junto ao peito, e ele diz a Antônia que para sempre a amaria, aqui ou em qualquer outro lugar, outro tempo, outra vida. E em seguida fecha os olhos e dá seu último suspiro.
Antônia chora incontrolavelmente, faz juras de amor eterno, acaricia e beija o amado mesmo sem vida. Natália chega bem pertinho, põe a mão na barriga de Antônia e lhe diz:
- Ele vai ficar com a gente Nininha. Vai dar para gente todo o amor que o Lipe daria.
terça-feira, 1 de junho de 2010
T - continuação
Por Mônica Salmazo
Continuação
Por que justo comigo?
Ela saiu pela porta da frente de sua casa, aflita e totalmente desnorteada, Tatiana percebeu as antigas bicicletas que ela e Valentina costumavam andar quando crianças, as bicicletas eram grandes para crianças, mas elas gostavam mesmo assim. Como um relâmpago ela subiu na bicicleta e saiu disparada para a rua.
Pedalou em direção ao sol, pedalou durante segundos, minutos, ou seriam horas? As lágrimas não paravam de rolar em seu rosto branco pálido. O vento gélido rasgava sua pele, como mil pontas afiadas de facas, todas cravadas em seu coração.
Do nada Tatiana parou, largou a bicicleta no chão e subiu um morro, alto e quase impossível de se alcançar o topo para quem o desconhecia, mas ele era bem familiar para ela. Se passaram tantos anos. Era incrível como a infância desaparece e a adolescência toma lugar de tudo, substitui os lugares sagrados por festas e paqueras. Faz o mundo mudar, faz tudo o que era simples tornar-se extremamente confuso. Como ela queria a mãe. Não tinha mais ela, não tinha mais a melhor amiga, não tinha mais o namorado. Isso machucava tanto.
Os pés eram arrastados cada vez mais inconscientemente, o sol estava se pondo, o céu era tingido por raios vermelhos e laranjas, o frio era cada vez mais forte, dentro dela era tudo tão oco. A grande árvore ainda era a mesma, a casinha de madeira ainda estava lá, o presente que seus pais lhe dera era lindo, muito caro, mas suas condições financeiras sempre foram muito boas, nas tábuas ainda era visível as inscrições:
"V e T amigas para sempre".
Tatiana subiu no antigo esconderijo, o refúgio dela de infância, o único lugar onde poderia se esconder e planejar ficar ali até morrer de frio. Na verdade a morte seria algo muito exagerado, mas no momento ela não conseguia pensar em nada, nem mesmo em vingança, em raiva, em pena, em indiferença ou em palavras para dizer. Só queria ficar ali até a dor passar.
Sentada na velha tábua olhando o sol se por, na tentativa de se aquecer com aqueles filetes dourados vindos do horizonte, Tatiana quase caiu de lá quando ouviu uma voz masculina dizer: "Quem é você?"
Ao virar-se avistou na porta de entrada da casinha um garoto jovem, deveria ter uns 22 anos, vestia um uniforme verde e marrom totalmente brega com a inscrição "Jardinagem dos Freitas", o cabelo dourado como o sol e sensualmente ondulado, olhos verdes como safiras e lábios rosas como mangas. O corpo atlético era resultado de dias trabalhando com a inchada, o bronzeado deveria ser do sol diário e o cheiro doce de rosas era tão forte que parecia ser ele a própria flor.
Aos olhos dele ela era uma completa estranha, uma estranha linda, que apesar de ter o rosto branco como a neve, manchado com a maquiagem, era evidente que ela estava chorando, era óbvio que ela estava sozinha. Meu Deus como ela era perfeita, as pequenas mãos estavam pousadas nas pernas que balançavam no ar, enrolada na grande saia que era lambida pela brisa da altura.
Como intuição ele sentou ao lado dela e ficou olhando o sol, ela se afastou um pouco e continuou calada, olhando o horizonte, não importava quem era ou o que faria com ela, nada mais importava mesmo. Era bom não estar sozinha, mesmo assim a dor continuava, não a abandonava nem um instante. A pele estava arrepiada por causa do frio, os olhos estavam secos agora, não havia mais lágrimas, não havia mais uma sequer lágrima para escorrer, os cantos dos olhos doíam de tanto chorar, estavam secos e ela não conseguia fechá-los.
Uma blusa grande e pesada foi posta em seus ombros, ela havia esquecido por uns instantes que estava acompanhada. Ele se levantou e abriu uma parte do assoalho, tirou cobertores e uma lanterna. Como ele conhecia esse lugar? O SEU lugar? Não estava abandonado? Como ele conseguia ser tão lindo?
Ele pegou suas mãos e a colocou nos cobertores. Sentou-se na porta e ficou ali olhando o manto negro que agora envolvia tudo. Sem ao menos perceber ela pegou no sono. Teve pesadelos perturbadores, não estava entendendo mais nada.Quando acordou viu a familiar mobília do seu quarto. Tudo não passava de um sonho?
Ela ainda sentia a angústia, a dor, tudo o que havia sentido.
Levantou lentamente da cama, os pés quentes alcançaram o macio tapete persa que a mãe havia comprado antes de falecer, a camiseta grande do pai quase caía de seu corpo quando estava em pé. Os olhos ainda doíam, mas não estavam borrados e nem nada, o rosto não estava inchado, o que será que estava acontecendo?
O sol fortíssimo do lado de fora entrava pela janela do quarto. Ela caminhou até a janela como todas as manhãs, para esquentar-se um pouco e, ao invés de ver o habitual quintal gramado, ela viu ele ali, o mesmo de seus sonhos, plantando margaridas em seu jardim.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Só se divertir
Por Maria Gabriela Brito
Naquele dia tudo deu errado. Ela já acordou mal humorada depois de levantar da cama e tropeçar em um dos peep-toes laranja jogado no chão e torcer o pé. Ficou roxo. Pronto, agora ela não poderia usar salto alto para ir trabalhar, que beleza. Após o desastre sem tamanho, ela andou mancando até o banheiro para escovar os dentes, mas quem disse que tinha pasta dental? Ela procurou em toda a casa e nada. Teve que fazer um gargarejo com Cepacol.
Conformada em ir trabalhar de sapatilha e mau hálito, entrou no carro e seguiu caminho torcendo para que nada mais desse errado. No trânsito um ônibus tombou e travou toda a marginal em que ela estava. Não tinha para onde ir, só esperar. Tentou ligar para o trabalho e avisar que chegaria atrasada, mas a bateria do seu celular havia magicamente acabado. Chegou ao escritório e deu bom dia a todos, fazendo o possível para evitar o contato pessoal com alguém, já que não havia escovado os dentes e nem comido nada, então estava com aquele delicioso hálito matinal.
Sentou em sua mesa, ligou o computador e pediu a assistente para comprar uns pães de queijo, o estômago estava gritando de fome. Quando o café da manhã chegou, ela praticamente devorou tudo de uma vez. Mal terminou a última dentada e o chefe a chamou para uma conversa em particular. Ela foi para a sala dele ainda terminando de mastigar o pão de queijo macio e quentinho. Estava até se conformando de estar de sapatilha.
Entrou no cômodo gigante e totalmente branco. Com as janelas tão grandes que pareciam paredes de vidro, da qual ela enxergava toda a cidade. Sempre gostou daquela vista, e imaginava o dia em que ocuparia o local, não como uma assistente de compras, mas como a compradora oficial do setor feminino da Ralph Lauren. Sentou na cadeira de couro em frente a mesa do chefe, pensando que seu dia talvez não estivesse tão ruim se ela ganhasse uma promoção.
Quando ele abriu a boca foi o mesmo que jogar um balde de água fria em sua cabeça. Ele queria demiti-la. Inacreditável! Ela podia ao menos estar usando salto alto. Quando ouviu a notícia, os olhos grandes, cor de mel tomaram uma cor dourada brilhante, e se encheram de lágrimas, mas ela segurou e saiu da sala. Saiu de lá com tanta raiva que não quis nem saber por que estava sendo mandada embora.
Foi para seu cubículo e sentou-se em sua cadeira. Descansou a cabeça nas mãos por um tempo, depois levantou o rosto e fez um rabo-de-cavalo nos longos cabelos castanhos. Respirou fundo e recolheu seus pertences da mesa. Foi embora sem despedir-se de ninguém. Desceu do escritório pelas escadas. Quem sabe pelo menos assim sua bunda ficasse um pouco mais malhada. “Desempregada, mas com um bom traseiro”, pensou ela.
Chegou ao estacionamento entrou no carro e ligou-o. Saiu acelerando do prédio, e mostrando um dedo um pouco indecente a ninguém em especial. Abriu o vidro das quatro portas e ligou o som na maior altura. Parou em um sinal vermelho e em seguida outro carro encostou ao lado do dela. Foi aí que começou a tocar uma versão muito animada e divertida de “Girls just wanna have fun”.
Ela começou a gritar e cantar como uma louca e aumentou ainda mais o som. O cara do carro ao lado ficou olhando assustado para ela. Por um momento ela olhou para ele e ficou sem graça. Estava a ponto de abaixar um pouco a música e adquirir uma postura decente, mas logo passou. E quer saber? Ela não estava nem aí. O sinal abriu e ela seguiu gritando a música e pensando como Cyndi Lauper tinha razão, ela também só queria se divertir.
Naquele dia tudo deu errado. Ela já acordou mal humorada depois de levantar da cama e tropeçar em um dos peep-toes laranja jogado no chão e torcer o pé. Ficou roxo. Pronto, agora ela não poderia usar salto alto para ir trabalhar, que beleza. Após o desastre sem tamanho, ela andou mancando até o banheiro para escovar os dentes, mas quem disse que tinha pasta dental? Ela procurou em toda a casa e nada. Teve que fazer um gargarejo com Cepacol.
Conformada em ir trabalhar de sapatilha e mau hálito, entrou no carro e seguiu caminho torcendo para que nada mais desse errado. No trânsito um ônibus tombou e travou toda a marginal em que ela estava. Não tinha para onde ir, só esperar. Tentou ligar para o trabalho e avisar que chegaria atrasada, mas a bateria do seu celular havia magicamente acabado. Chegou ao escritório e deu bom dia a todos, fazendo o possível para evitar o contato pessoal com alguém, já que não havia escovado os dentes e nem comido nada, então estava com aquele delicioso hálito matinal.
Sentou em sua mesa, ligou o computador e pediu a assistente para comprar uns pães de queijo, o estômago estava gritando de fome. Quando o café da manhã chegou, ela praticamente devorou tudo de uma vez. Mal terminou a última dentada e o chefe a chamou para uma conversa em particular. Ela foi para a sala dele ainda terminando de mastigar o pão de queijo macio e quentinho. Estava até se conformando de estar de sapatilha.
Entrou no cômodo gigante e totalmente branco. Com as janelas tão grandes que pareciam paredes de vidro, da qual ela enxergava toda a cidade. Sempre gostou daquela vista, e imaginava o dia em que ocuparia o local, não como uma assistente de compras, mas como a compradora oficial do setor feminino da Ralph Lauren. Sentou na cadeira de couro em frente a mesa do chefe, pensando que seu dia talvez não estivesse tão ruim se ela ganhasse uma promoção.
Quando ele abriu a boca foi o mesmo que jogar um balde de água fria em sua cabeça. Ele queria demiti-la. Inacreditável! Ela podia ao menos estar usando salto alto. Quando ouviu a notícia, os olhos grandes, cor de mel tomaram uma cor dourada brilhante, e se encheram de lágrimas, mas ela segurou e saiu da sala. Saiu de lá com tanta raiva que não quis nem saber por que estava sendo mandada embora.
Foi para seu cubículo e sentou-se em sua cadeira. Descansou a cabeça nas mãos por um tempo, depois levantou o rosto e fez um rabo-de-cavalo nos longos cabelos castanhos. Respirou fundo e recolheu seus pertences da mesa. Foi embora sem despedir-se de ninguém. Desceu do escritório pelas escadas. Quem sabe pelo menos assim sua bunda ficasse um pouco mais malhada. “Desempregada, mas com um bom traseiro”, pensou ela.
Chegou ao estacionamento entrou no carro e ligou-o. Saiu acelerando do prédio, e mostrando um dedo um pouco indecente a ninguém em especial. Abriu o vidro das quatro portas e ligou o som na maior altura. Parou em um sinal vermelho e em seguida outro carro encostou ao lado do dela. Foi aí que começou a tocar uma versão muito animada e divertida de “Girls just wanna have fun”.
Ela começou a gritar e cantar como uma louca e aumentou ainda mais o som. O cara do carro ao lado ficou olhando assustado para ela. Por um momento ela olhou para ele e ficou sem graça. Estava a ponto de abaixar um pouco a música e adquirir uma postura decente, mas logo passou. E quer saber? Ela não estava nem aí. O sinal abriu e ela seguiu gritando a música e pensando como Cyndi Lauper tinha razão, ela também só queria se divertir.
Blog da Quinzena
O Blog desta quinzena provou ser bom de briga!
No meio de cinco outros blogs que concorriam na Expocom Sudeste 2010, ele foi o escolhido e classificado para a Nacional!
O Delírios era um de seus concorrentes, e apesar de não termos nos apresentado, reconhecemos que o Bangalô de Flores foi merecidamente campeão.
O espaço está preocupado em informar ao seu leitor movimentos e organizações sociais da zona da mata mineira. "A idéia é que esta página se torne uma casa virtual dos movimentos sociais aqui presentes".
Três blogueiros alimentam o site, e o Delírios os parabeniza pelo trabalho e esforço!
Parabéns ao Bangalô de Flores pelo prêmio e pela qualidade de seu conteúdo.
E galera, boa sorte em Caxias do Sul, estaremos torcendo!
No meio de cinco outros blogs que concorriam na Expocom Sudeste 2010, ele foi o escolhido e classificado para a Nacional!
O Delírios era um de seus concorrentes, e apesar de não termos nos apresentado, reconhecemos que o Bangalô de Flores foi merecidamente campeão.
O espaço está preocupado em informar ao seu leitor movimentos e organizações sociais da zona da mata mineira. "A idéia é que esta página se torne uma casa virtual dos movimentos sociais aqui presentes".
Três blogueiros alimentam o site, e o Delírios os parabeniza pelo trabalho e esforço!
Parabéns ao Bangalô de Flores pelo prêmio e pela qualidade de seu conteúdo.
E galera, boa sorte em Caxias do Sul, estaremos torcendo!
sexta-feira, 14 de maio de 2010
A Novata
Por Sarah Menezes
Bia estava empolgada, acordava todos os dias 1h30 antes de começar o trabalho, se preparava caprichosamente, deixava os problemas em casa e ia para ofício de cada dia com as energias renovadas, disposta a dar o melhor de si. Mas logo na chegada ela tomava um banho de água fria. Com 23 pessoas trabalhando no seu departamento, a um bom dia apenas 3 ou 4 gatos pingados respondiam, o restante continuavam com a cara fechada, concentrados em seus computadores, ignorando tudo e todos aos seus redores.
A novata não entendia o que estava acontecendo, se indagava sobre o que tinha feito para ser ignorada daquela maneira.
Com tanta energia negativa, Beatriz ficava atenta a todas as conversas, e quando começavam cochichar seu coração disparava, lhe vinha um medo que ela não sabia de onde. Pensava que estavam falando mal dela, de seu trabalho, desempenho, chegava até a achar que os olhares sobre elas eram tortos, de reprovação.
Amigas de longa data, que já ocuparam a mesma função que Bia ocupa, no mesmo lugar, alertaram-na para esse clima de superioridade e prepotência dentro desse ambiente de trabalho. Ela só não imaginava o que poderia acontecer, não mensurava o quanto as pessoas são arrogantes e sem educação.
Em meio a tanto olho gordo, invejoso e maldoso a jovem continuava seu ofício, tentando ignorar o que lhe fazia mal. Em seu segundo dia de trabalho Beatriz chega na sala e se depara com uma mudança, seu setor estava sendo transferido de local.
Mesa para um lado, computador para o outro, papéis e mais papéis junto com um monte de bagunças da mudança. Sala nova, o que restava agora era organizar tudo, cada coisa em seu lugar. Como em toda mudança, as coisas levam algum tempo pra se ajeitarem por completo, e nesse meio tempo Bia ficou sem computador, e seu chefe lhe permitiu que usasse quaisquer computadores que estivessem vagos no departamento. Durante 2 ou 3 dias ela ia para o trabalho apenas bater cartão, e ficava por lá para cumprir horários e a espera de um computador vago. Quando um ia embora, ou se ausentava por qualquer motivo, ela aproveitava pra usar o computador disponível, para checar e-mails e agilizar algumas coisas do seu trabalho.
Em um desses dias que ainda não tinha conseguido um computador próprio, uma manhã ensolarada, daquelas que desde as 8h você já se irrita com a intensidade do sol, a moça chega na Prefeitura e senta-se no sofá par ver os jornais. A responsável pelo administrativo, uma senhora com seus 40 e poucos anos, magra, alta, loira de cabelos encaracolados e curtos, dona de uma aparência não muito amigável, com o rosto cheio de linhas de expressão mais parecendo uma casca de mexerica, e totalmente démodé, com o nome de Horminda, se ausenta do departamento para ir ao médico, e estava precisando mesmo, para ver se melhorava aquela aparência.
Aproveitando o ensejo, Beatriz senta-se no computador de Horminda, confere seus e-mails, conclui tarefas e fica navegando pela internet. De repente ela começa a sentir um desconforto, algo começa a se retorcer dentro de sua barriga, passa a sentir calafrios e, sem ter como controlar sai às pressas para o banheiro. Mal sabia ela que isso poderia ser um sinal do que estava por vir. Ao retornar encontra Horminda, prostrada em frente ao computador, com cara de muito poucos amigos e fúria. Bia foi logo se apressando para sair da internet e liberar o computador. Chegou perto de Horminda e disse com toda educação e delicadeza:
- Desculpa, já estou saindo aqui para você usar.
E com toda a falta de educação, mal humor e respeito ela responde em alto e bom som:
- O que você está fazendo na frente do meu computador? Quem te deu permissão? Você está muito abusadinha para o meu gosto para quem é novata no ambiente. Não aceito pessoas do seu nível sentadas no meu lugar, nem mesmo ao meu lado.
Bia, transtornada de vergonha e raiva, vira um tapa na cara de Horminda com toda sua fúria. Descontroladas elas caem no chão, aos tapas, murros e puxões de cabelos.
A novata perdeu o emprego, mas saiu satisfeita por deixar um olho roxo na malvada.
Ela já havia sido avisada. Mas não tinha noção que poderia ser daquela forma. Fazia apenas uma semana que Beatriz tinha conseguido um trabalho na prefeitura. Há alguns meses ela estava na busca por um emprego, quando este surgiu, ela se encheu de energias e começou a trabalhar com toda dedicação.
Bia estava empolgada, acordava todos os dias 1h30 antes de começar o trabalho, se preparava caprichosamente, deixava os problemas em casa e ia para ofício de cada dia com as energias renovadas, disposta a dar o melhor de si. Mas logo na chegada ela tomava um banho de água fria. Com 23 pessoas trabalhando no seu departamento, a um bom dia apenas 3 ou 4 gatos pingados respondiam, o restante continuavam com a cara fechada, concentrados em seus computadores, ignorando tudo e todos aos seus redores.
A novata não entendia o que estava acontecendo, se indagava sobre o que tinha feito para ser ignorada daquela maneira.
Com tanta energia negativa, Beatriz ficava atenta a todas as conversas, e quando começavam cochichar seu coração disparava, lhe vinha um medo que ela não sabia de onde. Pensava que estavam falando mal dela, de seu trabalho, desempenho, chegava até a achar que os olhares sobre elas eram tortos, de reprovação.
Amigas de longa data, que já ocuparam a mesma função que Bia ocupa, no mesmo lugar, alertaram-na para esse clima de superioridade e prepotência dentro desse ambiente de trabalho. Ela só não imaginava o que poderia acontecer, não mensurava o quanto as pessoas são arrogantes e sem educação.
Em meio a tanto olho gordo, invejoso e maldoso a jovem continuava seu ofício, tentando ignorar o que lhe fazia mal. Em seu segundo dia de trabalho Beatriz chega na sala e se depara com uma mudança, seu setor estava sendo transferido de local.
Mesa para um lado, computador para o outro, papéis e mais papéis junto com um monte de bagunças da mudança. Sala nova, o que restava agora era organizar tudo, cada coisa em seu lugar. Como em toda mudança, as coisas levam algum tempo pra se ajeitarem por completo, e nesse meio tempo Bia ficou sem computador, e seu chefe lhe permitiu que usasse quaisquer computadores que estivessem vagos no departamento. Durante 2 ou 3 dias ela ia para o trabalho apenas bater cartão, e ficava por lá para cumprir horários e a espera de um computador vago. Quando um ia embora, ou se ausentava por qualquer motivo, ela aproveitava pra usar o computador disponível, para checar e-mails e agilizar algumas coisas do seu trabalho.
Em um desses dias que ainda não tinha conseguido um computador próprio, uma manhã ensolarada, daquelas que desde as 8h você já se irrita com a intensidade do sol, a moça chega na Prefeitura e senta-se no sofá par ver os jornais. A responsável pelo administrativo, uma senhora com seus 40 e poucos anos, magra, alta, loira de cabelos encaracolados e curtos, dona de uma aparência não muito amigável, com o rosto cheio de linhas de expressão mais parecendo uma casca de mexerica, e totalmente démodé, com o nome de Horminda, se ausenta do departamento para ir ao médico, e estava precisando mesmo, para ver se melhorava aquela aparência.
Aproveitando o ensejo, Beatriz senta-se no computador de Horminda, confere seus e-mails, conclui tarefas e fica navegando pela internet. De repente ela começa a sentir um desconforto, algo começa a se retorcer dentro de sua barriga, passa a sentir calafrios e, sem ter como controlar sai às pressas para o banheiro. Mal sabia ela que isso poderia ser um sinal do que estava por vir. Ao retornar encontra Horminda, prostrada em frente ao computador, com cara de muito poucos amigos e fúria. Bia foi logo se apressando para sair da internet e liberar o computador. Chegou perto de Horminda e disse com toda educação e delicadeza:
- Desculpa, já estou saindo aqui para você usar.
E com toda a falta de educação, mal humor e respeito ela responde em alto e bom som:
- O que você está fazendo na frente do meu computador? Quem te deu permissão? Você está muito abusadinha para o meu gosto para quem é novata no ambiente. Não aceito pessoas do seu nível sentadas no meu lugar, nem mesmo ao meu lado.
Bia, transtornada de vergonha e raiva, vira um tapa na cara de Horminda com toda sua fúria. Descontroladas elas caem no chão, aos tapas, murros e puxões de cabelos.
A novata perdeu o emprego, mas saiu satisfeita por deixar um olho roxo na malvada.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
V ou T?
Por Mônica Salmazo
E se ela descobrir?
Era tudo o que se passava na cabeça de Valentina enquanto Rodrigo dedilhava suavemente seus dedos sob sua meia 7/8. As pontas de seus dedos eram quentes, mas nada comparados aos lábios ardentes dele. A culpa remoia sua cabeça, mesclava-se com o desejo que tinha de devorá-lo inteiro. O que será que se passava na cabeça dele? Será que ele não tinha medo ou receio de estar fazendo isso? Por que doía tanto? Por que as coisas deveriam ser dessa forma?
Em meio a perguntas e respostas vazias, suas mãos apertavam as costas dele de uma forma agressivamente delicada. Sua pele estava arrepiada de tanto sentir aquele corpo quente junto ao seu. Sua cabeça era jogada para trás enquanto seu corpo apoiava-se no sofá da sala de estar, o vestido estava na sua cintura e a camisa dele jogada ao chão, denunciando o óbvio.
Seus lábios tremiam enquanto ela os mordia levemente, era tão bom, era tão gostoso. Os olhos claros de Rodrigo a olhavam com tal profundidade que parecia deixá-la nua, transparente, impossibilitada de pensar ou dizer qualquer coisa. A língua dele descia por seu pescoço fazendo-a revirar os olhos enquanto ele apertava sua cocha com as mãos.
O zíper do seu vestido começou a abrir vagarosamente. Como uma provocação ele ia beijando cada centímetro do seu corpo. Se as pessoas soubessem o que estava acontecendo na sala ao lado talvez não ficassem muito orgulhosas de Valentina.
Com uma experiência incrível Rodrigo a virou e mordiscou suas costas de modo delicado. Tão delicado que fazia Valentina esquecer do resto do mundo. Ela queria sentir apenas o hálito quente e refrescante que saía da boca dele.
O barulho dos convidados era cada vez mais alto. Pessoas embriagadas rindo falsamente uns para os outros, enquanto desejavam votos que acreditavam nunca tornarem-se realidade. O ser humano tem a péssima mania de seguir seus interesses ao invés de sua intuição. Mas isso não importava agora.
Em um compasso constante ele a tomou no colo e sentou-se no sofá. Os cabelos bagunçados, sendo puxados para trás pelas mãos fortes dele, um jeito delicadamente selvagem de dizer que a desejava. Ela gostava disso.
A respiração estava cada vez mais ofegante, a pele mais quente, os lábios tremiam e as mãos queriam pegar algo que não sabia o que era, mas desejava. E como desejava! O vestido azul marinho de seda caiu dos ombros e se acumulavam na cintura enquanto mostrava suas pernas nuas.
Não agüentava mais toda aquela pressão, não agüentava mais estar ali, não agüentava mais ter que esconder toda essa vontade. Simplesmente não agüentava mais. E foi em meio a toda essa vontade que Tatiana abriu a porta e viu os dois abraçados e seminus no sofá da sua casa.
Toda uma história passou por sua cabeça. Como conhecera Rodrigo, todas as flores que havia ganhado, todos os beijos quentes, a noite que perdeu a virgindade com ele, o baile de formatura, as viagens, os acampamentos, as escapadas no barco da família, os passeios no meio do dia, a traição.
Dupla traição.
Como uma onda que surge do fundo do oceano e ganha força na superfície as lágrimas começaram a transbordar dos seus olhos. Valentina e Rodrigo pararam e a encararam. O silencio dominou o ambiente.
Em questão de segundos Tatiana estava longe dali. Justo meu namorado e minha amiga? Justo no dia do meu aniversário? Justo comigo?
Era impossível isso estar acontecendo, simplesmente impossível!
TO BE CONTINUED
sexta-feira, 30 de abril de 2010
A vendedora
Por Maria Gabriela Brito
Todos os dias daquela última semana quando passava por aquela rua a caminho do trabalho ela o via. Ele ficava ali, estático esperando por ela à porta daquela boutiquezinha barata. O local era apenas uma entradinha feia e sem graça, perdida no meio daquela rua comercial movimentada de lojas e vitrines atraentes.
Por várias vezes ela desejou parar, mas seu horário apertado não permitiu. Como era doído vê-lo tão lindo ali dando sopa para qualquer outra que poderia aparecer casualmente e arrastá-lo boutiquezinha afora. Naquela manhã antes de sair de casa, ela não suportou e prometeu parar e levá-lo embora com ela.
Ele tinha que ser seu! O percurso foi demorado. Ela estava tão ansiosa com a idéia de tê-lo só para ela que a barriga remexia insistentemente de uma maneira tão desagradável que a deixava enjoada. Passou esperançosa pela loja, mas ele não estava lá. Alguma vadia com certeza tinha visto nele a beleza exótica que ela avistou de primeira no começo daquela semana.
Foi embora derrotada e sem ânimo. Dali para frente suas manhãs seriam muito vazias e sem graça. No outro dia, triste como estava quase desistiu de passar por aquela rua que traziam tantas lembranças, mas pensou que seria inútil e uma hora teria que superar. Quando estava praticamente em frente à lojinha decidiu parar e perguntar. Às vezes alguém ali poderia ter notícias dele. Estacionou o carro e desceu.
Atravessou a rua cheia de pensamentos positivos. Ela havia lido em um livro que o universo conspira a nosso favor quando pensamos positivos, talvez com ela funcionasse também. Entrou na loja e atrás do balcão estava uma mulher de uns 40 anos. Cabelos loiros bagunçados em um rabo de cavalo mal feito.
Ela usava um batom rosa escuro cintilante que com certeza não havia sido moda nem na década de 80. O rosto era redondo e muito branco. Vestia uma camiseta amarela regata apertada demais para seu corpo rechonchudo, e uma bermuda jeans azul clara de lycra que não lhe caia nada bem.
Ela perguntou por ele, e a vendedora respondeu com uma voz chata e aguda, que seria impossível de ouvir por mais de trinta segundos.
-Há querida, eu me lembro dele sim, acho até que ele está por aqui, espera um minuto que vou procurá-lo para você. – Grunhiu a mulher.
Ela ficou extasiada com a idéia de poder vê-lo novamente. Sentiu de novo aquele embrulho no estômago.
A vendedora desapareceu atrás de uma parede e retornou após alguns infinitos segundos. Lá estava, ainda mais bonito do que ela se lembrava. Tinha que ser dela.
-Quanto é?
-R$139,90, mas posso dar um descontinho à vista.
-Oi?
Tudo bem, o vestido era lindo, mas não valia mais do que uns quarenta reais, ainda mais naquela lojinha feia e com a pintura descascando. O vestido era curto, de um tecido vagabundo, mas com uma bela estampa de oncinha. O corte e o caimento eram legais, mas com certeza não valia aquilo tudo.
Percebendo a indiginação da moça, a vendedora pegou a calculadora e fez algumas contas que só ela mesma entenderia, e disse que faria o vestido por noventa reais.
-Leva querida, vai ficar lindo em você. – Que lábia!
-Eu to achando um pouco caro, esse tecido não é de boa qualidade.
-Querida, você não está entendendo, esse vestido é MGucci.
-Oi?!?
A mulher disse aquilo como se ser “MGucci” fosse o que todo vestido quisesse ser. E o que era MGucci afinal de contas?
A peça não valia o preço, e ainda era de uma marca totalmente desconhecida que agia como se fosse o auge do momento, mas ela não agüentava mais ouvir aquela voz irritante e preferiu não discutir moda com uma maluca que usava batom verão mil novecentos e nunca.
Comprou o vestido e foi embora aliviada. Não por finalmente ter a peça, mas por ter se livrado da visão daquela breguice ambulante e de sua voz insuportável.
Chegando em casa foi que ela se deu conta. Realmente havia comprado o vestido. Desembrulhou o pacote e olhou a peça. Um pouco revoltada, um pouco feliz e muito suspresa com a astúcia da mulher, pensou:
- Vendedora esperta do c******!
Todos os dias daquela última semana quando passava por aquela rua a caminho do trabalho ela o via. Ele ficava ali, estático esperando por ela à porta daquela boutiquezinha barata. O local era apenas uma entradinha feia e sem graça, perdida no meio daquela rua comercial movimentada de lojas e vitrines atraentes.
Por várias vezes ela desejou parar, mas seu horário apertado não permitiu. Como era doído vê-lo tão lindo ali dando sopa para qualquer outra que poderia aparecer casualmente e arrastá-lo boutiquezinha afora. Naquela manhã antes de sair de casa, ela não suportou e prometeu parar e levá-lo embora com ela.
Ele tinha que ser seu! O percurso foi demorado. Ela estava tão ansiosa com a idéia de tê-lo só para ela que a barriga remexia insistentemente de uma maneira tão desagradável que a deixava enjoada. Passou esperançosa pela loja, mas ele não estava lá. Alguma vadia com certeza tinha visto nele a beleza exótica que ela avistou de primeira no começo daquela semana.
Foi embora derrotada e sem ânimo. Dali para frente suas manhãs seriam muito vazias e sem graça. No outro dia, triste como estava quase desistiu de passar por aquela rua que traziam tantas lembranças, mas pensou que seria inútil e uma hora teria que superar. Quando estava praticamente em frente à lojinha decidiu parar e perguntar. Às vezes alguém ali poderia ter notícias dele. Estacionou o carro e desceu.
Atravessou a rua cheia de pensamentos positivos. Ela havia lido em um livro que o universo conspira a nosso favor quando pensamos positivos, talvez com ela funcionasse também. Entrou na loja e atrás do balcão estava uma mulher de uns 40 anos. Cabelos loiros bagunçados em um rabo de cavalo mal feito.
Ela usava um batom rosa escuro cintilante que com certeza não havia sido moda nem na década de 80. O rosto era redondo e muito branco. Vestia uma camiseta amarela regata apertada demais para seu corpo rechonchudo, e uma bermuda jeans azul clara de lycra que não lhe caia nada bem.
Ela perguntou por ele, e a vendedora respondeu com uma voz chata e aguda, que seria impossível de ouvir por mais de trinta segundos.
-Há querida, eu me lembro dele sim, acho até que ele está por aqui, espera um minuto que vou procurá-lo para você. – Grunhiu a mulher.
Ela ficou extasiada com a idéia de poder vê-lo novamente. Sentiu de novo aquele embrulho no estômago.
A vendedora desapareceu atrás de uma parede e retornou após alguns infinitos segundos. Lá estava, ainda mais bonito do que ela se lembrava. Tinha que ser dela.
-Quanto é?
-R$139,90, mas posso dar um descontinho à vista.
-Oi?
Tudo bem, o vestido era lindo, mas não valia mais do que uns quarenta reais, ainda mais naquela lojinha feia e com a pintura descascando. O vestido era curto, de um tecido vagabundo, mas com uma bela estampa de oncinha. O corte e o caimento eram legais, mas com certeza não valia aquilo tudo.
Percebendo a indiginação da moça, a vendedora pegou a calculadora e fez algumas contas que só ela mesma entenderia, e disse que faria o vestido por noventa reais.
-Leva querida, vai ficar lindo em você. – Que lábia!
-Eu to achando um pouco caro, esse tecido não é de boa qualidade.
-Querida, você não está entendendo, esse vestido é MGucci.
-Oi?!?
A mulher disse aquilo como se ser “MGucci” fosse o que todo vestido quisesse ser. E o que era MGucci afinal de contas?
A peça não valia o preço, e ainda era de uma marca totalmente desconhecida que agia como se fosse o auge do momento, mas ela não agüentava mais ouvir aquela voz irritante e preferiu não discutir moda com uma maluca que usava batom verão mil novecentos e nunca.
Comprou o vestido e foi embora aliviada. Não por finalmente ter a peça, mas por ter se livrado da visão daquela breguice ambulante e de sua voz insuportável.
Chegando em casa foi que ela se deu conta. Realmente havia comprado o vestido. Desembrulhou o pacote e olhou a peça. Um pouco revoltada, um pouco feliz e muito suspresa com a astúcia da mulher, pensou:
- Vendedora esperta do c******!
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Blog da Quinzena
Fluidez: A palavra que define o blog desta quinzena. O Misquilinas de Bruno Reis mereceu este posto. O blogueiro usa o espaço como coluna, diário, jornal! Ele é um dos que realmente sabe aproveitar o blog. Fala de música, de cinema, de coisa importante ou de futilidades, seja para criticar ou elogiar.
Seu texto flui tão naturalmente que é impossível não ficar envolvido com a opinião dele.
É com muita satisfação que indicamos o Misquilinas para o leitor do Delírios!
Acessem que vocês vão gostar!
Seu texto flui tão naturalmente que é impossível não ficar envolvido com a opinião dele.
É com muita satisfação que indicamos o Misquilinas para o leitor do Delírios!
Acessem que vocês vão gostar!
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Tudo em Família
Por Sarah Menezes
Em meio à estrutura familiar um tanto quanto confusa, Priscila cresceu uma menina recatada, séria, sem aquele brilho que a simpatia trás. No entanto, sua doçura, inteligência e esforço sempre despertaram admirações alheias. Além de ser dona de uma beleza invejável.
Filha de pais separados, a jovem garota de 23 anos foi criada com a mãe Ana Cristina e a irmã Thaís que, por sua vez, é irmã de Priscila apenas pela parte materna. Priscila tem mais 3 irmãos e Thaís mais 2 irmãos. São filhas únicas, mas com uma penca de irmãos. Um rolo que até Deus se confunde na hora de tentar entender.
Apesar de não correr nas veias 100% do mesmo sangue, Priscila e Thaís cresceram muito unidas. A afinidade entre as duas sempre foi algo admirável. Na cabeça delas, quando o assunto é irmandade a primeira e única pessoa que vem a mente de uma, é a outra. Não que não gostem ou desconsiderem os outros irmãos, mas no fundo dos corações das duas, somente elas que são parte da mesma família (dentro de casa), afinal a vida inteira sempre foi Ana Cristina, Priscila e Thaís. Só. Mais ninguém participava dessa família que, por sinal, era muito unida.
Mesmo não sendo criadas com os pais, Ana Cristina sempre fez questão que suas filhas mantivessem um contato muito próximo com eles. Passavam alguns finais de semana em companhia dos irmãos, pai e madrasta. Em festas e datas comemorativas as famílias sempre se encontravam e os irmãos se misturavam. Nesse momento ficava difícil até para Priscila e Thaís distinguirem quem era irmão de quem.
Nascidas e criadas no interior do Paraná, foram para São Paulo ainda meninas. Apesar de deixar pai e irmãos na cidade natal, elas nunca os abandonaram, passavam todas as férias com eles. Priscila se sentia tão à vontade na casa do pai de Thaís quanto Thaís na casa do pai de Priscila e, por isso, passavam juntas às vezes uma temporada na casa do pai de uma ou de outra.
Com a adolescência e responsabilidades chegando, as irmãs perderam um pouco o contato uma com a família da outra. Apesar de sempre permanecerem unidas o convívio com pai e irmãos uma da outra foi ficando cada vez mais escasso. A infância e as histórias vividas juntas trataram de ficar na memória.
Priscila estava se formando e, como era de se esperar, na lista de convidados apareciam o pai e irmãos de Thaís. Super lisonjeados, a família compareceu em peso, não faltou ninguém para prestigiar aquela menininha tímida, recatada, de poucas palavras e inteligentíssima, que agora tinha virado uma mulher linda, ainda séria e reservada, porém muito atraente.
Com a correria das festas e eventos, Priscila só teve oportunidade de encontrar todos os seus convidados no baile. Lá ela reencontra o pai e os irmãos de Thaís após 4 anos sem vê-los e, para sua surpresa, Leonardo (o irmão mais velho de Thaís) está irresistivelmente lindo. Ela não conseguiu entender o que passou dentro de si quando reencontrou o rapaz, mas soube que ele mexeu com ela. Mesmo assim, por causa de sua timidez e seriedade, não manifestou nenhuma reação.
O que Priscila não sabia era que o mesmo havia acontecido com Leonardo ao vê-la. Porém, como um bom galanteador e cheio de atitude, não pensou duas vezes antes de tentar se reaproximar da bela moça que, em um passado não muito distante, era considerada como irmã pra ele.
Leonardo chegou com assuntos do passado, depois começou a questionar sobre o presente e futuro de Priscila. Uma gostosa conversa se desdobrava quando Priscila lembrou-se de que era sua festa de formatura e, portanto, deveria dar atenção à todos seus convidados.
No dia seguinte todos partiram de viagem e as únicas palavras que trocaram foi um: - Adeus, até mais. Entre olhos tristes e coração apertado. A vontade de Leonardo era de envolvê-la nos braços e dizer o quanto ela havia mexido com ele, o quanto ela faria falta mesmo apesar de poucos minutos de conversa que mudaram-no.
Leonardo estava apaixonado, perdidamente encantado por Priscila, então decidiu desabafar e pedir ajuda para a irmã. Ao contar o que estava acontecendo, Thaís parecia não acreditar nas palavras que saíam da boca do irmão. Ficou confusa, começou a imaginar como seria se seus irmãos ficassem juntos. Ela acabaria sendo irmã e cunhada dos dois ao mesmo tempo. Que situção!
Mas por fim Thaís se livrou de preconceitos e hesitações, afinal, qual era o problema dos dois ficarem juntos se biologicamente não eram nada um do outro? Criou coragem e foi ter com a irmã uma conversa séria e sincera, contando a ela tudo o que Leonardo havia lhe dito. Priscila entrou em choque, não imaginava que a paixão era correspondida. Seu coração acelerado e a queda de pressão denunciavam um ar pálido, gélido e confuso. Não sabia se explodia de felicidade ou de tristeza. Era difícil decidir quando estamos em uma situação como essa.
Por fim Priscila optou por seguir sua moral, isso ia contra seus princípios éticos, mesmo que isso significasse nunca ter a oportunidade de ser feliz com seu amado. Apesar da insistência de Thaís ao tentar convencer a irmã a ficar com Leonardo, Priscila estava irredutível e decidida, não ficaria com o irmão de sua irmã jamais.
Decepcionado, Leonardo passa a perder as esperanças. Tenta interessar-se por outras mulheres, mas nenhuma mexe com ele, nenhuma é tão dedicada, delicada e graciosamente chata como Priscila. Não sabia o que fazer com aquele sofrimento dentro do peito, não dormia, não descansava, não conseguia estudar ou se concentrar. As saídas já não existiam mais, a depressão estava tomando conta dele. Foi quando Leonardo decidiu entrar para um seminário. Ali ele teria certeza de que pelo menos seu amor por Deus seria correspondido.
Algum tempo após o ocorrido Priscila conheceu outro homem, apaixonou-se e viveu intensamente essa nova experiência. Apesar de sempre ter Leonardo na cabeça ela decidiu ser feliz com outro. Casou-se e deu início a outra fase de sua vida.
Os anos se passaram. Leonardo estava indo bem no seminário, conseguira um posto confiável e liderava vários seguidores de Deus. Priscila tivera um filho e seguia sua vida familiar e profissional de forma bem tranqüila e simples. Tanto um quanto o outro ficaram extremamente chocados quando o convite de casamento de Thaís chegou. No lugar destinado aos nomes dos noivos cada um leu: Thaís Sodré e Diogo Galvão.
Priscila desmaia em sua casa. Leonardo solta um pequeno sorriso de canto de boca, sugerindo uma aprovação. Diogo era irmão de Priscila.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Je T'aimerai
Por Mônica Salmazo
À la francesa. Tinha cabelos curtos estilo Channel. Cantarolava músicas de Françoise Hardy, Edith Piaf, Mireille Mathieu, Carla Bruni, Raoul de Juglart, Charles Aznavour, Francis Cabrel entre outros. Cachecóis e botas altas vaziam parte da vestimenta. Acompanhada por óculos Claude. A onda era ser francesa. Pelo menos essa era a ideia que ela queria acreditar. Laura acreditava nisso e, portanto, seu mundo poderia acreditar também.
Passavam das onze horas da noite quando ela decidiu sentar-se em um bar. Ao som de La Question de Françoise Hardy ela avistou o pequeno nariz arrebitado pedir um Aligot (purê de batatas misturadas com queijo Tomme). O sotaque era inconfundível. As sapatilhas em tom terra combinavam com o chapéu de aba larga de mesmo tom. Seu vestido ia até os joelhos e formavam um profundo decote nas costas e na frente, preso pelo cinto costurado ao modelito. A bolsa creme era pequena e havia um chaveiro da Veuve Clicquot.
Laura ficara hipnotizada, olhando a bela jovem sentada na mesa ao lado esperando sua refeição. Como ela era bonita. Após este dia ela passou a ir todos os dias ao mesmo restaurante para encontrar a tal francesinha. Nunca mais a vira.
Foi deitada na grama da praça escutando seu mp3 que começou a escutar uma música muito conhecida por ela e desconhecida para o resto dos brasileiros: Je T'aimais, Je T'aime, Je T'aimerai de Francis Cabrel ao som de violão.
Ali estava ela, sentada na grama com um violão e uma pasta de músicas, tentando tocar a canção. Sua voz era doce e aguda, fazia com que a frequência nos deixasse estasiados, na ansia de escutá-la cada vez mais.
Foi quando os pequenos olhos verdes sobrecaíram em Laura. A pequena francesa continuou cantando os versos "Quoi que tu fasses, l'amour est partout où tu regardes, dans les moindres recoins de l'espace...".
Foi quando Laura começou a acompanhar a música e as duas cantaram juntas tarde adentro. A amizade surgiu em forma de versos e melodias. Não haviam muitas conversas uma vez que nenhuma das duas sabiam o mesmo idioma. E durante semanas o encontro na praça era quase religioso. Duas garotas com seus violões e suas músicas francesas.
Laura reparava nas pequenas mãos da francesa. Tudo parecia pequeno e delicado.
Faltavam apenas 2 horas para a francesa ir embora e esta tarde no parque não havia nada além do silêncio.
Foi quando Laura foi surpreendida quando a outra disse em sotaque arrastado e com as maçãs do rosto vermelhas de timidez: "Meu nome é Amery. É um prazer te conhecer. Vou sentir sua falta". Os pequenos lábios vermelhos tocaram a boca de Laura e como um súbito surto elas se beijaram suavemente. Os lábios formigavam e a espessura da grama nas mãos delas pareciam que poderiam ser sentidas em cada centímetro.
Durante minutos a fio elas ficaram ali, entregues aos desejo infinito que haviam acumulado. Não ligaram para o que os outros deveriam falar delas. Não ligavam se as duas eram mulheres. Não ligavam se tudo parecia confuso. Só queriam sentir. Sentir cada intensidade e onda elétrica que percorria seus corpos.
Era realmente uma pena que Amery precisasse ir embora.
Antes de ir embora Amery deu um gostoso sorriso para Laura e lhe entregou uma letra de uma música em francês e foi embora.
Passados alguns anos, Laura tornara-se uma famosa Chef de cozinha. Não casara. Não tinha ninguém além de sua gata chamada Amélie. Tornara-se professora de francês nas horas vagas e adorava tocar violão na grama de casa. Não esquecera a amiga e, para manter viva a lembrança, passara a compor músicas.
Estava em sua pequena casa em São Roque, quando escutou na televisão uma voz conhecida. Uma voz doce e aguda. A letra não era desconhecida. O prato de bolinhos que estava em suas mãos fora ao chão quando avistou Amery cantando. A mesma canção que entregara à ela anos antes. As lágrimas vieram aos olhos. Os lábios ficaram quentes e os olhos se fecharam, buscando na imaginação tudo aquilo que acontecera, a saudade que sentira.
Amery não a havia esquecido.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Blog da Quinzena
Quinze dias se passaram...e mais um blog foi escolhido para ficar em destaque no Delírios. Na TPM! O blog é bem divertido. Evilyn, Lívia e Mara postam sempre pensamentos e piadinhas, ironizando o universo feminino, ou não. Vale a pena conferir, garanto que darão boas risadas!
Bjo bjoo gente!!!.
Bjo bjoo gente!!!.
Sem preconceito
Por Maria Gabriela Brito
Há o verão! Como ele amava o clima quente, o sol queimando e os temporais momentâneos que só serviam para deixá-lo molhado e com mais calor. Sentado na arquibancada da quadra de futsal da universidade ele babava nas lindas meninas bronzeadas que faziam questão de exibir todas as partes do corpo nessa estação tão caliente.
Essas meninas deixavam-no completamente louco, como se soubessem que usar um vestidinho curto e decotado era o suficiente para fazer cada célula do corpo dele se contorcer de excitação. Até as mocinhas mais branquelas traziam no rosto um ar saudável com bochechas rosadas e nariz avermelhado queimado de sol.
Entretanto, ele não conseguia decidir o que mais mexia com ele. Aquelas belas garotas saradas e bronzeadas e seus longos cabelos brilhando a luz do dia, ou aqueles homens másculos e suados berrando e correndo sem camisa atrás da bola de futebol na quadra coberta.
Aqueles rapazes joviais e cheios de energia enchiam a cabeça dele com pensamentos que sua avó com certeza consideraria muito mais do que pecaminosos. “O Diabo roubou e possuiu meu netinho com pensamentos do inferno!”, diria ela. A imagem da avó maníaca religiosa o fez soltar uma gargalhada que arrancou olhares curiosos de um grupo de amigas sentadas duas fileiras abaixo que soltaram risadinhas para ele.
Elas fofocavam e riam, jogando todo o charme possível para os atléticos jogadores de futebol. Deviam estar imaginando a mesma coisa que ele, sentindo o sangue correr por cada veia do corpo, causando um efeito eufórico e ansioso como quando ele estava nervoso antes de uma apresentação de trabalho misturado com a sensação de ver alguém pelo qual estava apaixonado.
Ele se apaixonava muito fácil. E também era fácil se apaixonar por ele, homens e mulheres. Era alto com seus 1,80 de altura e postura charmosa. Apesar de não ser muito atlético, tinha um porte elegante e esguio, digno de realeza. Os cabelos estavam sempre bem cortados, deixando fios lisos e pretos repicados com leveza que caiam charmosamente nos olhos escuros.
O cabelo era tão brilhante e sedoso que dava vontade de por a mão, só para ver se era de verdade. O rosto era firme e quadrado, porém um pouco delicado, com seus lábios finos e vermelhos e nariz pontudo e perfeito no conjunto. Era um jovem bonito que chamava a atenção de quem ele quisesse: homens, mulheres, gays, bi ou héteros. Era impossível não olhar para ele.
Justamente por isso ele não decidia. Não dava! Com tanta gente o desejando ele não poderia escolher. O ser humano era tão maravilhosamente perfeito e único que ele não podia e nem queria escolher. Ele achava que ter preferências não combinava com ele. Pra quê? Se ele poderia ter tudo!
Não dava para escolher entre aquelas jovens delicadas que clamavam por sua proteção, ou por aqueles homens deliciosos e tão perfeitos quanto ele, que também eram impossíveis de não serem admirados e desejados. Enquanto sorria misteriosamente para as mocinhas sentadas nas fileiras abaixo, observava os jogadores suados e ofegantes.
Ele não precisava se decidir. Queria todos! Estava tão apaixonado pela vida, pelo ser humano, que não pensava em tipos físicos, cor, sexo, não tinha preconceitos. “No fundo é todo mundo igual. Vamos todos ser caveiras que vão acabar virando pó um dia”, pensou ele.
Pegou o celular e marcou um encontro depois da aula com um ex-namorado, mas também amigo colorido, daqueles que sempre quebram o galho. Depois recolheu seus livros de sociologia e desceu algumas fileiras. Foi dar toda a atenção que aquelas belas jovens estavam implorando. Ele não precisava decidir. E definitivamente não iria.
Há o verão! Como ele amava o clima quente, o sol queimando e os temporais momentâneos que só serviam para deixá-lo molhado e com mais calor. Sentado na arquibancada da quadra de futsal da universidade ele babava nas lindas meninas bronzeadas que faziam questão de exibir todas as partes do corpo nessa estação tão caliente.
Essas meninas deixavam-no completamente louco, como se soubessem que usar um vestidinho curto e decotado era o suficiente para fazer cada célula do corpo dele se contorcer de excitação. Até as mocinhas mais branquelas traziam no rosto um ar saudável com bochechas rosadas e nariz avermelhado queimado de sol.
Entretanto, ele não conseguia decidir o que mais mexia com ele. Aquelas belas garotas saradas e bronzeadas e seus longos cabelos brilhando a luz do dia, ou aqueles homens másculos e suados berrando e correndo sem camisa atrás da bola de futebol na quadra coberta.
Aqueles rapazes joviais e cheios de energia enchiam a cabeça dele com pensamentos que sua avó com certeza consideraria muito mais do que pecaminosos. “O Diabo roubou e possuiu meu netinho com pensamentos do inferno!”, diria ela. A imagem da avó maníaca religiosa o fez soltar uma gargalhada que arrancou olhares curiosos de um grupo de amigas sentadas duas fileiras abaixo que soltaram risadinhas para ele.
Elas fofocavam e riam, jogando todo o charme possível para os atléticos jogadores de futebol. Deviam estar imaginando a mesma coisa que ele, sentindo o sangue correr por cada veia do corpo, causando um efeito eufórico e ansioso como quando ele estava nervoso antes de uma apresentação de trabalho misturado com a sensação de ver alguém pelo qual estava apaixonado.
Ele se apaixonava muito fácil. E também era fácil se apaixonar por ele, homens e mulheres. Era alto com seus 1,80 de altura e postura charmosa. Apesar de não ser muito atlético, tinha um porte elegante e esguio, digno de realeza. Os cabelos estavam sempre bem cortados, deixando fios lisos e pretos repicados com leveza que caiam charmosamente nos olhos escuros.
O cabelo era tão brilhante e sedoso que dava vontade de por a mão, só para ver se era de verdade. O rosto era firme e quadrado, porém um pouco delicado, com seus lábios finos e vermelhos e nariz pontudo e perfeito no conjunto. Era um jovem bonito que chamava a atenção de quem ele quisesse: homens, mulheres, gays, bi ou héteros. Era impossível não olhar para ele.
Justamente por isso ele não decidia. Não dava! Com tanta gente o desejando ele não poderia escolher. O ser humano era tão maravilhosamente perfeito e único que ele não podia e nem queria escolher. Ele achava que ter preferências não combinava com ele. Pra quê? Se ele poderia ter tudo!
Não dava para escolher entre aquelas jovens delicadas que clamavam por sua proteção, ou por aqueles homens deliciosos e tão perfeitos quanto ele, que também eram impossíveis de não serem admirados e desejados. Enquanto sorria misteriosamente para as mocinhas sentadas nas fileiras abaixo, observava os jogadores suados e ofegantes.
Ele não precisava se decidir. Queria todos! Estava tão apaixonado pela vida, pelo ser humano, que não pensava em tipos físicos, cor, sexo, não tinha preconceitos. “No fundo é todo mundo igual. Vamos todos ser caveiras que vão acabar virando pó um dia”, pensou ele.
Pegou o celular e marcou um encontro depois da aula com um ex-namorado, mas também amigo colorido, daqueles que sempre quebram o galho. Depois recolheu seus livros de sociologia e desceu algumas fileiras. Foi dar toda a atenção que aquelas belas jovens estavam implorando. Ele não precisava decidir. E definitivamente não iria.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Novos valores
Por Sarah Menezes
Na hora da conquista, Beatriz dava aula de charme, beleza, discrição e sedução. Ninguém resistia.
Se destacava e era sempre a mais cobiçada profissional do sexo no Leblon. Com 1,65m atraía todos os olhares quando calçava um salto 12cm, soltava os negros e longos cabelos que, de tão liso não parava presilha alguma, e se produzia para mais uma noite de trabalho. Tática infalível. Todos a desejava.
Mas Bia era diferente das demais. Escolhia seus homens criteriosamente antes de incluí-los na sua lista de clientes. Tinha que lhe agradar em diversos aspectos, caso contrário, dispensava trabalho mesmo.
Estudante de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a moça de 23 anos era bastante dedicada aos estudos, afinal foram dois anos ralando, durante as horas vagas na pastelaria de seu pai, e estudando freneticamente para passar no vestibular e ir morar na capital.
Esforço recompensado, Beatriz precisava se preocupar com seus gastos de universitária. Todo dia era festa e curtição. Bancar isso não era fácil. As duas colegas com quem dividia o quarto na casa dos estudantes eram mimadas e ganhavam uma gorda mesada dos pais, Bia só recebia o suficiente para se alimentar e pagar pequenas despesas pessoais. Letícia e Fabiana todas as noites convencia Beatriz a ir com elas para baladas enquanto se arrumavam.
Bia começou a não ter mais dinheiro para comer bem todos os dias. Passava a semana comendo macarrão instantâneo para poder conseguir estar presentes em todas as festas. Sua saúde foi ficando frágil, foi internada por anemia, desenvolveu uma úlcera. Decidiu que encontraria uma forma de ganhar dinheiro para manter a saúde e não se sentir envergonhada, incomodada e excluída por não conseguir acompanhar a badalada vida das colegas.
Em uma tarde, quando saiu para passear e fazer os exercícios diários, percebeu que muitos homens também freqüentavam o Leblon, e reparou que a maioria deles se vestiam com roupas caras e iam embora de carro importado. Eles eram atraentes e não paravam de olhar para ela.
Foi quando teve a idéia de seduzi-los e cobrar-lhes por sua companhia e serviço. Com sua beleza estonteante, impunha regras a seus clientes e todos obedeciam.
Não fazia programas com quem não tivesse dinheiro, não fosse casado e nem elegante. Na hora da “H” era ela quem comandava a situação. Deixava os homens loucos e enfeitiçados, pois além dos estudos medicinais, Bia ocupava seu tempo com estudos sobre sexo. Ficou expert no assunto e garantiu a preferência de seus clientes.
As meninas que moravam junto com Beatriz nunca desconfiaram de seu ofício. Até porque não a viam com vários homens diferentes, já que ela era bastante rígida em sua seleção. Além disso, cobrava caro para não precisar fazer vários programas e levantar suspeitas.
Certo dia, em um de seus “encontros”, Bia despertou por Eduardo uma paixão, que foi correspondida. Ele tinha um toque especial que encantou a deslumbrante moça.
Edu era lindo, e obviamente rico. Esbanjava carisma, simpatia e sedução. Beatriz engatou o namoro com o rapaz. Estava perdidamente apaixonada. Parou de trabalhar e Eduardo pagava todas as despesas da amada.
O segredo que o envolvente rapaz escondia era que nunca conseguiu resistir a uma mulher bonita. Jogou todo seu charme e conquistou Fabiana e Letícia. Ambas se tiveram um caso com Edu, afinal ele era irresistivelmente encantador e milionário. Manteve um relacionamento com as três, sem que Bia desconfiasse de ninguém.
Em um maravilhoso e relaxante final de semana em Angra dos Reis, Beatriz teve a maior decepção de sua vida. Ao sair para um passeio de lancha com o amado, esqueceu sua máquina fotográfica em casa, e seu celular estava sem bateria. Bia, com a maior inocência, pois não tinha o costume de vigiar o namorado, pegou o celular dele para registrar aqueles belos momentos. Edu não percebeu que era seu celular que a namorada usava.
Empolgada, ao final da tarde Bia começou a rever todas as fotos que tinha tirado. E sem se tocar começou a ver imagens de outros dias de Eduardo. Para sua surpresa e decepção, ela encontrou uma foto do amado com Fabiana, se beijando. E várias outras, com outras mulheres, onde ele as abraçava e segurava em seu colo. E entre tantas, mais uma apunhalada. Letícia também se envolvera com Edu.
Beatriz foi embora sem que o canalha de seu namorado percebesse. Chegando em casa, foi até o quarto de Fabiana, que estava dormindo, picotou todo o cabelo da traidora. Em seguida, estava em busca de Letícia quando a encontrou no corredor. A garota veio sorridente em direção a Bia e tentou abraçá-la. Beatriz se desviou do abraço e não falou uma palavra sequer. Foi para o quarto, arrumou suas coisas, e quando estava na porta de casa, colocou suas malas no chão, foi até o quarto de Letícia, lhe deu um tapa na cara, virou as costas e foi embora.
A único vestígio que Bia deixou foi um recado para cada um que traiu ela:
“Por que julgar as pessoas sendo que, hipocritamente, no final todo mundo acaba se vendendo por dinheiro, beleza, ou qualquer outro fator?”
Na hora da conquista, Beatriz dava aula de charme, beleza, discrição e sedução. Ninguém resistia.
Se destacava e era sempre a mais cobiçada profissional do sexo no Leblon. Com 1,65m atraía todos os olhares quando calçava um salto 12cm, soltava os negros e longos cabelos que, de tão liso não parava presilha alguma, e se produzia para mais uma noite de trabalho. Tática infalível. Todos a desejava.
Mas Bia era diferente das demais. Escolhia seus homens criteriosamente antes de incluí-los na sua lista de clientes. Tinha que lhe agradar em diversos aspectos, caso contrário, dispensava trabalho mesmo.
Estudante de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a moça de 23 anos era bastante dedicada aos estudos, afinal foram dois anos ralando, durante as horas vagas na pastelaria de seu pai, e estudando freneticamente para passar no vestibular e ir morar na capital.
Esforço recompensado, Beatriz precisava se preocupar com seus gastos de universitária. Todo dia era festa e curtição. Bancar isso não era fácil. As duas colegas com quem dividia o quarto na casa dos estudantes eram mimadas e ganhavam uma gorda mesada dos pais, Bia só recebia o suficiente para se alimentar e pagar pequenas despesas pessoais. Letícia e Fabiana todas as noites convencia Beatriz a ir com elas para baladas enquanto se arrumavam.
Bia começou a não ter mais dinheiro para comer bem todos os dias. Passava a semana comendo macarrão instantâneo para poder conseguir estar presentes em todas as festas. Sua saúde foi ficando frágil, foi internada por anemia, desenvolveu uma úlcera. Decidiu que encontraria uma forma de ganhar dinheiro para manter a saúde e não se sentir envergonhada, incomodada e excluída por não conseguir acompanhar a badalada vida das colegas.
Em uma tarde, quando saiu para passear e fazer os exercícios diários, percebeu que muitos homens também freqüentavam o Leblon, e reparou que a maioria deles se vestiam com roupas caras e iam embora de carro importado. Eles eram atraentes e não paravam de olhar para ela.
Foi quando teve a idéia de seduzi-los e cobrar-lhes por sua companhia e serviço. Com sua beleza estonteante, impunha regras a seus clientes e todos obedeciam.
Não fazia programas com quem não tivesse dinheiro, não fosse casado e nem elegante. Na hora da “H” era ela quem comandava a situação. Deixava os homens loucos e enfeitiçados, pois além dos estudos medicinais, Bia ocupava seu tempo com estudos sobre sexo. Ficou expert no assunto e garantiu a preferência de seus clientes.
As meninas que moravam junto com Beatriz nunca desconfiaram de seu ofício. Até porque não a viam com vários homens diferentes, já que ela era bastante rígida em sua seleção. Além disso, cobrava caro para não precisar fazer vários programas e levantar suspeitas.
Certo dia, em um de seus “encontros”, Bia despertou por Eduardo uma paixão, que foi correspondida. Ele tinha um toque especial que encantou a deslumbrante moça.
Edu era lindo, e obviamente rico. Esbanjava carisma, simpatia e sedução. Beatriz engatou o namoro com o rapaz. Estava perdidamente apaixonada. Parou de trabalhar e Eduardo pagava todas as despesas da amada.
O segredo que o envolvente rapaz escondia era que nunca conseguiu resistir a uma mulher bonita. Jogou todo seu charme e conquistou Fabiana e Letícia. Ambas se tiveram um caso com Edu, afinal ele era irresistivelmente encantador e milionário. Manteve um relacionamento com as três, sem que Bia desconfiasse de ninguém.
Em um maravilhoso e relaxante final de semana em Angra dos Reis, Beatriz teve a maior decepção de sua vida. Ao sair para um passeio de lancha com o amado, esqueceu sua máquina fotográfica em casa, e seu celular estava sem bateria. Bia, com a maior inocência, pois não tinha o costume de vigiar o namorado, pegou o celular dele para registrar aqueles belos momentos. Edu não percebeu que era seu celular que a namorada usava.
Empolgada, ao final da tarde Bia começou a rever todas as fotos que tinha tirado. E sem se tocar começou a ver imagens de outros dias de Eduardo. Para sua surpresa e decepção, ela encontrou uma foto do amado com Fabiana, se beijando. E várias outras, com outras mulheres, onde ele as abraçava e segurava em seu colo. E entre tantas, mais uma apunhalada. Letícia também se envolvera com Edu.
Beatriz foi embora sem que o canalha de seu namorado percebesse. Chegando em casa, foi até o quarto de Fabiana, que estava dormindo, picotou todo o cabelo da traidora. Em seguida, estava em busca de Letícia quando a encontrou no corredor. A garota veio sorridente em direção a Bia e tentou abraçá-la. Beatriz se desviou do abraço e não falou uma palavra sequer. Foi para o quarto, arrumou suas coisas, e quando estava na porta de casa, colocou suas malas no chão, foi até o quarto de Letícia, lhe deu um tapa na cara, virou as costas e foi embora.
A único vestígio que Bia deixou foi um recado para cada um que traiu ela:
“Por que julgar as pessoas sendo que, hipocritamente, no final todo mundo acaba se vendendo por dinheiro, beleza, ou qualquer outro fator?”
quarta-feira, 24 de março de 2010
Blog da Quinzena
Galera, estamos mudando, agora é blog da quinzena! Afinal, os blogs que nós escolhemos são tão bons que merecem uma semana a mais como homenageado!
O dessa quinzena é um blog que inspirou a gente a começar o Delírios: Redatoras de Merda.
Gente, sério, é o máximo! O perfil do blog é bem parecido com o nosso, apenas contos e crônicas. os assuntos são os mais variados, mas geralmente é sobre o que a gente também mais gosta de falar, relacionamentos, coração, amizade.
Vale muitooooooooooooooooo a pena conferir!
sexta-feira, 19 de março de 2010
Pra sempre?
Por Maria Gabriela Brito
Seu coração disparou de uma maneira que parecia estar prestes a sair pela boca. Ele estava logo ali, do outro lado da rua, em frente a uma banca de revistas. Provavelmente comprando cigarros ou uma daquelas revistas que ele gostava, com muita mulher pelada com cara de vadia.
O fluxo de carros era intenso. A via de mão dupla não parava por um minuto sequer naquele horário de rush, às seis da tarde. Ela estava prestes a atravessar para o outro lado quando o avistou. Não podia ser vista por ele de maneira alguma. Ainda bem que o viu a tempo de mudar de caminho.
Engraçado como esses caminhos, que agora não podiam se cruzar, haviam sido o mesmo há um ano. Era um amor sem limites, de infância. Os dois ficaram juntos por sete anos. Eram amigos, irmãos. Cresceram e se descobriram juntos. O que eles tinham era puro, natural.
E foi esse o problema. Juntos desde os 13 anos era impossível não saber exatamente do que o outro gostava, ou queria. Eles nem precisavam trocar palavras para conversar. Pode parecer legal na teoria, mas na prática não funcionava. Quer dizer, para ela sim, e pelo visto para ele não.
Pouco antes de terminarem o namoro, ela descobriu que ele estava saindo com uma mocinha da turma dele na faculdade há cerca de seis meses. Uma de suas amigas fofoqueiras que a havia informado. “A irmã da prima de uma amiga minha é da sala deles”, contou a informante.
Foi demais para acreditar. Ela dedicava-se inteiramente a ele. Tinha prometido toda a sua vida a ele. Não dava para engolir, e ela preferiu fingir que nunca havia escutado nada a respeito, afinal ele continuava o mesmo com ela. Além disso, eles eram feitos um para o outro, e iam se casar assim que terminassem a faculdade.
Foi quando veio a confirmação. Os dois estudavam em lugares diferentes e em horários diferentes, e se viam quase que exclusivamente aos finais de semana. Mas naquele dia ela teve saudades e decidiu fazer aqueles biscoitos que ele adorava para surpreendê-lo no intervalo de suas aulas.
Pelo horário, ele só poderia estar na cantina. E estava mesmo, como sempre. Mas não estava sozinho. O rosto estava a menos de um palmo de distância do rosto da outra. . As mãos entrelaçadas eram quase que uma só, e o olhar era de menino apaixonado. Até havia se esquecido daquele olhar. Doeu ver aquilo, mas foi embora sem falar nada.
Deixou a caixinha de biscoitos com a mãe dele, junto com uma carta terminando tudo. Ele ligou insistentemente para ela por quatro longos e sofridos meses. Procurou-a na faculdade, em sua casa, mas eles não se encontraram. Ela preferiu assim. E agora ele estava ali, apenas a alguns metros dela.
Apesar de não terem mais nada, eles nunca haviam conversado sobre o fim do relacionamento. Ela sofreu sozinha por todo aquele ano em que não se falaram. Mas ela não queria ser vista por ele, não fazia sentido ter que cumprimentá-lo casualmente, como alguém sem importância.
O coração doeu como naquele dia em que o avistou com a outra. E disparou também, daquele mesmo jeito que disparava quando o via chegando perto dela no recreio da escola. Perguntou a si mesma se ele e aquela menina ainda estavam juntos. Torceu para estarem, e para serem felizes.
Mesmo querendo ir embora dali, suas pernas insistiram em ficar alguns segundos travadas. Era ainda mais triste vê-lo e ignorá-lo. Como se sete anos não significassem nada, como se eles nem se conhecessem. Depois que saiu daquele transe, mudou sua rota, e partiu por um caminho contrário ao dele. Ela sabia que ele também iria preferir assim.
Seu coração disparou de uma maneira que parecia estar prestes a sair pela boca. Ele estava logo ali, do outro lado da rua, em frente a uma banca de revistas. Provavelmente comprando cigarros ou uma daquelas revistas que ele gostava, com muita mulher pelada com cara de vadia.
O fluxo de carros era intenso. A via de mão dupla não parava por um minuto sequer naquele horário de rush, às seis da tarde. Ela estava prestes a atravessar para o outro lado quando o avistou. Não podia ser vista por ele de maneira alguma. Ainda bem que o viu a tempo de mudar de caminho.
Engraçado como esses caminhos, que agora não podiam se cruzar, haviam sido o mesmo há um ano. Era um amor sem limites, de infância. Os dois ficaram juntos por sete anos. Eram amigos, irmãos. Cresceram e se descobriram juntos. O que eles tinham era puro, natural.
E foi esse o problema. Juntos desde os 13 anos era impossível não saber exatamente do que o outro gostava, ou queria. Eles nem precisavam trocar palavras para conversar. Pode parecer legal na teoria, mas na prática não funcionava. Quer dizer, para ela sim, e pelo visto para ele não.
Pouco antes de terminarem o namoro, ela descobriu que ele estava saindo com uma mocinha da turma dele na faculdade há cerca de seis meses. Uma de suas amigas fofoqueiras que a havia informado. “A irmã da prima de uma amiga minha é da sala deles”, contou a informante.
Foi demais para acreditar. Ela dedicava-se inteiramente a ele. Tinha prometido toda a sua vida a ele. Não dava para engolir, e ela preferiu fingir que nunca havia escutado nada a respeito, afinal ele continuava o mesmo com ela. Além disso, eles eram feitos um para o outro, e iam se casar assim que terminassem a faculdade.
Foi quando veio a confirmação. Os dois estudavam em lugares diferentes e em horários diferentes, e se viam quase que exclusivamente aos finais de semana. Mas naquele dia ela teve saudades e decidiu fazer aqueles biscoitos que ele adorava para surpreendê-lo no intervalo de suas aulas.
Pelo horário, ele só poderia estar na cantina. E estava mesmo, como sempre. Mas não estava sozinho. O rosto estava a menos de um palmo de distância do rosto da outra. . As mãos entrelaçadas eram quase que uma só, e o olhar era de menino apaixonado. Até havia se esquecido daquele olhar. Doeu ver aquilo, mas foi embora sem falar nada.
Deixou a caixinha de biscoitos com a mãe dele, junto com uma carta terminando tudo. Ele ligou insistentemente para ela por quatro longos e sofridos meses. Procurou-a na faculdade, em sua casa, mas eles não se encontraram. Ela preferiu assim. E agora ele estava ali, apenas a alguns metros dela.
Apesar de não terem mais nada, eles nunca haviam conversado sobre o fim do relacionamento. Ela sofreu sozinha por todo aquele ano em que não se falaram. Mas ela não queria ser vista por ele, não fazia sentido ter que cumprimentá-lo casualmente, como alguém sem importância.
O coração doeu como naquele dia em que o avistou com a outra. E disparou também, daquele mesmo jeito que disparava quando o via chegando perto dela no recreio da escola. Perguntou a si mesma se ele e aquela menina ainda estavam juntos. Torceu para estarem, e para serem felizes.
Mesmo querendo ir embora dali, suas pernas insistiram em ficar alguns segundos travadas. Era ainda mais triste vê-lo e ignorá-lo. Como se sete anos não significassem nada, como se eles nem se conhecessem. Depois que saiu daquele transe, mudou sua rota, e partiu por um caminho contrário ao dele. Ela sabia que ele também iria preferir assim.
terça-feira, 16 de março de 2010
Blue Key
Por Mônica Salmazo
Camila já não entendia como fora parar ali. Tudo parecia tão distante agora. Olhava-se no espelho e não acreditava que aquela carinha de menina ainda estava ali apesar de todos os anos que se passaram.
“Como eu sou velha para uma garota de apenas 20 anos” – disse para si.
A essa altura tudo começara a ser questionado. Teria feito a coisa certa?
Estava passeando no shopping com as amigas naquele dia. A calça era novinha em folha e, apesar de não ter dinheiro algum, conseguira comprá-la na promoção de ponta de estoque em algumas vezes no cartão da mãe.
Tentava se manter sempre atualizada, na moda, na “onda”. Apesar de ser a única de classe média da turma ela tentava de tudo para parecer “cool” como as outras garotas de sua idade.
Camila não era grande coisa, mas sua estatura chamava atenção.
“Não agüento mais ser a girafa da turma, por que eu tenho que ser tão alta com apenas 13 anos hein?” – perguntava para Aline, sua melhor amiga.
“Não sei do que você reclama, quando você ficar mais velha vai agradecer ser alta assim, dizem que encolhemos quando velhos” – respondeu a amiga. Detalhe: era muito baixinha para sua idade.
Na praça de alimentação do shopping havia uma sorveteria onde as meninas foram sentar e conversar. Ela não sabia, mas sua vida estava para mudar.
“Oi, meu nome é George, gostaria de entrevistá-la” – disse de repente um homem alto com mechas azuis no cabelo e um anel grande de caveira, vestia um blazer preto com uma calça jeans bem alinhada com o sapatênis.
“Porque me entrevistar? Eu sou motivo de sarro agora?” – respondeu ela.
“Modelo, acho que você pode se tornar uma. E das boas.”
“Mas para isso tem que ser perfeita, eu não sou isso aí.”
“A perfeição não existe, tudo é criado pelo homem querida.”
E agora estava ali, parada em frente à janela onde vazava o cheiro gélido dos jardins do Chateau Frontenac. Ao longe as luzes de natal eram incontáveis nos Champs-Elysees e nas avenidas que cobriam Paris. Será que teria feito a coisa certa?
Quando tinha 13 anos fez sua primeira aparição: uma revista local. As fotos ficaram ótimas e George resolveu levá-la para São Paulo. Tudo fora difícil no começo, havia completado 14 anos a pouco tempo e ainda não sabia o que deveria fazer. Mas George cuidou bem dela, ensinou a desfilar, a estudar moda, postura, etiqueta, construiu um network para ela e até mesmo a levava para passear e fazer compras.
Com o tempo ela fora crescendo, tanto de tamanho como no mundo da moda. Suas fotos já eram estampadas em revistas como Nova, Cláudia, Capricho, TPM e Marie Clair, entre outras. A imagem de mulher já formara uma pequena menina de 15 anos. Ela já era desejada e poderosa de acordo com as entrevistas, revistas, fotos e blogs da internet.
Não suportava essa vida de modelo, odiava ter que ficar longe das amigas e da família. Dois anos se passara, mas ela não acostumara-se com tudo isso, na verdade só agüentava por que algo maior a prendia ali: George.
Com seu jeito de vestir ele tentava aparentar ser mais velho do que era, mas 25 já era uma idade meio “avançada” para uma garotinha de 15 anos, e uma idade elevada para um modelo, por isso virara produtor. Ela não se importava com isso. E nem ele.
Entre os desfiles na passarela e algumas seções de fotos, os dois começaram um caso de amor, de confiança, de cumplicidade e sexo. A fama era cada vez maior, entrevistas para revistas comoVanity Fair, Vogue, Cosmopolitan, People, Loggia, Elle e etc. eram comuns. Desfiles para grifes internacionais era cotidiano: Dolce & Gabbana, Louis Vuitton, H&m, Hermes, Gucci, Cartier, Zara, Chanel, Esprit.
Em pouco tempo Camila conheceu o mundo inteiro, desde coquetéis em luxuosos hotéis em Paris, como festas em Tokyo, reuniões em New York , resorts em Sydney, passeios em Londres, compras em Milão, México, Peru, Rússia, Alemanha, Tailândia, África do Sul, Marrocos, Grécia, Espanha... ela era famosa e rica, finalmente rica.
George estava estranho agora que ia se formar na Scuola Leonardo da Vinci em Milão, resolvera virar estilista para lançar sua grife. Camila o apoiava em todos os aspectos. Chegou a fazer sucesso nas festas em que ia com algumas das roupas que ele desenhara exclusivamente para ela. Mas ele estava diferente.
Com o tempo sua vida de modelo foi aumentando na Europa, era o auge da sua carreira, agora tinha 18 anos e tudo em suas mãos, ou quase tudo.
“Vou me mudar” – anunciou George.
“Para onde vamos?” – respondeu ela.
“Eu vou. Você fica.”
“Não estou entendendo George” – a voz aflita saía de sua boca.
“Você precisa ficar aqui. Sua vida está aqui na Europa. Estou me mudando para os Estados Unidos, pretendo terminar meus estudos por lá, recebi uma ótima proposta.”
Apesar das lágrimas começarem a congestionar seus olhos e a garganta, ela se virou e foi trabalhar. Ela sabia que ele não estaria lá quando ela voltasse, mesmo assim seguiu adiante. Sua vida deveria seguir em frente, ela não deveria ficar sempre à sombra de George.
Agora que voltara para o quarto de hotel em Paris percebera o quanto tudo estava silencioso e, pela primeira vez em anos, se sentiu abandonada, solitária, triste. Era dezembro e a cidade estava repleta de neve e, mesmo com a baixa temperatura, abriu uma das janelas e ficou admirando os Champs-Elysees. Teria feito a coisa certa?
Teria tomado a decisão certa quando cedeu aquela primeira entrevista à George? Ou quando os pais a deixaram seguir sua carreira? Quando abandonou a família e as amigas para ir em busca de um sonho?
Sonho. Agora que estava sozinha não parecia tão bom. Era uma mulher magra demais, alta demais, triste demais. “Nada disso foi o que eu imaginei pra mim.”
Agora não tinha volta, tudo já havia acontecido, a solução era seguir em frente.
Passados três anos a grife de George fazia fama mundial, Du Poir era uma das marcas mais caras do mundo. Tudo havia sido superado. “O jovem estilista George Du Poir foi encontrado morto hoje em seu apartamento na Quinta Avenida de New York.Segundo relatório da polícia ele sofrera um ataque cardíaco enquanto dormia...”
As palavras entraram em sua mente como mil facas cortando sua pele. O coração pulsava enquanto ela tentava encontrar um lugar onde sentar.
“E agora?”
Seu celular toca e ela vê a mensagem recebida: “Querida, você sabe que eu sempre te amei, está na hora de te dar todo o esforço da minha vida. Espero que goste. Do seu amado George”.
Sem dizer uma palavra ela abriu a porta que era socada por um homem alto e de aspecto doentio.
“A Senhorita é Camila?”
“Sim”
“Isto é para a senhorita” – entregou um envelope com uma chave. Uma estranha chave em formato de borboleta azul com pedras azuis e detalhes dourados. Dizia: “BOX 45, PORTO DA MARINHA”.
Aos tropeços ela correu para lá. Em um daqueles enormes containers havia uma fechadura prata. Ela esperou alguns minutos, com medo de ver o que havia dentro. Ficou ali observando-o calada, ouvindo as ondas baterem contra os navios ancorados no porto. Seu sono foi leve e agradável. George aparecia nele. Nunca se esquecera. Nem um minuto sequer.
Quando acordou era tarde. Tudo estava escuro. Ela finalmente resolveu abri-lo. Com um clique suave as portas foram destrancadas e lá dentro, havia toda a coleção de roupas que George desenhara. Todas com desenhos rabiscados em uma modelo perfeitamente como ela. Aliás, era ela.
Tudo o que fizera durante estes anos foi desenhar roupas e acessórios que combinariam com Camila, com seu jeito, com seus pensamentos, ações, atitudes, movimentos e etc. E mesmo que tudo fosse sombra, Camila sabia que não estava sozinha. Nunca esteve. George sempre iria amá-la.
Camila usou em seu casamento o vestido que o ex-namorado fizera. Abandonara a vida de modelo, estava farta de aparentar ser o que não era, de passar fome, de ficar noites sem dormir, meses sem ver a família e tudo isso pra quê? Para ensinar às jovens que ser bela é ser magra, alta, rica, sensual, poderosa, inteligente... perfeita?
“A perfeição não existe, tudo é criado pelo homem querida”.
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